Indígenas realizam intercâmbio com o Assentamento do MST, Luiz Beltrame, em Gália

Na visita, assentados e indígenas debateram questões relacionadas à agroecologia e à agrofloresta
Assentamento Luiz Beltrame recebe visita de indígenas das etnias Tupi Guarani, Terena, Guarani e Tupi Kayova. Fabio Comin

Por Filipe Augusto Peres
Da Página do MST

Nesta sexta-feira (29), o assentamento Luiz Beltrame, em Gália-SP, recebeu a visita de 17 indígenas das etnias Tupi Guarani, Terena, Guarani e Tupi Kayova, do município de Avai/SP. Os indígenas vieram conhecer as experiências do assentamento em agrofloresta, produção de alimentos saudáveis e comercialização direta das cestas realizadas pelo MST.

A visita aconteceu após o contato do Instituto Pró Terra com o assentamento da Regional de Promissão. Genilson Marcolino, Guarany-Nhandeva da Terra Indígena Araribá, afirmou que o dia “foi muito gratificante, mais ainda unindo forças com os nossos irmãos do assentamento, que produzem alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e que oferece vida para as pessoas da cidade através de seus SAFs”. O indígena agradeceu a todos que lutam por uma vida mais saudável e sustentável, em harmonia com o meio ambiente.

Para o professor e pesquisador do Instituto Pró Terra, Dr. Fábio Comin, os companheiros da Terra Indígena Araribá, com representantes das aldeias Kopenoti, Tereguá, Nimuendaju e Ekerua, tiveram um dia de campo com muito aprendizado coletivo.

“Tivemos um dia de campo com muito aprendizado coletivo, trocas de experiências em agroecologia, fortalecendo a luta por uma agricultura mais harmônica e solidária. O dia de hoje passou a ter novos significados e, unidos nesse ideário, acreditamos que é possível viver de forma justa na terra. Agradecemos os companheiros do MST e a todos do assentamento Luiz Beltrame”, afirmou.

Durante a visita, na parte da manhã, ocorreu uma mesa de debate que levantou temas como a conjuntura e o enfrentamento ao agronegócio, a tendência da acumulação e concentração de terras no Brasil e os princípios da agrofloresta e o cuidado com o solo e a mãe terra. Os visitantes participaram também de uma prática de manejo e plantação de hortaliças no sistema agroflorestal.

Após um almoço fruto da reforma agrária e da cultura agroflorestal, a mesa de debates levantou assuntos como os desafios e práticas para a transição agroecológica, produzindo agrofloresta e as práticas da revolução verde e a sua produção destrutiva na agricultura.

Ângelo Diogo Mazin, militante do MST/SP e assentado no P.A. Luiz Beltrame, falou sobre a importância destas visitas. “Para nós, Sem Terra, a visita das comunidades das aldeias indígenas de Avaí fortalece nosso debate e nossas práticas na produção de alimentos saudáveis, na conservação da vida no e do solo, nas iniciativas que estamos desenvolvendo a partir da comercialização direta através das Feiras e Cestas. Enfrentamos, praticamente, as mesmas contradições. Dentre elas a perversa estrutura agrária brasileira, onde a cada ano, no Brasil, a propriedade privada da terra está cada vez mais concentrada e centralizada nas mãos de grande grupos nacionais e transacionais”.

O dirigente regional ainda afirmou que cuidado com a terra é um tema que aproxima os integrantes do MST dos indígenas. Para ele, esse intercâmbio serviu para ensinar como produzir alimentos saudáveis, respeitando os ciclos e a natureza, e como comercializar a produção a um preço justo para os trabalhadores das cidades. Além disso, Diogo lembrou que a produção agroecológica possui a sua ancestralidade nos povos originários. “A agroecologia e a agrofloresta tem suas ancestralidades. E compartilhar todo esse conhecimento com os povos indígenas de Avaí foi uma grande experiência”.

No final da visita, o assentamento Luiz Beltrame presenteou os convidados com os livros “Dialética da Agroecologia”, de Luiz Carlos Pinheiro Machado e “Agroecologia e os desafios da transição agroecologica”, de Sérgio Sauer e Moisés V. Balestro, além de uma cartilha sobre solos tropicais de Ana Primavesi.

*Editado por Fernanda Alcântara