Ouvir a relva do campo crescer: MST realiza Jornada de Formação e Trabalho de Base

Jornada tem caráter permanente e fará um profundo diagnóstico para mostrar quem é o MST da atualidade

Por Geanini Hackbardt

Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notícia de que o mundo,
o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.
(Mundo Grande, Carlos Drummond de Andrade)

A Coordenação Nacional do MST debateu, nesta quarta-feira (23), os desafios internos do Movimento na preparação para o enfrentamento ao governo Bolsonaro. Após realizar um balanço da organização, os 500 delegados presentes na reunião, que acontece em Sarzedo (MG), assumiram o compromisso com a Jornada Nacional de Formação e Trabalho de Base. 

“As condições materiais apontam para a necessidade da batalha ideológica. Ganha mais espaço a formação da consciência como a frente dessa luta. Precisamos encontrar métodos e formas organizativas para superar os desafios da implantação do programa nacional de formação”, explica Geraldo Gasparin, dirigente nacional do Setor de Formação.

A jornada é de caráter permanente e vai fazer um profundo diagnóstico para mostrar quem é o MST da atualidade, suas características, limites e potencialidades. O objetivo principal é fortalecer a estratégia da reforma agrária popular no campo organizativo, apontando para os quarenta anos do MST.

“Só vamos saber quem nós somos, se fizermos um trabalho profundo e sincero. Ouvir nosso povo, reconhecer nosso povo e devolver suas próprias ideias dando sentido para a luta política. Apontar para a revolução que não se determina em nosso momento histórico, ela segue por anos”, destaca o dirigente.

“O trabalho e a formação de base territorializaram o MST. Se essas duas não estivessem na nossa origem, o MST não seria o que se tornou. Seríamos uma outra coisa”, descreve Gasparin. “Então, essa jornada será um grande encontro de gerações do Movimento. Os fundadores, com a sabedoria e a experiência dos 36 anos do MST; a militância e os dirigentes atuais, com sua capacidade organizativa; e a juventude que tem o vigor e a força das ideias”, completa.

A cada mudança na conjuntura política o movimento se reinventa para seguir conquistando a terra. Com as ameaças e a criminalização de Bolsonaro, este tem sido o principal desafio. Por isso a Jornada propõe radicalizar na prática dos princípios organizativos e nos valores socialistas, para avançar na organicidade, projetar a nova militância e fortalecer o nível de consciência do conjunto.

Liu Durães, dirigente do MST na Bahia, avaliou que o movimento esperava ataques de Bolsonaro desde sua eleição. Portanto, “alimentar a mística revolucionária é fundamental para que a gente possa se jogar nesse momento e enfrentarmos as dificuldades”, explica.

“Vamos mostrar que este MST, que produz alimentos, faz feiras e festivais, e a sociedade gosta, é o mesmo que ocupa terras. Estes alimentos são frutos da nossa luta”, completa Durães. Para finalizar, ela parafraseou Brecht, “na dúvida, contemos nós uns com os outros. Na dúvida lutemos”.

A jornada já iniciou, com os processos de decisão política intersetoriais, que definiram a natureza da jornada e os cursos de formação de formadores nas grandes regiões. O próximo passo são as escolas de militantes para formação massiva. Ou seja, a jornada já é uma expressão do conjunto da militância do MST.

*Editado por Yuri Simeon