Índígenas do Jaraguá ocupam área de empresa imobiliária e denunciam crime ambiental em São Paulo

Área ocupada é vizinha de aldeia e possui mata nativa, desmatamento ilegal está sendo realizado para construção de um condomínio. Indígenas que denunciam o crime ambiental podem ser despejados hoje pela PM
Como protesto, indígenas plantaram 200 mudas de árvores nativas na área desmatada / Fotos TI Jaraguá

Coletivo de Comunicação MST/SP

Na última quarta-feira (5), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra prestou solidariedade à ocupação feita pela Terra Indígena do Jaraguá, etnia Guarani, no terreno vizinho à aldeia no Pico do Jaraguá, em São Paulo (SP). Na madrugada do último dia 30, a comunidade ocupou a área pertencente à empresa Imobiliária Tenda e barrou as obras de construção de um condomínio, a fim de denunciar a especulação imobiliária e o desmatamento cometido no local. Polícia Militar foi acionada para cumprir ordem de despejo na manhã de hoje (6).

Ao entrarem na área, após o constante barulho das motosserras, os guaranis constataram que cerca de 4 mil árvores já haviam sido derrubadas. Com a ocupação, as obras foram suspensas temporariamente, e os indígenas montaram um acampamento no terreno. Está sendo articulada uma negociação com a Funai, a Prefeitura e o Ministério Público, fiscais da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) visitaram o local, constatando irregularidades.

A obra desrespeita, inclusive, a normativa que estabelece a distância mínima do território indígena, estabelecido nesses casos, além do desmatamento do fragmento de Mata Atlântica. Mesmo assim, o batalhão da Polícia Militar foi acionado para cumprir com ordem de despejo na manhã desta quinta-feira (6), após 200 mudas de árvores nativas serem plantadas no local para recuperação da floresta derrubada pela construtora.

A ação propõe implantação de uma reserva ecológica e memorial da cultura Guarani M’bya no local / Fotos TI Jaraguá

A ocupação também visa à articulação política e visibilidade da luta dos guaranis na região. O MST se colocou à disposição da comunidade, doou alimentos e se comprometeu em fortalecer a rede de denúncia do crime ambiental e étnico que a empresa Tenda está cometendo no Jaraguá. A comunidade Guarani denuncia que há planos de construção de vários outros condomínios como este próximo ao Jaraguá no eixo Anhanguera-Bandeirantes.

Em nota, a comunidade guarani também explica que a obra é considerada uma afronta à Mãe Natureza, aos animais, às entidades espirituais e aos encantados, além de caracterizar um desastre à percepção da cosmovisão indígena, seus preceitos religiosos e modo de vida. Ainda de acordo com a nota, o objetivo da ocupação é barrar a continuidade do desmatamento e impedir a construção do condomínio de prédios (05 torres para moradia de aproximadamente 800 famílias), que consequentemente afetaria de maneira fatal o modo de vida da comunidade Guarani que já vivem num território muito menor do que o original.

A ação também propõe a implantação de uma reserva ecológica e memorial da cultura Guarani M’bya no local, para usufruto público da comunidade.

Imobiliária responsável pelo desmatamento da área possui entre seus acionistas o Banco Itaú e Jorge Lemann, dono da AmBev / Fotos TI Jaraguá

A Tenda Negócios Imobiliários S.A.

Construtora de capital aberto, que tem entre seus acionistas o Banco Itaú e o dono da AmBev, Jorge Lemann (um dos homens mais ricos do mundo), a empresa denunciada pelos guarani possui um faturamento médio superior a R$300 milhões, sobretudo executando obras do Programa Minha Casa Minha Vida.

A comunidade indígena afirma que o terreno de pouco mais de 3 hectares no Jaraguá foi adquirido para a construção de um condomínio, segundo a Prefeitura de São Paulo, para atender cerca de 800 “moradias populares”.

Na tarde desta quarta-feira (05), quatro viaturas chegaram ao local, juntamente com oficiais para notificar as mais de 100 famílias para saída imediata ou com uso da força policial. O poder público, ao priorizar os interesses de especuladores imobiliários, está agindo em favor da destruição de uma grande área preservada de Mata Atlântica e colocando em risco uma comunidade inteira de povos originários, já tão afetados pelo avanço da cidade sobre suas terras.

*Editado por Yuri Simeon