Carnaval é tempo de reafirmar as dimensões da luta

A presença do MST no carnaval é pensada através da perspectiva da luta do campo e da cidade
Carnaval de Olinda / Divulgação

Da Página do MST

Do Congresso Nacional para o sambódromo, das bancadas para as ruas e blocos, não é de hoje que o carnaval reflete as críticas sociais e políticas do país, no entanto, o aumento da polarização política no Brasil fortaleceu esta tendência.

MST Folia das ruas de Prado, na Bahia


Na avenida, durante o carnaval de 2019, além da campeã Mangueira, o Paraíso do Tuiuti deu o seu recado e a São Clemente retomou sua veia debochada ao criticar a comercialização excessiva do carnaval sem se esquecer do prefeito carioca, Marcelo Crivella (PRB).


A inclinação repercutiu também em São Paulo em escolas como a Águia de Ouro, Vai-Vai e Acadêmicos do Tucuruvi que trouxeram temáticas politizadas e, em suas alas, protestaram contra a reforma trabalhista e pediram igualdade entre gêneros e raças.


Para o historiador, pesquisador e compositor, Luiz Antonio Simas, o carnaval – ao contrário do que a gente imagina – é uma festa de tradição politizada na história brasileira.


“Eu costumo dizer uma coisa que eu acho que é chave para que possamos entender o carnaval. Então, você pega, por exemplo, os carnavais do século 19, eram festas que problematizavam a abolição da escravatura e disputa pela terra”, diz.


Carnaval Sem Terra


O MST no carnaval demonstra a capacidade que o povo Sem Terra tem para lutar e fazer festa. Essa potência pode ser vista de norte a sul do país. Seja nos acampamentos ou nos assentamentos de Reforma Agrária a luta anda de mãos dadas com a alegria. Nada é mais potente e transgressor do que fazer do riso frouxo um alimento para alma em tempos difíceis.


“Em momentos sombrios como os que vivemos a alegria é fundamental para que possamos nos impulsionar e nos redescobrir enquanto Movimento”, afirma Guê Oliveira, do setor de cultura do MST.

Bloco Sem Terra / Divulgação


Na mesma linha Simas lembra: “O carnaval é uma festa que satiriza, que lida com a galhofa, com o simulacro, então. Não é um momento de alienação porque essa sempre foi uma festa que esteve relacionada à política seja como adesão ou como resistência”.


A presença do MST no carnaval é pensada através da perspectiva da luta do campo e da cidade. É tempo de recriar as dimensões da luta. A alegria de estar junto e de compartilhar a vida é demanda séria em tempos de fascismo.


Seja nas ladeiras de Olinda, nas ruas e avenidas do Rio ou São Paulo, em Minas com a estreia do bloco Pisa Ligeiro, na Bahia, Alagoas ou Maranhão o Movimento Sem Terra está presente. De norte a sul desse país é preciso reafirmar que alegria é revolucionária, o obscurantismo não tolera a felicidade. É preciso rir, brincar e fazer disso uma reverência ao que chamamos de resistência.