Ciranda garante formação e diversão para crianças no Encontro das Mulheres Sem Terra

Mais de 180 meninas e meninos participam do espaço que vai além do apoio dado às mães participantes do evento. As Cirandas Infantis do MST se consolidam como ambientes de formação voltados às crianças do Movimento
Fotos: Manuela Martinoya

Por Thays Puzzi,
Da Unicopas

Os brinquedos se misturam aos pés espertos que cobrem a lona preta estendida ao chão. Corre para lá. Pula para cá, amarelinha. As mãos colam, os olhos assistem, os ouvidos atentos vão enchendo o coração daquilo que o grito transborda: somos Sem Terrinha! São crianças de três meses a 12 anos, 180 no total, que participam do I Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra, que ocorre em Brasília até a próxima segunda-feira (09). 

Vindas de diversas regiões do Brasil, as crianças se juntam às 44 educadoras e educadores populares para vivenciarem momentos de diversão e formação. “No início, há 36 anos quando as Cirandas Infantis do MST surgiram, o principal objetivo era possibilitar a participação dos pais, especialmente das mães, nas atividades de formação do Movimento. Mas hoje a nossa principal preocupação são as crianças. Este é o espaço delas. Pensar um encontro do Movimento e não pensar as Cirandas não representa a coletividade. Hoje, a gente pensa este espaço mais pela criança do que pela mãe”, destacou Flávia Tereza da Silva, uma das coordenadoras da Ciranda Infantil que ocorre no evento. 

Ela que faz parte da direção do Setor de Educação de Pernambuco, explicou que a metodologia adotada aborda três dimensões consideradas importantes para o desenvolvimento de uma criança: a lúdica – que mantém as brincadeiras, as músicas, a diversão livre -, a educativa – para que não se distanciem do ambiente escolar, elas e eles manuseiam tintas, lápis e realizam oficinas -, e a dimensão política – que traz a luta, trabalha o que é o MST, a bandeira, do porquê da realização do evento. 

As atividades são pensadas e estruturadas a partir da idade das crianças que são divididas conforme as faixas etárias: de zero a um ano; de um a dois anos; de três a cinco anos; de seis a oito anos; e de nove a 12 anos. 

Iraci Salete Strozake, Marielle Franco, Maria Carolina de Jesus, Pequena Vanessa, Frida Kahlo e Dandara são as mulheres homenageadas pela Ciranda do Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra. Cada turminha recebeu o nome de uma delas. “Todas as cirandas nacionais levam o nome de Paulo Freire. Isso é uma forma de homenageá-lo e defendê-lo, principalmente neste atual governo que denigre a imagem de Paulo Freire e, com isso, acaba denegrindo a imagem do educador popular que somos nós”, contou Flávia. 

Para ela, que contribui com as Cirandas há 20 anos, esses espaços promovem, antes de tudo, a construção do ser Sem Terrinha. “Eu me sinto muito gratificada de poder compartilhar esse espaço com as nossas crianças e falar da nossa luta, da nossa mística e perceber que essas crianças vão crescendo e vão defendendo o Movimento e se autodefendendo na sociedade também. Este é um momento muito simbólico para nós porque é o primeiro encontro nacional das mulheres, com o protagonismo das mulheres, mas também com o protagonismo da infância”. 

A amizade que nasce do encontro 

Elas saem da sala juntas e de mãos dadas. Como naquela frase “ninguém solta a mão de ninguém”, elas se apoiam e dão força uma a outra para encarar a entrevista. Elas permanecem de mãos dados durante toda a conversa. 

As duas têm 10 anos, as duas carregam aquele brilho disfarçado na timidez típico da idade. Manuelly veio de Minas Gerais. Natália de Mato Grosso do Sul. Elas que já são praticamente veteranas em Cirandas, não se conheciam. Foi no capital federal, durante um marco na história do Movimento, que elas selaram amizade. Uma amizade fruto do encontro. Feita no encontro. 

Manuelly disse que adora as brincadeiras e as professoras. O sinal positivo de Natália endossa o sentimento da amiga. Ambas dizem que gostam desse movimento. “Minha mãe fica feliz aqui”. Apesar de a viagem ser cansativa, ambas afirmaram que vale o esforço. Enquanto uma tem na vida no campo o sinônimo da liberdade: “na cidade é muito perigoso. Lá no assentamento eu corro, brinco”.  A outra sonha em ter a própria terra: “mas não terra roubada, tia. Terra conquistada”. 

* Edição: Ednubia Ghisi