Mulheres se destacam na cadeia produtiva da mandioca na região Amazônica
Por Mariana Castro
Da Página do MST
Resistente à seca e todos os tipos de intempéries, a mandioca tudo dá. E pelas mãos de mulheres assentadas da região amazônica tem rendido produtos diversos, desde farinha até o fornecimento de matéria-prima para cerveja. Os produtos são destaques nos tabuleiros da mostra de produtos da reforma agrária do I Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra: em farinha de puba, farinha temperada, tapioca, tucupi e Magnífica, cerveja maranhense produzida com mandioca da agricultura familiar.
O historiador Câmara Cascudo já dizia: a mandioca é rainha do Brasil – e o reinado permeia as regiões do Norte e Nordeste que, juntas, são responsáveis por mais de 60% da produção nacional de mandioca, conforme dados da Embrapa, de 2018.
Há pouco mais de um ano, o assentamento Cristina Alves vive uma nova realidade. Localizado em Itapecuru-Mirim, Maranhão, lá residem cerca 110 famílias e todas estão direta ou indiretamente envolvidas no processo de produção, cultivo e beneficiamento da mandioca. Hoje o produto de maior destaque é a farinha, que em dezembro de 2019 recebeu o selo estadual ‘Gosto do Maranhão’, que garante maior qualidade e possibilidades de comercialização.
“Percebemos que muitas mulheres estão agregando renda, gerando valor e melhorando a sua qualidade de vida no campo. Dos nossos cerca de 9.000 beneficiados pelo Plano Mais IDH, mais de 70% são mulheres. Elas estão organizadas coletivamente, estavam na extrema pobreza e hoje já conseguem gerar renda, alimentar suas famílias e fornecer para mercados institucionais. Temos intensificado e fomentado os coletivos de mulheres, que são aguerridas e entendem a sua importância nesses espaços”, explica Loroana Santana, presidenta da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão (Agerp), que participa do Encontro Nacional em nome do governo do Estado.
Uma das produtoras dessa área é Regina Costa, que não se intimida com a enxada em punho ou a barriga nas quentes fornalhas de farinha. “É pesado produzir, mas é um alívio muito grande saber o que a gente coloca na mesa do nosso filho, da nossa família. Lá no Cristina Alves as mulheres participam desde o descasque da mandioca até a finalização dos produtos e comercialização. Fazemos farinha, tapioca, tucupi… e não perdemos nada da mandioca. Com a casca fazemos ração alternativa para as galinhas, os porcos. É um sonho realizado poder nos alimentar do que produzimos e poder oferecer alimentação saudável a outras pessoas”.
No estado do Pará são mais de 4.000 famílias assentadas que de alguma maneira estão relacionadas à cadeia produtiva da mandioca. O beneficiamento se destaca nos assentamentos Frei Henri, Eduardo Galeano, 26 de Março e Palmares, com o apoio de cooperativas e do Coletivo Flor de Carajá, que trabalham com o propósito de garantir condições de cultivo e comercialização. “Algumas vezes as mulheres até tem o produto, mas falta um carro que leve elas às feiras e outras possibilidades de comercializar, então há um esforço da direção e dos coletivos nesse sentido”, explica Sirlene Ferraz, conhecida como ‘Sisi’ e assentada em Palmares.
Para a assentada, historicamente os homens assumem a função de produção no campo, mas as mulheres têm garantido seu protagonismo no cultivo e no beneficiamento da mandioca, que no Pará rende especialmente farinha de puba, tapioca e tucupi. “Esse processo influencia diretamente na autonomia das mulheres, que conquistam uma renda própria e melhores perspectivas de vida”, avalia.
O suor e as conquistas das mulheres Sem-Terra da região amazônica compõem as apresentações da ‘Troca de Experiências Balaio de Saberes’, que acontece na tarde deste sábado (7), durante o Encontro. A troca é um dos pilares do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e acontece em todos os encontros do movimento, permitindo o intercâmbio de diferentes experiências nos acampamentos e assentamentos de todo o Brasil e o fortalecimento do setor de produção.
*Edição: Ednubia Ghisi