Mulheres Sem Terra ocupam as ruas de Juazeiro (BA) contra políticas do governo Bolsonaro

Ação denuncia às políticas de privatização das terras e das águas implementadas pelo governo Bolsonaro, através do Incra e da Codevasf
MST Juazeiro Bahia
Foto: Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

Na manhã desta segunda-Feira (9), mais de 600 mulheres Sem Terra ocuparam as ruas da cidade de Juazeiro (BA), em repúdio às políticas de privatização das terras e das águas implementadas pelo Governo Bolsonaro para o campo. A ação faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres pela Reforma Agrária, marcada por mobilizações em todo o Brasil.

Elas denunciam a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o governo federal pelo não cumprimento do acordo de assentar 800 famílias Sem Terra, conforme termo de acordo celebrado em 2008, entre a Casa Civil, a Secretaria Geral da Presidência da República, a Codevasf, o Incra, a Ouvidoria Agrária Nacional e as famílias Sem Terra.

Segundo Naiara Santos, da direção estadual do MST, “a jornada de lutas das mulheres se intensifica no mês de março. Esse ano com o lema ‘Mulheres Sem Terra, Semeando Resistência’, traduz o que passamos diariamente em razão do patriarcado. Temos mais de 3.500 companheiras em Brasília lutando por nossos direitos, que estão sendo arrancados de nós, e hoje estamos aqui em Juazeiro lutando também e semeando a resistência que a mulher tem, principalmente a mulher Sem Terra”.

“O desgoverno de Bolsonaro tem afligido cada vez mais as mulheres, sejam elas do campo ou da cidade, e nossa ação hoje é um grito em alto e bom som, afirmando que não permaneceremos inertes frente aos desmandos e retrocessos, continuaremos em luta e semeando resistência”, finaliza.

Para as trabalhadoras Sem Terra “o governo federal, através de empresas como Codevasf e o Incra estão perseguindo e despejando as famílias Sem Terra acampadas no perímetro irrigado às margem do Rio São Francisco, com o objetivo de privatizar os bens naturais e entregar para o capital financeiro internacional”, afirmam as trabalhadoras.

No dia 25 de novembro de 2019 mais de 650 famílias foram despejadas violentamente dos acampamentos Abril Vermelho, em Juazeiro, Iranir de Souza e Irmã Dorothy, em Casa Nova. Vários tratores da Codevasf, escoltados pela Polícia Federal, destruíram casas, escolas, igrejas, postos de saúde e as plantações das famílias.

Para Fátima Santos, da direção estadual do MST, “a ação é uma das formas que as famílias Sem Terra encontraram para exigir das autoridades, em nível estadual e federal, em especial a Codevasf e o Incra, o respeito e o devido cumprimento do acordo firmado em 2008, assentando definitivamente as 800 famílias acampadas”.

“A ação de despejo da Codevasf junto com o governo federal teve caráter de perseguição, causando muito sofrimento às famílias e afetando diretamente a economia local dos municípios de Sobradinho, Juazeiro e Casa Nova. Pois, as famílias acampadas tinham uma produção diversificada de frutas, verduras, caprinos e psicultura que abastecia as feiras locais e o Mercado de Produtos de Juazeiro, aportando a economia mais de R$ 14 milhões por ano”, explica Santos.

Perímetros irrigados – privatização das terras e das águas

Os perímetros são fruto do processo de transposição do Rio São Francisco, cujo objetivo é levar as águas do manancial aos pequenos agricultores e às comunidades carentes, porém, na prática, esse ideal não se concretiza.

Existe toda uma cadeia do agronegócio que disputa as áreas do perímetro com as famílias Sem Terra. Esse processo de disputa na via institucional tem travado o desenrolar das negociações com a Codevasf para garantir as diversas e reiteradas desapropriações.

Exemplo disso foi a última invasão da Polícia Federal aos acampamentos Abril Vermelho, Irmã Dorothy e Iranir, nos municípios de Casa Nova e Juazeiro, no dia 25 de novembro de 2019. Na ocasião, os policiais utilizaram violentamente da força, destruindo casas, escolas, lavouras, deixando um cenário de desolamento e guerra.

Buscando garantir seus direitos, em abril de 2007, cerca de mil famílias do MST construíram o acampamento Vale do Salitre, nas proximidades de uma das casas de bombas mantidas pela Codevasf. Um ano depois, um acordo feito com o governo da Bahia, governo federal e órgãos como o Incra e a Codevasf fez com que as famílias fossem transferidas para uma área em Sobradinho (BA), com a promessa dos órgãos que construiriam a estrutura necessária para um assentamento.

Entretanto, em 2020, apesar das diversas tratativas, o acordo ainda não foi cumprido pelos órgãos envolvidos, e as famílias continuam resistindo, apesar dos despejos, e exigindo o acesso à água e terra.

*Editado por Yuri Simeon