Acampamento Quilombo Campo Grande sob nova ameaça de despejo

Em 21 de fevereiro de 2019 o governador Romeu Zema ordenou o fechamento da escola do campo Eduardo Galeano, no entanto as famílias do acampamento seguem construindo atividades formativas no local que se tornou uma escola popular

Da Página do MST

Desde o início de março as luzes da escola popular Eduardo Galeano não se apagam mais. As famílias do acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, Minas Gerais, estão em vigília permanente, alternando-se nas madrugadas, em resistência a mais uma decisão judicial arbitrária, que determinou o despejo do espaço de formação.

“É uma vergonha, é inaceitável! Enquanto toda população brasileira procura se defender do Corona Vírus, o prefeito Robson e o Dr. Gustavo se aliam aos caloteiros da Usina Ariadnópolis para despejar uma escola. Esses irresponsáveis podem gerar uma calamidade em Campo do Meio”, diz Débora Mendes, da direção regional do MST.

Ela ressalta que a área ameaçada ultrapassa os limites da escola e há ilegalidades na ação. Uma das arbitrariedades é que o filho do administrador da empresa correspondente à Usina falida, a Cápia, foi quem realizou a medição da área a ser despejada. O resultado foi a inclusão de dezenas de hectares a mais no processo, o que atinge também famílias acampadas.

“Eles são os grandes articuladores de todas as ameaças que sofremos, mexem com jagunços, fazem de tudo para intimidar nossas famílias. Jovane Junior é uma parte interessada, não pode ser o técnico para medir a área. A gente sabe que ele incluiu terreno a mais para ir nos tirando aos poucos”, aponta a dirigente. No processo inicial constavam 26 hectares e atualmente o despejo se refere a 100 hectares. Em 2018 o acampamento enfrentou outra ameaça de despejo, da qual saiu vitorioso. Na ocasião o prefeito Robson Machado (PSDB) enviou um ofício à justiça afirmando que apenas 50 famílias residiam no local.

A escola Eduardo Galeano atendeu oficialmente a comunidade por três anos, com ensino de EJA (Educação de Jovens e Adultos) e fundamental, além de diversos cursos técnicos que tinham o objetivo desenvolver a agroecologia junto à comunidade. 

Em 21 de fevereiro de 2019 o governador Romeu Zema ordenou seu fechamento, no entanto as famílias do acampamento seguem construindo atividades formativas no local que se tornou uma escola popular. Ali acontecem oficinas, cursos e seminários para potencializar cada vez mais a produção do café, frutas e hortaliças livres de agrotóxicos.

Histórico da área

São 450 famílias, que ocupam há 22 anos a área da usina falida Ariadnópolis. Atualmente a área é chamada de Acampamento Quilombo Campo Grande, possui vasta produção de alimentos e colhe mais de 510 toneladas de café por ano. As famílias moram em casas de alvenaria, construídas sem qualquer apoio de políticas públicas. A usina de açúcar encerrou suas atividades em 1996, porém ainda possui várias dívidas trabalhistas, com a previdência e bancos.

A fazenda produzia cana de açúcar e álcool e gerava renda para um único proprietário, mas foi abandonada. Com a ocupação, as terras geram trabalho, renda e abrigam quase dois mil trabalhadores e trabalhadoras. As famílias produzem sem o uso de agrotóxico, como orienta o MST. São hortaliças, cereais, frutas, fitoterápicos, leite e derivados, produtos processados como doces e geleias. Tudo produzido de forma agroecológica ou em transição. Na safra de 2017-2018, o Quilombo Campo Grande foi responsável pela produção de 55 mil sacas de milho, mais de 8 mil sacas de feijão e 8.500 sacas de café. A previsão de colheita para 2020 é de 780 toneladas de café. Já a colheita de milho é estimada em 50 mil sacas.

O decreto 356 de 2015 desapropriava 3.195 hectares das terras da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA). No entanto, a pressão da bancada ruralista e latifundiários da região, junto ao judiciário fez com que esse documento fosse anulado, mesmo tendo passado por dois julgamentos que validaram a ação do governo de Minas Gerais.

*Editado por Maura Silva