Assentamento do MST produz álcool 70 para hospital em Santa Catarina

A parceria entre prefeitura municipal, universidade, Epagri e o assentamento pretende beneficiar centros de saúde e o hospital municipal de Curitibanos

Por Coletivo de Comunicação do MST/SC
Da Página do MST

Em meio a pandemia gerada pela disseminação do novo coronavírus, uma família Sem Terra cultiva a solidariedade produzindo álcool 70 para o hospital municipal de Curitibanos. Tal experiência é fruto da parceria dos irmãos Girotto, do Assentamento 1° de maio, com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Prefeitura Municipal de Curitibanos e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão Tecnológica de Santa Catarina (Epagri).

Segundo Cristian Soldi, professor de química da UFSC, quando percebeu que no mercado não havia mais álcool 70, somente álcool 46, imaginou que isto poderia prejudicar o abastecimento dos centros de saúde e do hospital e entrou em contato com a família Girotto, que possui um destilador de cachaça, onde o álcool 46 poderia ser transformado em 70. Como a universidade já desenvolve outros projetos em parceria com o assentamento, o contato foi rápido e se colocaram de prontidão.

A prefeitura municipal entrou com o insumo (álcool 46), os agricultores com o equipamento e a experiência em destilaria e a universidade com o conhecimento científico. Soldi explica que o álcool 46 possui 56% de álcool e o restante de água e o álcool 70 possui 77% de álcool. “É possível transformar o 46 em 70 concentrando o primeiro por meio da técnica de destilação. No primeiro teste se obteve 30 litros de álcool 70, a partir de 76 litros do álcool 46. O processo demorou uma hora e meia e em um dia de trabalho estimamos conseguir 200 litros.”

Segundo o agricultor Lulis Girotto, “o destilador que temos é de coluna, contínuo e a gás, permitindo controlar a densidade de calor mais facilmente e, assim, separar o álcool da água na medida desejada”.

O Assentamento 1° de maio foi criado em 1998, mas a parceria do assentamento com a universidade vem desde os tempos de acampamento e para Girotto é importante que aumentem cada vez mais. “Muito disso devemos ao Movimento Sem Terra, que forma a consciência do nosso povo, incentiva a solidariedade, a se organizar para encarar as peleias, como essa de agora com o coronavírus, que vai precisar de álcool, mas também de muito alimento para a população mais carente”, afirma. “Aqui no assentamento as 32 famílias tem muita produção: diversos tipos de verduras, frutas, legumes, milho, feijão e toda uma diversidade de grãos, azeite de oliva, peixe, gado, porco, galinha, cachaça, cerveja e vinho”.

Fotos: Coletivo de Comunicação do MST/SC

Fabiola Girotto complementa a fala do pai e diz que o assentamento tem avançado bastante na construção da agroecologia, “inclusive com experiências de agrofloresta, de bioconstrução (casas de barro), do resgate de conhecimentos dos nossos avós com novas tecnologias e de desenvolvimento de um modelo de agricultura mais harmonioso, com muito mais amor à terra”.

A solidariedade, a defesa da universidade pública, da ciência voltada para a defesa da vida e a produção de alimentos saudáveis para toda a população, são parte importante do projeto de Reforma Agrária Popular defendido pelo MST para toda a sociedade. “Olhando pra esse momento de pandemia eu fico cada vez mais convicta da necessidade de uma reforma agrária no nosso país. Com uma parcela maior da população com pequenas porções de terra, garantindo dali sua subsistência e a produção de alimentos saudáveis para os trabalhadores urbanos, momentos como esse seriam bem mais fáceis de enfrentar”, afirma Fabiola. “É como diz a poesia: ‘a liberdade da terra não é assunto só de lavradores, ela é assunto de todos aqueles que se alimentam dos frutos da terra’ e nós, a sociedade brasileira, somos chamados a olhar, mais do que nunca, para a necessidade da produção de comida de verdade para o povo brasileiro”, conclui.

*Editado por Maria Silva