Assentamento Abril Vermelho comemora 16 anos com doações de alimentos saudáveis, no Pará

Plantar, colher e repartir os frutos da Reforma Agrária é uma forma de relembrar os trabalhadores assassinados em Eldorado dos Carajás
Famílias do Assentamento “Abril Vermelho” doam alimentos às periferias de Belém
(Imagens: MST/Pará)

Por Viviane Brigida
Da Página do MST

Nesta sexta-feira, 17 de abril, data em que os Sem Terra relembram os 24 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, em que 21 trabalhadores Sem Terra foram brutalmente assassinados pela Polícia Militar do Pará, as famílias do assentamento “Abril Vermelho”, localizado no município de Santa Bárbara, participam das ações de solidariedade do MST com a doação de alimentos nas periferias da região metropolitana de Belém, capital do Pará.

A ação faz parte das atividades nacionais realizadas no Dia Internacional da Luta Camponesa. O mês de abril se tornou um símbolo de luta pela democratização da terra e Reforma Agrária para os camponeses e camponesas do Brasil e do mundo. 

No dia 17 de abril de 1996, os trabalhadores rurais assassinados participavam de uma marcha, na curva do “S, em Eldorado dos Carajás. Naquele ano, o Estado do Pará era governado por Almir Gabriel (PSDB) e o presidente da república era Fernando Henrique Cardoso.

O ato de plantar, colher e repartir os frutos da Reforma Agrária, é para as famílias do assentamento Abril Vermelho uma forma de relembrar os companheiros de Carajás. “Os alimentos são resultado da jornada em 2004, hoje comemoramos em forma de doação a nossa conquista para outras famílias que necessitam, afirma a assentada Valéria Lopes.

Frutos da Reforma Agrária, arrecadados para doação em ações de solidariedade




Segundo a assentada Valéria, a conquista da terra é o resultado da vinculação da famílias ao MST, desde sua origem e o fortalecimento da identidade do ser Sem Terra. “Terra pra quem trabalha e produz é o lema que sempre esteve presente na vida dos trabalhadores e trabalhadoras do assentamento”, destaca a dirigente.

Há 16 anos, em 16 de Abril de 2004, mais de 800 famílias do MST ocuparam a Fazenda Paricatuba da Empresa Denpasa. Em homenagem a luta das vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás o acampamento foi denominado de “Abril Vermelho”.

A ocupação transformou uma terra do agronegócio de monocultura do dendê em um espaço da Reforma Agrária, com a produção de diversos cultivos, como farinha, açaí, pupunha, hortaliças, entre outros, além da criação de animais como peixes, frangos. Atualmente o assentamento Abril Vermelho é considerado um dos maiores produtos de alimentos da região metropolitana de Belém, com diversas iniciativas agroecológicas.

Da luta à conquista da terra


O ano era 2004, o mês era abril. O MST realizava em todo o país mais uma Jornada de Lutas pela Reforma Agrária com diversas ações nos estados, em memória ao Massacre de Eldorado dos Carajás. Para denunciar a impunidade no campo e as mazelas do camponês amazônico, um grupo de trabalhadores do MST organizou uma marcha do município de Castanhal até Belém, capital do Pará. 

Nesse período, o MST no Pará estava com mais de 600 famílias acampadas na região do nordeste do estado, organizadas em três acampamentos denominados: Rosely Nunes, em Castanhal, Rosa Luxemburgo, em São Francisco do Pará, e o Iza Cunha, em Santa Izabel do Pará. Juntas as famílias desses acampamentos marcharam até o ginásio do município de Santa Izabel do Pará, no dia 14 de abril, onde permaneceram por dois dias. 

Durante a mobilização os meios de comunicação divulgaram nacionalmente as ações do MST, e chamaram essas ações de “Abril Vermelho”, em referência à memória do Massacre de Carajás. Este também foi o ano em que o MST celebrou 20 anos de existência e luta. 

No dia 15 de abril, mais de mil pessoas se somaram à marcha rumo a capital do Pará. Já no dia 16 de abril de 2004, as famílias Sem Terra mobilizadas, juntamente com apoiadores e amigos da Reforma Agrária ocuparam um latifúndio que pertencia a antiga empresa Dendê Pará S/A (DENPASA), situado no município de Santa Bárbara.

Conforme informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a Denpasa foi uma das grandes produtoras de dendê no Brasil e por mais de 40 anos uma das maiores empresas do Pará. A empresa decretou falência em 2000, por conta de dívidas com a União. No entanto, a área de 6.803,1493 hectares, explorada pelo monocultivo de dendê só viria a se tornar Projeto de Assentamento, destinada à Reforma Agrária, em 2009. 

*Editado Por Solange Engelmann