Você conhece as técnicas para realizar coleta de sementes?

MST dá orientações sobre a prática milenar, importante para a autonomia dos povos do campo
Diversos tipos de semente cultivadas pelo MST. Foto: Lucas Lemos

Por Vinícius Lima, Lucas Lemos e Mateus Costa
Da Página do MST

A coleta de sementes é uma prática milenar que surge pela busca do homem na obtenção de alimentos. Ela está presente desde os primórdios do desenvolvimento da agricultura e da nossa formação enquanto humanidade.

Fortalecer essa prática é resgatar nossos valores enquanto seres humanos, pois ela tem uma representação simbólica da nossa ancestralidade e do nosso compromisso de coletas, consumo e cultivos com a Natureza.

É de extrema importância que os camponeses tenham conhecimento e autonomia no manejo das sementes, para a própria sobrevivência e preservação da nossa riquíssima biodiversidade abrigada nos biomas brasileiros.

A maioria das plantas apresenta uma grande diversidade de usos, o que permite que as comunidades se organizem para o incentivo na produção de alimentos, plantas medicinais, ornamentais e manejo em nossos cultivos agroecológicos, dentre muitas outras simbologias para uma transformação e preservação do nosso meio.

Esses ambientes podem ser nossas reservas e áreas de proteção, matas e campos nos assentamentos, acampamentos e outras regiões que precisam ser restauradas. Desta forma, embelezamos e cuidamos dos nossos territórios.

Alguns princípios básicos para a coleta das sementes nativas:

  1. Inicialmente, o grupo de coletores deve definir a finalidade da coleta. Ou seja, se é para venda a grupos que já trabalham com recuperação de áreas, plantio em viveiros ou agroecossistemas;
  2. Devemos realizar a organização e capacitação dos coletores para escolha das espécies e elaborar um calendário de coletas;
  3. Definida a finalidade, as áreas de coletas devem ser selecionadas e as árvores e plantas matrizes marcadas;
  4. Em campo, árvores matrizes devem ser marcadas. Elas geralmente apresentam grande porte, boa produção de flores, frutos e sementes. No Cerrado, por exemplo, há muita coleta de gramíneas e pequenos arbustos em áreas que podem ser marcadas com GPS;
  5. As condições da coleta variam. Algumas são feitas direto da planta ou com auxílio de podões, ganchos, escadas leves, tesouras de poda, lona (estendida no chão, pronta para receber as sementes e frutos que caem), dentre outros;
  6. É importante atenção aos cuidados de segurança dos trabalhadores, como uso de roupas adequadas e outros materiais que possam auxiliar em campo;
  7. Na coleta, não devemos levar tudo. Deve-se deixar de 20% a 30% das sementes, pois são fontes de alimentos para a fauna e manutenção da flora;
  8. No campo, as sementes e frutos podem ser armazenados em sacolas plásticas, sacos de ráfia ou pano e baldes. Vai depender do tipo da semente e da parte usada;
  9. As sementes são retiradas de diversas formas. Podem ser despolpadas de frutos que ainda serão aproveitados com martelo, pilão, água morna, água e peneira, dentre outros;
  10. O armazenamento deve ser feito com sementes limpas e sem impurezas, evitando assim, que mofem ou sequem demais. Elas serão mantidas em nossas casas ou bancos de sementes dos territórios;
  11. Devemos realizar o armazenamento em locais com pouca umidade e sem temperatura elevada. A forma de armazenamento pode diferenciar entre algumas espécies e a indicação deve ser feita nas capacitações;
  12. Para o plantio, com algumas sementes que demoram a germinar em seu estado natural, é possível realizar a quebra de dormência para estimular a germinação mais rápida. Orientamos deixá-las de molho ou então lixar a casca. Cada planta tem um tratamento próprio;
  13.  No contexto de quarentema devido à pandemia por COVID-19, a coleta de sementes será organizada nos acampamentos e assentamento como atividade e como forma de ir fortalecer nosso Plano Nacional “Plantar árvores, produzir alimentos saudáveis!”.

*Editado por Luciana Console