Solidariedade em tempos de crise é um ato necessário de rebeldia

Em MG, o MST organizou a entrega de 1.000 marmitas no 1º de Maio Solidário, marcado pela ação unificada e solidária no combate ao Covid-19.
Entrega de marmitex na Favela da Mina e na comunidade Dom Tomas em Ribeirão das Neves. Foto: Agatha Azevedo

Por Setor de Comunicação do MST em MG
Da Página do MST

O dia amanheceu um pouco mais cedo do que tem sido normalmente durante essa quarentena. É sexta-feira, 1º de Maio, Dia Internacional das Trabalhadoras e dos Trabalhadores, normalmente haveria euforia, pois diversas ações de lutas teriam sido programadas, e com certeza elas ocupariam as ruas. Mas, estamos em 2020 e a crise de pandemia da covid-19 nos levou esse direito, assim como tem levado o direito ao trabalho, à saúde de qualidade, à vida. 

Por isso este 1º de Maio foi marcado pela de ação unificada e solidária no combate à covid-19. Em Minas Gerais, o MST organizou a entrega de 1.000 marmitas solidárias no centro de Belo Horizonte e Venda Nova. Em Sarzedo, a ação foi articulada com a Associação de Catadores e entregue para as famílias em situação de vulnerabilidade nos bairros Planalto e Centro. Já em Ribeirão das Neves, a distribuição foi feita na Favela da Mina e na Comunidade Dom Tomás Balduíno. Outro local de entrega foi a Casa Hip Hop, no bairro Taquaril, uma das articuladoras que atende a comunidade promovendo ações que o Estado deveria cumprir.

Nesse sentido, Silvio Netto, da Direção Nacional do MST de MG, ressaltou que diante de todas as crises que se têm enfrentado e que assola a vida dos mais pobres, a solidariedade é um gesto de rebeldia necessário. 

“Diante da crise de saúde, da epidemia, decidimos praticar a solidariedade como um gesto de rebeldia nesse primeiro de maio. A gente tem organizado a entrega de alimentos para as populaçẽos vulneráveis para que alimentem o corpo, mas também para que possam alimentar a consciência, principalmente sobre a importância da solidariedade enquanto um instrumento de acúmulo de forças para que possamos enfrentar esse momento e os desafios que estão colocados para a classe trabalhadora do Brasil e no mundo”, salientou. 

Entrega de marmitex em Sarzedo. Foto: Luana Borges e Mari Rocha

O Movimento Sem Terra sempre contou com o apoio e solidariedade, ao mesmo tempo em que também a exerce como um princípio fundamental. Nesse atual momento, ser solidário e partilhar o que se tem é uma maneira de contribuir para que o povo enfrente de forma digna a crise da pandemia da covid-19. 

Embora diferente, com certeza mais uma vez, o 1º de Maio se reafirmou a histórica luta da classe trabalhadora por emancipação e, sobretudo, para que viva do fruto do que o seu trabalho produz. Marli Beraldo, da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Sarzedo (Acamares) comentou sobre essa parceria de solidariedade.

“A gente tem uma aliança no dia a dia com o povo, e nesse momento do corona vemos que estão sofrendo mais ainda pelo desemprego, pela falta de acesso a saúde pública e também com o ausência de compromisso do governo Bolsonaro. Levar comida saudável que foi produzida pelos trabalhadores/as para os/as trabalhadores no dia 1º de Maio é um ato de solidariedade que mexe muito com a nossa história, ficamos satisfeitos em saber que alimentamos nosso povo com comida saudável feita com a luta pela terra e com a dignidade”, ressaltou. 

Outro local de distribuição foi no bairro Taquaril, na Casa do Hip Hop. De acordo André Cavaleiro, um dos articuladores da ação de solidariedade, a escolha do local de referência se deu porque a “Casa do Hip Hop é uma das articuladoras que atende comunidade, preenchendo um espaço que o Estado não atende. Ela está lá fazendo esse papel. Isso é importante porque nesse momento da pandemia tudo é escasso. O pessoal que trabalha na área de serviços não tem o trampo, domésticas, lavadores de carro, pessoal que sai pra rua pra fortalecer o corre, essa iniciativa vai fortalecer demais”, afirma. 

Entrega de marmitex em Taquaril – região metropolitana de BH. Foto: André Cavaleiro e Agatha Azevedo

Como citado anteriormente por Marli, é gritante a ausência do governo em efetivar políticas públicas que garantam o direito à vida nessa situação crítica de pandemia da covid-19. Nesse cenário, as famílias que já viviam em situações vulneráveis estão mais expostas aos riscos. Minas Gerais já ultrapassa os 2 mil casos confirmados de coronavírus e 88 pessoas morreram em decorrência da pandemia. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, há 92 mortes suspeitas e 87.913 casos em investigação. 

Mesmo em meio a esse cenário, o governo Zema (Novo) não tomou nenhuma medida efetiva de controle epidemiológico e incentiva a flexibilização da quarentena a favor da economia. Nesse sentido, quase 200 organizações e movimentos populares de Minas Gerais lançaram uma Plataforma emergencial, onde se reivindica que o Estado cumpra seu papel nesse momento de crise e garanta o direito da população à vida com dignidade. 

Assim como o 1º de Maio, a plataforma e outras iniciativas que têm sido desenvolvidas, como as campanhas Periferia Viva e Vamos Precisar de Todo Mundo,  são organizadas numa ampla articulação com as Centrais Sindicais e as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, se soma as diversas ações de luta nos quatro cantos do nosso país. A iniciativa conta ainda com o apoio do Coletivo Alvorada, Coletivo Balaio, Projeto Dois contra o Mundo, Defensoria Pública de Minas Gerais, SindPetro e SindEletro.

*Editado por Ednubia Ghisi