Café com MST faz debate de crises sanitária, econômica e política com parlamentares

Encontro foi realizado de forma virtual e apontou desafios colocados para o próximo período
Parlamentares falaram sobre saúde e desdobramentos nas crises no país. Foto: MST

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Nesta quinta-feira (14), o MST promoveu seu já tradicional café da manhã para um grupo de parlamentares identificados com a Reforma Agrária. Devido à pandemia do novo coronavírus, essa foi a primeira vez que o encontro foi realizado de forma virtual.

Os parlamentares presentes foram unânimes nas falas sobre a crise na área da saúde por conta da COVID-19 e os desdobramentos nas crises econômica e política no país. Além disso, também reiteraram a necessidade de se ampliar uma frente parlamentar que defenda o Brasil diante do governo Bolsonaro e o projeto de morte que ele representa.

Responsável pela análise de conjuntura, João Pedro Stedile começou sua apresentação dissertando sobre como o MST tem atuado junto às demais articulações, como a Via Campesina, a Frente Povo Sem Medo e os movimentos sociais, partidos, sindicatos e demais representações que integram a Assembléia Internacional dos Povos.

“Todos nós estamos conscientes de que o Brasil vive sua pior crise na história. Nunca havíamos passado por uma crise econômica que desencadeou em uma crise social resultando em uma crise política desta magnitude […]. Estas, acopladas à crise ambiental, já que nunca antes o capitalismo tinha agredido tanto a natureza, e à crise da saúde pública causada pelo novo coronavírus, fez do país um ambiente de guerra”, apontou Stedile.

João Pedro Stedile ressaltou a atuação dos movimentos sociais em meio à crise. Foto: MST

A relação entre a burguesia e o estado

A partir de uma visão estrutural da ineficiência do modo de produção capitalista de alguns setores da sociedade, foram apontados os limites e desafios da realidade brasileira. Segundo Stedile, é preciso observar como a burguesia está se comportando diante desta crise. “Na tentativa de criar uma alternativa à ultradireita, eles procuram ganhar tempo para se organizar. Atacam o Bolsonaro, mas não a ponto de derrubá-lo”, afirmou.

Neste sentido, o que se observa é um movimento do capital em buscar recursos e ajuda do Estado. O deputado federal Enio Verri (PT-PR) ressaltou esse movimento. “Este é um momento em que provamos que a esquerda, historicamente, estava certa, dado que para vencer a crise é necessária a intervenção do Estado”.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) também deu ênfase à crise e ao papel que alguns setores desempenham. “É preciso ter muita clareza nesta tríplice crise (sanitária, econômica e política). O Brasil precisa de mais Estado, sistema de saúde pública, reforma tributária. E os fatos andam numa velocidade que talvez a gente não consiga acompanhar”, concluiu.

Valente ressaltou a ação de Bolsonaro ao editar, nesta madrugada, a Medida Provisória 966/20, que pode livrar da responsabilidade o agente público de “equívocos ou omissões nas ações de combate à pandemia”. Segundo o deputado, essa é mais uma ação do presidente para tentar não se responsabilizar por suas ações diante da pandemia, que podem ser consideradas crime contra a humanidade.

A união “das esquerdas


Stedile também apresentou um panorama da classe média como força social. Segundo ele, a classe média, que representa entre 8% e 10% da população, também não tem força para derrubar o presidente, mas possui grande influencia ideológica e multiplica suas ideias entre as massas.

Paulo Pimenta, deputado federal do PT-RS, levou à discussão o artigo do vice-presidente Hamilton Mourão publicado hoje no jornal Estadão que, em linhas gerais, sustenta que o Governo Bolsonaro não consegue governar devido à essas outras forças.

“Ele [Mourão] enumera as interferência dos poderes, a falta de respeito pelo pacto federativo, o papel da imprensa que não garante que os dois lados sejam ouvidos, o papel de lideranças que desgastam a imagem do país no exterior. Segundo ele, existe uma polarização da doença”, descreveu Pimenta. Para o deputado, este seria um recado que aponta para as medidas que o governo pode estar preparando.

As falas de outros deputados apontaram que o artigo reflete um governo acuado e mais perigoso, que usa o constrangimento institucional como ferramenta de tentar manter-se no poder, embora claramente enfraquecido.

A reunião debateu estratégias que se fazem mais necessárias para uma união entre diversos setores. “Precisamos fortalecer a união da esquerda, para que a a partir da unificação de setores médios que estão indefinidos possamos explicitar novas saídas”, afirmou Enio Verri.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) destacou o papel dos parlamentares de reforçar as bases do pensamento progressista para depois conquistar outros setores, hoje indecisos, como estratégia. Paulo Teixeira (PT-SP) também reforçou a ideia. “Temos que falar com a nossa turma e manter ela mobilizada e depois ir ampliando. A ação principal é massificar o #ForaBolsonaro, para a construção dos outras ações, como o pedido de novas eleições”, afirmou Teixeira.

Cada militante tem que ser um partisan


Stedile também apresentou um panorama da classe trabalhadora que, segundo ele, “ainda enfrenta dificuldades sociais que se agravam com a crise na saúde”. Stedile chamou a atenção para as centenas formas de solidariedade, pois mostram o poder de mobilização da sociedade. “Temos que nos ajudar, porque nem Deus e nem o governo nos ajudam. Ou, como diz a teologia da libertação, Deus ajuda quando nos organizamos”.

Para ele, este é o momento em que os movimentos tem que dar um passo a frente se quisermos ser vanguarda a partir de um plano de unidade de ação. “Solidariedade não é caridade. O grande desafio é avançar de forma consistente em frente de modo a criar uma unidade nas redes de comunicação, cursos de formação política, emendas”, afirmou ele.

Maria do Rosário também endossou o pensamento de que renda, saúde e alimento, assim como formação política, não podem ficar de fora deste comprometimento. “Devemos pensar emendas nas universidades, com a temática de realidade brasileira. O nosso Fora Bolsonaro é a partir da classe trabalhadora”, afirmou a deputada.

Stedile também cobrou uma postura mais ativa pelo Fora Bolsonaro, afirmando que a crise não será resolvida depois do vírus e nem com as eleições de 2022, mas que para combater o fascismo, “cada militante tem que ser um partisan”.

Para o deputado Henrique Fontana (PT-RS), é preciso colocar para a sociedade que a situação não é apenas uma crise política. “Não é sobre impeachment ou não, mas se Bolsonaro pode resolver a crise que afeta individualmente o trabalhador. E a resposta é não, não podemos nos perder na retórica da crise política”, pontuou ele.

A reunião também estabeleceu a urgência destas ações. “Os partidos de esquerda, movimentos e entidades, de forma rápida, precisam conduzir o impeachment e tem que fazê-lo de forma organizada. Não é uma pílula de solução, mas é preciso começar”, lembrou Ivan Valente.

Abaixo, veja a lista dos deputados e senadores que participaram da Café com MST:

Rosa Neide (PT-MT)
Odair Cunha (PT-MG)
Ivan Valente (PSOL-SP)
Arlindo Chinaglia (PT-SP)
Valmir Assunção (PT-BA)
Carlos Veras (PT-PE)
Rubens Otoni (PT-GO)
Margarida Salomão (PT-MG)
Assis Carvalho (PT-PI)
Paulão (PT-AL)
Nilto Tatto (PT-SP)
João Daniel (PT-SE)
Enio Verri (PT-PR)
Airton Faleiro (PT-PA)
Frei Anastasio (PT-PB)
Helder Salomão (PT-ES)
Rogério Correia (PT-PE)
Bohn Gass (PT- RS)
Paulo Pimenta (PT-RS)
Natalia Bonavides (PT-RS)
Gleisi Hoffmann (PT-PR)
Beto Faro PT-PA) Pará
Edmilson Rodrigues (PSOL-PA)
Henrique Fontana (PT-RS)
Erika Kokay (PT-DF)
María do Rosario (PT-RS)
José Guimarães (PT-CE)
Marcon (PT – RS)
Paulo Teixeira (PT-SP)
Reginaldo Lopes (PT – MG)

Senador:

Humberto Costa (PT-PE)

* Editado por Luciana Console