Organizações caribenhas e norte-americanas da Via Campesina mostram caminho para soberania alimentar
Por Via Campesina Internacional
Da Página do MST
Após seis anos de experiência, as organizações de base lançaram este ano uma nova publicação que descreve o caminho da agroecologia em escala nas áreas rurais e urbanas. “O processo de agroecologia para o povo: nosso poder através da agroecologia” inclui testemunhos pessoais, o método aplicado e a cronologia de eventos desde 2015.
O “Processo”, como é chamada a iniciativa, começou com a Reunião de Agroecologia Campesina em Fellsmere, Flórida, liderada por trabalhadores e trabalhadoras agrícolas migrantes. O organizador do evento, a Associação Camponesa da Flórida (FWAF), membro da Via Campesina Internacional, participou de intercâmbios de aprendizados na Guatemala, Cuba e Brasil e assumiu a tarefa de expandir a agroecologia entre seus membros através de um conjunto de metodologias da educação popular.
Com essa experiência, a FWAF e um grupo de organizações aliadas de Porto Rico, Canadá e Estados Unidos (inspirados na metodologia camponês a camponês em Cuba) conceberam um “processo” para reproduzir a experiência nas comunidades negras, latinas e indígenas. Sete encontros agroecológicos depois, a iniciativa reuniu centenas de camponeses, trabalhadores agrícolas, pescadores e cultivadores urbanos para aprender uns com os outros e praticar a agroecologia.
Esta nova publicação conta a história da voz dos facilitadores do processo e detalha a teoria e a prática do uso da agroecologia como um instrumento para criar poder entre setores, experiências marginais e fronteiras geográficas.
A publicação pode ser baixada em inglês e espanhol. Entre em contato conosco se você deseja se voluntariar para traduzi-lo para outro idioma.
Depoimentos sobre “O processo de agroecologia para o povo”
Para Joan Brady, da União Nacional dos Agricultores – Canadá e La Via Campesina – América do Norte. “O Processo é um guia político e prático da agroecologia para os componentes por meio de nossa experiência coletiva. No verdadeiro caminho da Via Campesina – de camponês para camponês – esse conhecimento foi desenvolvido, adaptado e compartilhado entre todos os participantes. Ele fornece as ferramentas e esquemas para replicar e criar reuniões significativas, sessões de treinamento e grupos com ênfase na organização para ativar a soberania alimentar através da prática da agroecologia.”
“Aqui nos EUA não houve um processo para atrair trabalhadores agrícolas, como a Via Campesina, MST, ATC e outras organizações que possuem conhecimento e experiência. Foi poderoso ter essas trocas para construir a solidariedade com um movimento global. A iniciativa tem sido crucial, especialmente na organização dos trabalhadores agrícolas. Agora podemos articular o sistema alimentar, o capitalismo e ter uma análise contextual que nos guia para o desenvolvimento de estratégias para vencer”, afirma Edgar Franks, da Famílias Unidas pela Justiça.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) declara que “Esta publicação aborda questões fundamentais para todos os movimentos sociais, organizações e coletivos que estão construindo agroecologia em todo o mundo, não apenas nos Estados Unidos. A experiência do processo agroecológico para o povo rompe com o mito de que a produção agroecológica não é viável. A agroecologia não é apenas possível, é necessária! Nós podemos e devemos produzir alimentos para o mundo sem destruir o planeta. Esta publicação é a esperança de construir um novo mundo. Parabenizamos e agradecemos a este coletivo por semear essa esperança em todos nós!”.
De acordo com Angela Adrar, da Aliança pela Justiça Climática, não há outro caminho se quisermos sobreviver. “O processo de agroecologia para as pessoas toca as raízes de qualquer comunidade e a transforma para melhor. Esta publicação contém sonhos e visão de um mundo transformado, onde camponeses, trabalhadores agrícolas e alimentícios são focados e essenciais. Esse tempo é AGORA. Todos nós temos que trabalhar em direção a uma maior harmonia com a água, a terra e a Pachamama”.
Já Jahi Chappell, da Food First, afirma que a iniciativa veio em boa hora. “O processo de agroecologia para o povo é algo que muitos de nós que trabalhamos com agroecologia na América do Norte procuramos há muito tempo. Esta é uma publicação poderosa que faz várias coisas ao mesmo tempo. Primeiro, documenta o importante trabalho realizado no contexto dos encontros de Agroecologia na América do Norte desde 2016. Em segundo, oferece inspiração aos organizadores de todos os tipos, elaborando o trabalho intersetorial realizado através do Processo de Agroecologia para o Povo e em terceiro lugar, será um instrumento valioso e substantivo para os organizadores da agroecologia e qualquer outra que lute por justiça social. Esta publicação continua o projeto vital de autodocumentação e formação dos principais estudiosos em agroecologia da América do Norte. São povos que têm desenvolvido e praticado a agroecologia e seguem cultivando-a através de suas experiências vividas e suas lutas”.
*Editado por Luciana G. Console