Terra que gera partilha: MST doa 44 toneladas de alimentos no norte do Paraná
Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST
O povo Sem Terra tem mostrado que o valor da solidariedade é prática diária para quem quer a transformação do mundo injusto e desigual em que vivemos. E faz isso de forma organizada e massiva, para ajudar os irmãos e irmãs urbanos que mais precisam, nestes tempos de crise de saúde pública e de políticas de morte praticadas pelo governo Bolsonaro.
No Paraná, as ações acontecem pelo menos uma vez por semana, de forma coordenada em âmbito estadual. Neste sábado (20) foi a vez dos acampamentos e assentamentos do norte do estado compartilharem os frutos do seu trabalho e de sua luta com a população da periferia de Londrina.
Moradores de 11 bairros da cidade receberam sacolas com alimentos doados por famílias integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pequenos agricultores. A ação solidária do movimento arrecadou 44,100 toneladas de alimentos (mais de 44 mil quilos), distribuídos a cerca de 3 mil famílias que enfrentam a fome neste período de pandemia da covid-19.
Cada sacola distribuída neste sábado carregou cerca de 14 quilos de grande variedade de produtos frescos, colhidos nas roças e hortas dos camponeses, ou produzidos por eles. Além de arroz, feijão, milho verde, uma grande variedade de tubérculos, frutas, hortaliças e legumes, 4.700 litros de leite integral foram doados por famílias associadas a cooperativas do MST na região norte. Pães, bolachas e sabão caseiros também fizeram parte do kit doado.
Mais um vez, a fé coroou a ação para fortalecer ainda mais a resistência e cada pessoa que faz parte dela. Os alimentos doados receberam a benção de Dom Geremias Steinmetz, Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Londrina e presidente do Regional Sul 2 da CNBB (Paraná). O momento rápido acontece na chegada da comunidade união da vitória, primeira a receber as doações.
Iniciativas como esta têm ocorrido em todo o Brasil como parte da campanha de solidariedade do MST. Com a doação deste sábado, as famílias Sem Terra do Paraná chegaram à marca de 228 toneladas de alimentos saudáveis doados desde o início da pandemia. Cerca de 5 mil marmitas também já foram produzidas e distribuídas pelo Movimento à população em situação de rua e moradores da periferia de Curitiba.
“Nós não estamos levando só o alimento, nós queremos levar uma esperança de que isso vai passar. E quando passar nós estaremos juntos com eles, firmes na luta, correndo atrás de melhorias pra vida de todo mundo, famílias assentadas, acampadas e urbanas”, garante Sandra Aparecida Costa Ferrer, moradora no assentamento Eli Vive, no distrito de Lerrovile, em Londrina, e integrante da direção do MST do Paraná.
A agricultora conta que a mobilização das famílias, a colheita e a organização dos alimentos para a doação começou há algumas semanas, e superou a meta inicial, que era de 32 toneladas. “Queremos mostrar para a sociedade que o melhor projeto pra matar a fome do mundo é o projeto da reforma agrária popular”, enfatiza. No início de junho, o MST lançou um Plano Emergencial de Reforma Agrária Popular, com medidas para enfrentamento imediato do aumento da fome e da crise econômica que o país atravessa.
A organização da distribuição dos alimentos contou com o apoio de várias organizações urbanas, fortalecendo a união entre o campo e cidade. Estiveram junto com o MST na ação deste sábado a campanha Periferia Viva (da qual o MST faz parte), o Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), o movimento Levante Popular da Juventude, a igreja católica, associações e lideranças dos bairros urbanos. Pequenos agricultores de Londrina, Tamarana e Mauá da Serra, que se uniram ao movimento doando alimentos.
“Ação do MST retrata o que o brasileiro tem que pensar”
Para Rita de Cássia, moradora do bairro Vista Bela, zona norte da cidade, o alimento chegou em boa hora. Desde a última semana, o Paraná está em alerta diante do aumento do número de casos e mortes por coronavírus, o que torna mais urgente a recomendação de ficar em casa.
“A gente conhece o bairro de cabo a robo, conhece todo mundo. É um bairro muito pobre, com moradias aglomeradas […]. É muita gente carente, que depende do Bolsa Família, que não tem uma renda”, conta. Segundo a moradora, o bairro foi projetado para ter 2973 residência, e hoje tem cerca de 20 mil famílias.
A líder comunitária pede por mais solidariedade às comunidades vulneráveis e aponta a ação do MST como um exemplo a ser seguido. “Nesse momento da pandemia, essa ação do MST retrata o que o brasileiro tem que pensar, que a gente tem que ser humano, compartilhar aquilo que você quer pra você. Se você tem comida no teu prato, pode ser que tem uma família que não tem”, diz Rita, que integra o coletivo de mulheres Amigas Moradoras do Vista Bela.
Além do Vista Bela, também receberam os alimentos moradores dos bairros União da Vitória, Cristal, São Lourenço, Jamili Dekechi, Nova Esperança e Franciscato, Califórnia, Maria Cecília e ocupações Flores do Campo e Primavera.
Sem acesso à terra não há fartura de alimento
Centenas de famílias Sem Terra acampadas que doaram parte dos frutos do trabalho vivem a angústia do risco de despejo. “Nós estamos há 11 anos acampados e queremos mostrar pra sociedade que a gente produz alimento saudável e tem como ajudar o próximo”, conta Juliano de Souza, agricultor que mora no acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu, em Porecatu.
Das 11 comunidades participantes da ação, 4 são acampamentos de famílias agricultoras que estão em luta desde 2008 para garantir a permanência na terra e a efetivação da reforma agrária. Em 2019, nove comunidades rurais sofrem despejo, duas delas na região norte do estado. Mais de 500 famílias que garantiam renda e auto-sustento a partir do trabalho na terra entraram nas estatísticas do desemprego e vulnerabilidade nas áreas urbanas.
As onze comunidades do MST que participaram das doações são dos acampamentos Herdeiros da Luta de Porecatu, de Porecatu; Fidel Castro, em Centenário do Sul, Manoel Jacinto Correia e Zilda Arns, de Florestópolis; assentamentos Dorcelina Folador, de Arapongas; Eli Vive, Pari Paro e Pó de Serra, de Londrina; Maria Lara, de Centenário do Sul; Florestan Fernandes, de Florestópolis; Iraci Salete, de Alvorada do Sul; e Barra Bonita, de 1º de Maio.
Brasil de Fato Paraná realiza debate sobre a ação
Para debater as ações de solidariedade e a história de luta no norte do estado, o Brasil de Fato Paraná realizou um programa ao vivo com participação Diego Moreira, da direção estadual do MST, Giovana Fogaça, do Levante Popular da Juventude e campanha Periferia Viva e Adriana Farias, professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A gravação da entrevista está disponível aqui.
*Editado por Gustavo Marinho.