Comida de Verdade estreia e traz produção do café na Reforma Agrária Popular

Com muita animação junina no dia de São João e de Xangô, o programa trouxe a cadeia produtiva do café
Estreia do programa Comida de Verdade. Foto: Divulgação MST

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

“Como pode um grão tão pequenino ter marcado a história de um país imenso como o Brasil?”. O café foi o grande homenageado na estreia do programa Comida de Verdade, uma produção do MST que nasce com o objetivo de mostrar a cadeia produtiva do Movimento, trazendo pautas de campo e da cidade de todo o país.

Na manhã desta quarta-feira (24), o Comida de Verdade foi transmitido ao vivo nas redes sociais do MST. Com duração média de uma hora, o programa trouxe o “queridinho da família brasileira”, o café, em suas diversas dimensões, como a cultura, produção, direitos humanos, política e saúde.

De forma poética, a introdução do programa trouxe o café como um elemento determinante da história do país, desde a escravidão até a mesa dos brasileiros, e o que o grão significa na luta dos trabalhadores e trabalhadoras do campo.

A apresentação desta primeira edição do Comida de Verdade contou com Meirielle, assentada e membro do setor pedagógico do MST na Bahia da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egidio Brunetto, e Felipe Campellono, ambos do Extremo-Sul da Bahia. “Esta é uma iniciativa do Movimento Sem Terra para fazer um diálogo com toda a sociedade, da cidade e do campo, sobre alimentação saudável, sobre a produção de alimentos agroecológicos, sobre o tema de plantio de árvores e recuperação da nossa biodiversidade, dos diferentes biomas deste país e sobre culinária da terra”, afirmou Campellono.

A ideia do programa é trazer temas ligados à alimentação e tradição camponesa, sempre com informação, música, poesia e arte, a partir do trabalho do povo Sem Terra para renovar o espírito e conceder ainda mais força para os momentos de luta. Trata-se de um programa político cultural onde o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se propõe apresentar a cultura camponesa nas suas mais diversas facetas.

Café e sua cadeia produtiva

O programa começa explicando o que é “cadeia produtiva” e como o MST se organiza quanto ao ciclo do café, além da questão de como o grão está relacionado à luta pela terra no Brasil, onde produção e resistência são essenciais para o desenvolvimento do povo. Nesta apresentação, relacionamos as cadeias produtivas voltadas para a produção agroecológica e agroflorestal, além de conceitos como soberania alimentar.

José Brito Ribeiro (Zequinha), da coordenação da cadeia produtiva do café do MST no Espírito Santo, foi o primeiro entrevistado e explicou sobre como a agroecologia está presente de forma prática no ciclo do café. “O MST hoje tem em torno de cinco mil famílias que se dedicam à atividade agrícola do café. Ela é muito significativa como renda destas famílias em vários estados do Brasil como Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Roraima, que são os principais produtores de café nos assentamentos”, afirmou.

Obede, do Quilombo Campo Grande – MG. Foto: Reprodução

Zequinha falou também sobre como a cultura e cultivo do café reverbera na vida de todos. “Além da importância econômica e social dos assentados, existe também a importância que ele tem como alimento que adentra a casa de quase todas a famílias brasileiras no país inteiro”.

As experiências práticas do plantio do café foram apresentadas por Felipe Peixoto, da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egidio Brunetto, na Bahia. Eles mostraram o manejo, técnica e insumos, além do plantio de árvores (sementes e mudas) e a transição agroecológica, como no assentamento Nova Conquista II, em Minas Gerais.

Os vídeos exaltaram os benefícios da produção agroecológica e agroflorestal, a partir do exemplo de acampamentos e assentamentos em diferentes estados do Brasil, todos tendo como projeto a Reforma Agrária Popular. “Para transformar o solo a gente precisa de árvores, baseado também na origem do café que é nativo das matas. A ideia de produzir o café sombreado com árvores é que produzimos uma bebida melhor, sem ‘estresse’ e então a fruta sai mais saborosa, a bebida acaba sendo mais suave”, explica Valdinei Ribeiro da Cruz.

Por trás de cada “cafezinho”, o programa resgata a diferença no dia a dia destes assentados que também podem tirar dúvidas e conhecer curiosidades de plantio no programa. A partir das experiências nos estados, acompanhamos todo o ciclo do café até em casa, como na marca Terra de Sabores, fruto da organização produtiva em torno da Cooperativa de Produção Comercialização e Beneficiamento dos Assentados (Coopterra). “Não é quantidade, é qualidade”, lembram os assentados.

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Consumindo o que plantamos

Integra ainda o programa um momento de dicas e curiosidade. Enquanto passa o café, Obede, do Quilombo Campo Grande (MG), deu dicas de cuidados com a saúde com a pela e o poder importante do café. Já a chef Paula Bandeira falou sobre “Culinária da Terra” a partir da receita de bolo de aipim, na primeira receita do programa. Para a Chef, a ideia foi trazer um grande significado pessoal para a primeira receita culinária.

Para aqueles que se interessaram pelos produtos finais da Reforma Agrária Popular e os produtos produzidos pelo MST, foi feito uma live direta de um Armazém do Campo, com produtos derivados do leite, café, mel, geleias, arroz, feijão, achocolatados, cereais matinais, cervejas artesanais, verduras e legumes provenientes de assentamentos Sem Terra, cooperativas, agricultura familiar e de empresas parceiras, com produção orgânica e agroecológica.

Antes da pandemia, o espaço costumava ir além da comercialização dos produtos da Reforma Agrária, trazendo eventos nacionais no campo das artes, políticos, culturais e, sobretudo, de luta e resistência diante da atual conjuntura. Há também outras unidades em alguns estados brasileiros:

Conjuntura

Ao final do programa, os apresentadores lembraram da atual conjuntura e da votação prevista para amanhã na Câmara dos Deputados do Projeto de Lei 886/2020, que trata de medidas urgentes para garantir a produção de alimentos saudáveis oriundos da agricultura familiar como forma de enfrentar as crises no Brasil devido à pandemia da COVID-19.

Os movimentos sociais destacam a linha de crédito exclusiva para produção de alimentos e pedem que as dívidas dos agricultores que sofreram com secas, enchentes ou que de alguma forma perderam processos de produção agrícola e que estejam inadimplentes possam ter suas dívidas renegociadas para acessarem as linhas de crédito propostas.

O Comida de Verdade surge como forma de estabelecer uma comunicação direta entre a população sobre a produção de alimentos saudáveis, um dos eixos essenciais do Plano Emergencial de Reforma Agrária Popular. Lançado no último dia 05, o Plano que inclui também “Terra e Trabalho”, “Proteger a natureza, a água e a biodiversidade” e “Condições Dignas para Vida no Campo”.

O programa será exibido ao vivo a cada 15 dias, sendo o próximo já previsto para 08 de julho de 2020 sobre a produção de hortifruti, às 11h00 nas redes sociais do MST e outros parceiros. Confira o programa completo:

*Editado por Luciana G. Console