Clara Zetkin: Nossa homenagem à lutadora feminista e antifascista

No dia 5 de julho de 1857 nascia aquela que vai lutar pela organização das “bruxas” operárias
Com Alexandra Kollontai e Rosa Luxemburgo, Clara propõe a criação de uma jornada de manifestações anualmente, conhecido hoje como o 8 de março. Foto: Reprodução

Por Rosmeri Witcel* e Geanini Hackbardt
Da Página do MST

Sempre me limitei a obedecer à minha natureza e não mereço elogios.Servi à revolução porque uma necessidade interna me obrigava a servir à causa da revolução”. (Clara Zetkin)

No dia 5 de julho de 1857, em Wierderau, na Alemanha, nascia Clara Josephine Eissener, aquela que ia se tornar a grande socialista, feminista e revolucionária Clara Zetkin.

Nascia aquela que vai lutar pela organização das “bruxas” operárias, para conquistar a igualdade econômica e social, a liberdade do jugo degradante das quatro paredes da casa, aquela que vai lutar contra o afastamento da mulher na produção e a naturalização de que a tarefa principal da reprodução da força de trabalho a custo zero seja relegado a mulher.

Pensemos em um período bastante distinto do nosso, num lugar mais distinto ainda. Os estudos não eram condições dadas a toda juventude da época. Só foi possível conseguir uma vaga em uma escola para professores na Saxônia, por influência do primeiro deputado socialista eleito na região, com o qual, sua mãe tinha contato.

Assim, Clara consegue ingressar na escola para formação de professores. Escola está, dirigida por Auguste Schmidt, uma feminista Alemã, educadora, jornalista que reivindicava os direitos das mulheres. Clara percebe pelos estudos, que esta é uma importante bandeira de luta, mas não basta. O feminismo é um começo e não um fim em si mesmo. Por isso, no momento em que Clara se torna socialista ela rompe com Auguste.

Na escola ela convive com a jovem russa chamada Bárbara, esta que se tornou sua grande amiga. Por esta convivência, Clara inicia sua participação num círculo de estudantes emigrados russos. Ali ela também conhece o pai de seus dois filhos, Ossip Zetkin, que já era socialista e foi seu companheiro de luta e camarada. Clara assume o sobrenome do seu companheiro, Zetkin, para garantir a nacionalidade para seus filhos.

Clara Zetkin Socialista e Feminista

Quando Clara Zetkin iniciou sua militância, ainda não existia a lei antissocialista imposta por Otto von Bismark, em 1878. Ela se torna socialista por influência do grupo de estudos e rompe a mentora da escola onde estudava e por isso não consegue o posto de professora. Contudo, foi justamente neste tempo, que pôde aprofundar ainda mais nos estudos e nas ideias socialistas.

Com a aprovação da lei antissocialista, a militância política se torna mais dura e perigosa. Por isso, ela precisou entrar na clandestinidade.

Clara Zetkin acreditava na libertação da mulher, em tempos que elas tinham seus corpos cobertos com vestidos longos e eram vistas como seres inferiores e invisibilizadas socialmente.

Seu marido foi exilado em Paris e ela muda-se para Zurique, com a tarefa de contribuir no jornal “O Socialdemocrata”, que em seguida também se torna clandestino.

Idealizadora do 8 de março

Neste momento, ela conhece a luta das trabalhadoras têxteis, que denunciavam as péssimas condições no interior das fábricas e passa então a acompanhar as organizações das mulheres e pautar o debate dentro do Partido da Social Democracia Alemã. Clara denunciava a brutalidade do trabalho da mulher, que era um trabalho pesado, escravizador, sufocante, mesquinho, braçal e não pago.

Em 1882, Ossip e Clara se reencontram em Paris e por lá residem por um período, dando aulas de idiomas e escrevendo artigos para jornais na Alemanha. No genial Discurso ao Congresso do Partido, em Gotha (1886), ela afirma que “as lutas pela libertação das mulheres proletárias não podem ser comparadas às lutas que as mulheres da burguesia enfrentam contra os homens de sua classe. Ao contrário, elas devem empreender uma luta unitária com os homens de sua classe contra toda a classe capitalista. (…) Seu clamor final não é a livre competição com os homens, mas o poder político nas mãos do proletariado. As mulheres operárias lutam lado a lado com os homens de sua classe contra a sociedade capitalista.”

Ali, ela conhece Laura e Paul, filha e o genro de Marx. Também conhece Lênin e Krupskaya, com quem dialoga suas ideias feministas e constrói uma grande amizade. Sua atuação política e militante, fazia superar a dupla jornada de trabalho e o cansaço que a vida impunha. Ela passa o ano de 1889 cuidando de Ossip, que contraiu Tuberculose, a pandemia da época. Assim, ela se torna viúva, o que não a impediu de se tornar uma das maiores pensadoras e organizadoras do socialismo.

Com Alexandra Kollontai e Rosa Luxemburgo, Clara propõe a criação de uma jornada de manifestações anualmente, a fim de paralisar as fábricas para chamar a atenção da sociedade às demandas feministas. Era a criação do Dia Internacional da Mulher, aprovada no II Congresso das Mulheres Socialistas em 1910.

Antifascista e defensora da paz

A partir deste momento, ela decide intensificar sua atuação na organização das trabalhadoras. Sua principal luta foi pelo sufrágio feminino, do ponto de vista marxista. Critica as feministas burguesas e ousa defender a liberdade da mulher na escolha de ter ou não ter filhos, chegou a defender o aborto e os métodos contraceptivos. Ela também é uma das primeiras a fazer a denúncia certeira sobre os perigos que a ascensão do fascismo traria à humanidade.

Em agosto de 1923, Clara descreve dez características do movimento de extrema direita que se erguia e declara: “Existe uma contradição flagrante entre o que o fascismo prometeu e aquilo que entregou às massas. Toda conversa sobre como o Estado fascista colocará o interesse da nação acima de tudo, uma vez exposta aos ventos da realidade, estoura como uma bolha de sabão. A ‘nação’ revelou ser a burguesia; o ideal fascista de Estado revelou-se como o vulgar e inescrupuloso Estado burguês… As contradições de classe são mais poderosas do que todas as ideologias que negam a sua existência.”

Em 1915, já deflagrada a Primeira Guerra Mundial, organizou em Berna (Suíça), um congresso internacional de mulheres contra a guerra, contrariando o seu próprio partido, que traíra o Movimento Proletário Internacional, aprovando os créditos de guerra no Parlamento. No Congresso Socialista Internacional, realizado em 1912 na cidadã de Basiléia, convocado por motivo da guerra dos Bálcãs e da ameaça de uma guerra mundial, Clara conclamou as mulheres trabalhadoras à luta decidida contra os fomentadores da guerra imperialista.

“Não se concebe um Movimento de Massas pela Paz sem a participação das mulheres proletárias; a paz só estará assegurada quando uma esmagadora maioria das mulheres trabalhadoras de todo o mundo aderirem à luta pela causa da paz, pela causa da liberdade e da felicidade da Humanidade, sob a palavra de ordem de ‘Guerra à Guerra’.”

Esta incansável socialista feminista, enfrentou um período de intensas greves, repressão e guerra. Foi escritora, mãe, deputada pelo Partido Comunista Alemão, filiada à corrente revolucionária e representada pela liga Spartacus, criada em 1915, juntamente com Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Foi também redatora-chefe do jornal e através dele uma incansável educadora popular das mulheres, dando-lhes informações da situação por elas vividas nas precárias condições de trabalho.

Foi eleita para o Parlamento Alemão (Reichstag), pelo PCA, e sua atuação parlamentar foi sempre vibrante, de denúncias da opressão, de apoio ao movimento comunista internacional. Em 1932, fez o discurso de abertura da sessão parlamentar e um veemente pronunciamento contra o nazismo em ascensão. Com a vitória de Hitler, em 1933, ela foi obrigada a fugir da Alemanha após ascensão do regime nazista. Aos 75 anos, ainda no exílio em Moscou, morreu e foi sepultada na Praça Vermelha, onde se enterrava as personalidades influentes e conhecidas socialistas revolucionárias.

Homenageamos esta importante e inspiradora mulher revolucionária, feminista e socialista, porque neste dia 5 de julho de 2020, continuamos a luta feminista e socialista que permanecem vivas, contra o machismo, o capitalismo e o patriarcado. Por você, por todas nós te mantemos viva nas nossas bandeiras de luta.

*Integrante da comissão político pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e mestre em desenvolvimento territorial da América Latina
**Editado por Wesley Lima