MST inaugura Centro de Produção Agroecológica no Paraná

Acampamento existe desde 2015
O nome do espaço homenageia Luiz Carlos Pinheiro Machado, que faleceu nesta última quinta-feira (2), aos 91 anos. Foto: Diego Ferreira

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST no Paraná
Da Página do MST

Na tarde deste último sábado (4/7), um dia após terem lavouras destruídas por um grupo de homens armados, famílias Sem Terra do acampamento Valdair Roque, localizado em Quinta do Sol (PR), inauguram no local o Centro de Produção Agroecológica Pinheiro Machado.

Para inauguração, além das 50 famílias Sem Terra do acampamento, também estiveram no local moradores da cidade, religiosos, entidades e outros movimentos sociais, em solidariedade aos agricultores.

O nome do espaço homenageia o professor Luiz Carlos Pinheiro Machado, que faleceu na quinta-feira (2), aos 91 anos. Pinheirão, como costumava ser chamado, foi um grande cientista e propagador da agroecologia, dos ideais socialistas e crítico da agricultura capitalista. “É uma homenagem ao nosso grande cientista da agroecologia e grande defensor comandante da agroecologia no Brasil, o camarada Pinheiro Machado”, diz José Damasceno, integrante da direção estadual do MST.

Na área, com cerca de um alqueire (24 mil metros quadrados), os camponeses e camponesas plantaram pés de banana e utilizaram plantadeiras manuais para semear feijão crioulo. Segundo a coordenação do acampamento, a continuidade da produção agroecológica será uma ação coletiva e permanente das famílias e servirá para garantir o autossustento e somar nas ações de solidariedade do Movimento na região, assim como a horta comunitária, criada no início de maio.

Antes do início do plantio, o Padre José Carlos Kraus, da Paróquia São Judas Tadeu, que abrange o acampamento, resgatou o histórico de conflitos na área e defendeu a permanência das famílias no local: “Desde a ocupação da fazenda Catarina, as famílias Sem Terra vêm produzindo comida em terras que só havia cana. É preciso ser solidário a esse povo e cabe ao estado pensar em uma forma de acabar com esses conflitos agrários e organizar um projeto de distribuição de terras para esse povo.”

A fazenda Catarina, onde está localizada a comunidade, é de propriedade da Usina Sabarálcool, que acumula grande passivo jurídico, com 964 ações trabalhistas somente na Comarca de Campo Mourão.

O descumprimento da função social das relações de trabalho levou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a manifestar interesse na área para destinação à Reforma Agrária, conforme prevê a Constituição Federal. No mesmo sentido, existe uma recomendação do Ministério Público Federal desde 2018 para que o Incra intervenha junto a esse conjunto de ações e execuções trabalhistas para adquirir e destinar a área à famílias acampadas.

“A nossa reivindicação, a nossa exigência, é que o juiz trabalhista autorize o Incra a fazer o assentamento e a União pague as ações trabalhistas dos trabalhadores”, reforça José Damasceno.

No ataque ocorrido nesta sexta-feira, pelo menos 14 homens foram até o local, entre eles um dos proprietários da área, Víctor Vicari Rezende, e capangas armados – alguns encapuzados-, segundo relatos de moradores da comunidade.

Silvano Gomes Barroso (46), vive na comunidade com a esposa e duas filhas desde o início do acampamento, em 2015. “Estamos vivendo da terra hoje e é muito importante a gente estar aqui. Estamos com mais de 50 famílias residindo na Catarina, e nós todos estamos sobrevivendo da terra, todos firmes lutando por um pedaço de terra. Aqui vivemos bem melhor que na cidade […]. Estamos aqui apreensivos porque ontem fomos surpreendidos pelo que se diz dono da fazenda com um pessoal armado, ameaçando nós. Mas nós estamos aqui firmes e fortes”, pontua Barroso.

O acampamento tem garantido produção de alimentos para o consumo das próprias famílias Sem Terra e também para doações. Foto: Diego Ferreira

Ações solidárias do MST na pandemia

A comunidade tem garantido produção de alimentos para o consumo das próprias famílias Sem Terra e também para doações à população da cidade, neste período em que a fome assola os lares de grande parte da população das periferias urbanas.

No dia 7 de maio, as famílias participaram de uma doação de 1,5 toneladas de produtos entregues à Santa Casa e ao Comitê de Apoio às Pessoas em Situação de Risco Social do campus de Campo Mourão da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).

Uma horta comunitária orgânica foi iniciada na comunidade no dia 2 de maio para garantir a continuidade das doações. Ao todo, 15 acampamentos do estado criam hortas com este mesmo objetivo. Uma delas, localizada em Clevelândia e mantida pelas comunidades Mães dos Pobres e Terra Livre, realizou sua primeira doação no mesmo dia da destruição das lavouras em Quinta do Sol. A doação também foi de 1,5 toneladas, destinada a famílias indígenas, um Lar de Idosos e famílias urbanas de Pato Branco.

As ações fazem parte da campanha nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em solidariedade as pessoas que enfrentam a angústia da falta de comida na mesa, neste contexto de pandemia da Covid-19. Em todo o Brasil, 2.300 toneladas de alimentos saudáveis foram distribuídos até o momento.

No Paraná, 248 toneladas de alimentos já foram doados por cerca de 100 acampamentos e assentamentos. Um coletivo de militantes do Movimento, amigos e voluntários também produz 700 marmitas todas as quartas-feiras em Curitiba, desde o início de maio. As quentinhas são feitas com produtos vindos de assentamentos e acampamento da Reforma Agrária do Paraná. Pelo menos 600 máscaras de tecido também foram costuradas por agricultoras Sem Terra e distribuídas à população urbana.

*Editado por Wesley Lima