Tereza de Benguela e as mulheres da resistência

Artigo resgata legado de Tereza de Benguela, grande liderança quilombola que comandou comunidade com mais de 3 mil pessoas no século XVIII
Tereza de Benguela/ Reprodução

Por Edilene Cenourinha
Do Setor de Gênero do MST em MG

O dia 25 de julho é a data de celebrar o Dia Nacional de Tereza de Benguela e Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Tereza de Benguela, a “Rainha Tereza” – como ficou conhecida em sua época -, viveu no século XVIII no Vale do Guaporé, no Mato Grosso.

Ela liderou o Quilombo de Quariterê, após a morte de seu companheiro, José Piolho, morto por soldados. Segundo os registros históricos, ela comandou uma comunidade de três mil pessoas. Uniu negros, brancos e indígenas para defender o território onde viviam, resistindo bravamente à escravidão por mais de 20 anos. Ela comandou a estrutura política, econômica e administrativa da comunidade. A Rainha Tereza criou uma espécie de parlamento e reforçou a defesa do Quilombo com armas adquiridas a partir de trocas ou deixadas após conflitos.

O Quilombo de Quariterê existiu de 1730 a 1795, e a liderança de Tereza de Benguela resistiu até 1770, quando foi presa e morta pelo Estado. O mesmo Estado que mata e oprime as mulheres nos dias de hoje. Portanto, não podemos esquecer Tereza de Benguela, é preciso levantar sua bandeira de luta, de se revoltar contra esse Estado genocida e de reivindicar sua história que não é lembrada nos livros ou sequer é estudada nas escolas.

Desde os primórdios da história, a humanidade foi sendo estruturada por outras relações de dominação, como racismo, o colonialismo e a opressão da sexualidade. Na América Latina nossa historia é marcada pelo colonialismo e pelo racismo, que estruturam o capitalismo e aprofundaram o patriarcado.

O patriarcado, origem da opressão sobre as mulheres, é um sistema fundamentado na divisão sexual do trabalho e na propriedade privada, muito anterior ao capitalismo. No modo de produção capitalista o patriarcado, assim como o racismo, torna se base de sustentação da ordem do capital, se ampliando a partir da exploração do trabalho e da vida das mulheres. O sistema capitalista, patriarcal e racista atua em um sentido de totalidade, articulado no todo da realidade social.

As mulheres ao longo da historia foram construindo formas de resistência e enfrentamento ao patriarcado, as lutas feministas nos dias de hoje foram forjadas a partir do legado de mulheres como Tereza de Benguela.

Nos dias atuais os desafios colocados não são poucos. As mulheres permanecem excluídas vastamente dos espaços em que se definem as normas e políticas que incidem diretamente sobre suas vidas. As mulheres negras e indígenas são aquelas sobre quem incidem mais diretamente os processos de precarização da vida. Mas nós interpelamos o Estado, denunciamos as violências sofridas e pressionamos para que nossos corpos e vozes estejam presentes nos espaços em que políticas de segurança e diretrizes econômicas se definem.

Vozes de Tereza de Benguela e muitas outras ecoam nas manifestações de movimentos feministas e de mulheres, que são diversos e que apontam caminhos em tempos de crise profunda do capital. Precisamos mobilizar na ofensiva contra esse modelo, o momento nos exige muita organização e a capacidade de nos articular para fazer lutas que possam alterar nossa vida cotidiana, para transformar a história.