Brigada internacionalista do MST atua no continente africano desde de 2015

A brigada Samora Machel está localizada na Zâmbia, mas possui atuação continental em países como Moçambique, Zimbabué, África do Sul e Gana

Entre as brigadas, um dos sonhos dos Sem Terra era levar a solidariedade ao continente africano. Foto: Fabio Andrey Pimentel

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

A solidariedade tem sido um elemento fundamental para os movimentos populares no mundo ao longo da história. Adotando isso como um dos princípios no seu processo histórico, o MST organiza brigadas internacionalistas de solidariedade com o envio de militantes para vários países.

Entre as brigadas, um dos sonhos dos Sem Terra era levar a solidariedade ao continente africano – um dos mais castigados pela colonização europeia e a escravidão. O sonho se torna experiência concreta em 2015, quando o MST inicia a organização de uma brigada internacionalista com base na África do Sul, porém de atuação em vários países do continente.

Integrante do Coletivo de Relações Internacionais do MST (CRI), Cássia Bechara explica que as primeiras experiências no país ocorreram em parceria com o Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (NUMSA) e, em articulação com outros países da África. Em 2017, a base da brigada é transferida para a Zâmbia, no Sul da África.

Na Zâmbia, Movimento atua em parceria com o Partido Socialista do país – Socialist Party. Foto: Fabio Andrey Pimentel

A brigada internacionalista do MST na Zâmbia é chamada de Samora Machel, em homenagem ao revolucionário moçambicano, que liderou a Guerra da Independência de Moçambique e foi o primeiro presidente após a sua independência, de 1975.

Hoje a brigada conta com três militantes brasileiros do Movimento e atua em parceria com o Partido Socialista do país – Socialist Party. Ela possui atuação continental, desenvolvendo atividades e articulações políticas com outros países da região, como Moçambique, Zimbabué, África do Sul e Gana.

“São realizadas várias contribuições com a Via Campesina, em especial no âmbito dos cursos de agroecologia. Também contribuímos com  as  duas escolas de formação política do continente, vinculadas à Assembleia Internacional dos Povos: uma escola baseada na África do Sul e outra em Gana”, comenta Cássia.

Ela relata que, nos últimos dois anos, a brigada internacionalista da Zâmbia tem atuado em três frentes. Uma dela é a produção, com a organização de experiências agroecológicas e trabalho de cooperação em algumas comunidades camponesas. Também são trabalhados os grupos de mulheres, em parceria com a Liga das Mulheres do país e na participação das mulheres na produção, com foco nas relações de gênero.

A terceira frente é no âmbito de alfabetização. “A frente da alfabetização tem trabalhado a partir do nosso método de alfabetização com organização popular. A Zâmbia tem um nível de alfabetização bastante baixo, em especial nas zonas rurais, e atuamos nas comunidades de periferia, com a organização de turmas e alfabetização para jovens e adultos”, pontua a integrante do CRI.

A militante do MST Paula França atua há um ano na brigada da Zâmbia e é responsável pela coordenação da frente de educação. Ela explica que o foco do trabalho está na organização de uma campanha de alfabetização de adultos em língua inglesa e argumenta sobre a importância da educação no país.

Em parceria com a Liga das Mulheres do país, o MST promove a participação das mulheres na produção, com foco nas relações de gênero. Foto: Fabio Andrey Pimentel

“Como a alfabetização tem um grande poder de mobilização das pessoas, no último período foram abertas mais de 56 turmas em seis províncias, e temos perspectivas de ampliar esse número”.

Paula conta ainda que o trabalho na área da educação vem sendo realizado por dois coletivos. “Um no Brasil, com professores universitários amigos do MST e companheiras do setor de educação, que estão desenvolvendo um método para alfabetização de adultos; e outro na Zâmbia, que acompanha as turmas, realiza oficinas de formação nas áreas rurais e entrega materiais pedagógicos, além de orientações para prevenção do COVID-19”, conta.

Diante da pandemia do Coronavírus, a brigada Samora Machel reorganizou suas atividades e tem realizado campanhas de solidariedade, com a distribuição de higienizadores de mãos e máscaras de tecido nos espaços do partido, nas periferias e áreas rurais.

MST doa higienizadores de mãos e máscaras para serem distribuídas em regiões periféricas da Zâmbia, na África Subsaariana – Foto: Brigada Internacionalista Samora Machel

“Nesse momento da pandemia, temos atuado na confecção de produtos de higiene, oficinas nas comunidades de como eles próprios e elas próprias podem fazer os seus produtos de higiene, principalmente num país em que até a água é escassa em algumas comunidades”, argumenta Cássia.

Nesse sentido, a militante Paula relata ainda que os trabalhos da brigada na área da produção e organização das mulheres também tem gerado vários frutos e resultados positivos. “Na agricultura, as formações foram importantes para potencializar a produção que os agricultores já tinham. A socialização das experiências agroecológicas do Brasil trouxe novas possibilidades de superar os problemas nas plantações e aumentar a produtividade. Já o trabalho com as mulheres tem dado resultados, como a produção de bijuterias para vendas de grupos de mulheres, cujo objetivo futuro é avançar na organização e autonomia financeira”.

Porém, as atividades de solidariedade do MST no continente africano com partidos políticos e organizações de esquerda enfrentam alguns desafios estruturais e históricos.

“Os principais desafios se referem a baixa estrutura da Zâmbia, como a maioria dos países da África subsaariana, resultado de uma violenta colonização europeia, associada a processos de libertação tardios, somente a partir da década de 60 e 70. Ao todo, temos 54% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, e apenas 46% têm acesso à água potável”, afirma Paula.

Parceria entre o MST e o Partido Socialista da Zâmbia garantiu distribuição de kits com máscaras e higienizadores de mãos nas periferias / Foto: Brigada Internacionalista Samora Machel

Zâmbia mantém riqueza cultural e ambiental


A Zâmbia é um país do continente africano, localizado na fronteira com a República Democrática do Congo, Tanzânia, Malawi, Moçambique, Zimbábue, Botswana, Namíbia e Angola.

Colonizado pelo Reino Unido, o país tornou-se independente em 1964. A língua oficial é o inglês, mas a população zambiana também se comunica por diversas línguas locias, estando entre as principais a bemba, tonga e nianja. Culturalmente diverso, mantém mais de 70 línguas e dialetos locais.

Em seu território nacional, a Zâmbia também possui várias áreas de florestas, com diversidade na fauna e flora e a presença de grandes animais como elefantes, hipopótamos, rinocerontes, girafas, leões, zebras, antílopes, hienas, entre outros. A capital do país é Lusaka, onde conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), vivem 1.747.152 milhões de pessoas.

*Editado por Fernanda Alcântara