Quarentena Sem Terra debate volta às aulas com especialistas da Fiocruz e Dieese

Programa foi transmitido via facebook, youtube e instagram do MST na última terça (18)
Programa Quarentena Sem Terra em “Pandemia, ciência e volta às aulas”. Foto: Reprodução

Por Luciana G. Console
Da Página do MST

Como parte da campanha “Volta às aulas na pandemia é Crime!”, o programa Quarentena Sem Terra da última terça-feira (18) trouxe o tema para discussão. Os convidados para a transmissão online, que ocorreu às 17h horas pelo facebook, youtube e instagram do MST foram Anamaria D’Andrea Corbo, professora e pesquisadora da EPSJV/Fiocruz e Thiago Soares, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O bate-papo teve como tema “Pandemia, ciência e volta às aulas” e foi mediado por Valter Leite, do Coletivo Nacional de Educação do MST. 

O tema tem ocupado centralidade na agenda pública devido à pressão do setor de ensino privado e da economia. No entanto, ainda não há controle da doença no Brasil, que já passa dos 100 mil mortos por COVID-19. Ao longo do debate, os participantes ressaltaram o perigo de estudantes se tornarem vetores de transmissão com a volta às aulas presenciais, acarretando prejuízos e danos a saúde pública do país. “A compreensão que temos é de que não é o momento de se falar em um retorno”, pontuou o mediador e educador do MST.

A pesquisadora da Fiocruz, Anamaria Corbo, uma das autoras do Manual de Biossegurança para Reabertura de Escolas no Contexto da COVID-19, afirmou que, antes de se tomar uma decisão de retomada de aulas presenciais em meio a uma pandemia, é fundamental que vários setores da gestão pública trabalhem articulados para garantir as medidas de segurança.

“Quando a gente volta e como? Isso vale para toda aglomeração, não só escola. A gente se vale das organizações que estudam isso, é baseado em estudo científico, então OMS (Organização Mundial da Saúde), grande referência, aponta que você tem que pensar numa retomada a partir de questões. A doença está controlada no território? Há diminuição de casos? O sistema de saúde está preparado para essa demanda de aumento, que vai ocorrer? Se sim, há sistema de rastreamento para lidar com essa nova situação e monitorar? Ao achar os vetores, eu tenho como garantir que fiquem em casa? Preciso isolá-los”, explicou ela. 

A fala da especialista foi corroborada por Thiago, um dos autores da nota técnica “Educação: a pandemia da Covid-19 e o debate da volta às aulas presenciais”. Segundo ele: “um plano de retomada das escolas não é uma questão só da escola. A volta às aulas tem que ser pensada na quantidade de pessoas que seriam impactadas, pois isso faz com que elas sejam vetores.”

Ele também elencou alguns fatores que também contribuíram para que a retomada de aulas presenciais fosse colocada em pauta neste momento. “A fala do governo federal no combate ao isolamento gerou conflito que está até hoje em relação ao cuidado e combate à pandemia. A questão do auxílio [emergencial] não atingiu toda a população, o que acarreta a fazer com que ela não cumpra o isolamento. Isso fortalece o debate do volta às aulas porque essas pessoas se perguntam onde vão deixar os filhos. Tem a pressão das escolas privadas, pois boa parte delas afirmam que tem condições de seguir protocolos de segurança. Tem os setores econômicos que perderam grana com as atividades paradas. Temos um arcabouço que liga tudo isso”, explicou ele.

De acordo com o técnico, a situação ideal para o Brasil lidar com a pandemia é o isolamento social, mas para isso, as medidas de mitigação de impacto econômico nas famílias teriam que ser de fato colocadas. Ele ainda afirmou que o foco do debate não deveria ser a volta presencial e sim, o fortalecimento das plataformas digitais para que os alunos acessem os conteúdos em casa.

Sobre o ensino à distância, defendido por muitas instituições privadas, Anamaria pontuou ser uma alternativa somente no contexto de pandemia, onde o isolamento social ainda é a melhor forma de prevenção. “A sensação que dá é que cada ação é uma armadilha. O capital está sempre ali de olho para se apropriar.”

Ela ainda ressaltou as divergências do Brasil em relação aos outros países, tanto no controle da pandemia, quanto na estrutura pública. “A gente está falando de uma educação com abismos sociais que sempre existiu, mas que agora está acirrado. Existe um direito social que está negado historicamente para determinados sujeitos. Não se pode naturalizar, desde antes da pandemia existe uma situação precária na saúde e na educação neste país”, pontuou ela.

A pesquisadora afirmou também ser extremamente necessário o debate sobre o tema com a sociedade. “Qualquer plano de retomada não pode ser discutido num gabinete, tem que ser discutido com a sociedade, toda ela. Temos que exigir transparência, seja na decisão, seja na forma como ela será feita.”

Por fim, Thiago trouxe para o debate o desafio da disputa de narrativa neste momento. “Que as entidades continuem denunciando os riscos para a saúde pública, rebatendo esse discurso, ao mesmo tempo em que temos que exigir que qualquer decisão seja fundado na ciência”, finalizou ele.

Assista o Programa Quarentena Sem Terra na íntegra:

*Editado por Wesley Lima