Assentada e militante do MST participou da implantação da ELAA

Ivanete coordena o setor de cozinha e refeitório e faz parte da coordenação executiva da Escola Latino Americana de Agroecologia
Assentada e trabalhadora da ELAA, Ivanete Ramos. Foto: Wellington Lenon

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

Vivendo no assentamento Contestado, município da Lapa (PR), a assentada e militante do MST, Ivanete Ramos, de 51 anos, contribui na equipe de trabalho da Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA) desde o seu início, em 2005. Ela conta que quando a escola iniciou as atividades estava em outro espaço do MST e foi convidada para contribuir na cozinha da Escola. Hoje, Ivanete coordena o setor de cozinha e refeitório e faz parte da coordenação executiva da ELAA.

Ela atua na equipe da Escola há cerca de dez anos. A experiência do processo formativo da ELAA tem como base os princípios da Educação Popular do Campo, funcionando em regime de alternância: entre tempo
escola e tempo comunidade, em que os educandos desenvolvem experiências acerca dos conhecimentos nas comunidades de origem.

A pedagogia educativa dos movimentos populares valoriza a forma de vida do campo e se insere em um contexto de luta pela Reforma Agrária Popular, conforme explica a trabalhadora da ELAA, Ivonete. “A proposta pedagógica da Escola nos deixa claro de que é possível a gente ser camponês. É possível viver no campo, plantar o nosso próprio alimento. E a vivência com os educandos, que vem de diferentes lugares, países, culturas, é um aprendizado a cada dia. A gente vê, a cada final de etapa a diferença individualmente e no coletivo”, relata.

Este mês, a ELAA está comemorando 15 anos de fundação. A data será marcada com um ato político e cultural online, na próxima quinta-feira (27), que terá a presença de dirigentes do MST, representantes da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), educandos e artistas convidados. O Ato será transmitido nas redes sociais do MST e da ELAA.

Escola funciona em parceria com assentamento

ELAA desenvolve iniciativas com as famílias do
assentamento Contestado. Na imagem, Ivanete ao centro. Foto: Arquivo pessoal

O Assentamento Contestado completou este ano 21 anos de conquistas. A antiga área que pertencia a cerâmica Incepa, com dívidas trabalhistas com a União, foi ocupada por 40 famílias Sem Terra do MST, em 07 de fevereiro de 1999. Ivanete esteve presente e vivenciou esse período de luta, juntamente com sua família, que se deslocou do Oeste de Santa Catarina para se inserir na fundação do MST, participando da ocupação da fazenda Anoni, no município de Marmeleiro (PR).

A assentada argumenta, portanto, que a ELAA foi pensada como um espaço educativo e formativo para os trabalhadores do campo que integram a Via Campesina. A formação na Escola é diferente do ensino tradicional, pois articula a teoria e a prática educativa com as vivências e demandas dos camponeses. “A formação da Escola Latina vai pra bem adiante do que só o diploma. Ali, aprendi a construir junto, a trocar ideias, mas além de tudo, eu consegui a minha emancipação humana”, comemora Ivanete.

Por outro lado, a ELAA também desenvolve iniciativas com as famílias do assentamento Contestado, como diálogo dos saberes, atividades culturais, experiências agroecológicas e trabalhos coletivos, bem como contribui para o desenvolvimento local e regional, a partir da difusão da Educação do Campo e do sistema de produção agroecológico.

Um dos frutos é a produção de alimentos saudáveis pelas famílias assentadas, comercializados em feiras e cestas agroecológicas na região metropolitana de Curitiba. A ELAA integra a Via Campesina e surgiu com uma proposta de articulação mundial de movimentos camponeses.

Atualmente também se torna espaço de intercâmbio de conhecimento, saberes e culturas, recebendo estudantes de vários países da América Latina. A Escola oferece o curso de Tecnólogo em Agroecologia, em parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e o curso de Licenciatura em Educação do Campo, com a Universidade Federal do Paraná (UFPR/Litoral).

*Editado por Luciana G. Console