Militância e a arte
Por Zé Luís Costa
Da Página do MST
Uma das principais formas de atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é o ato de transformar algo que seria obrigação em um ato importante: o ato da leitura e o ato de escrever. Essa é uma das missões do MST, desde quando o Jornal Sem Terra era distribuído nos principais assentamentos e acampamentos do próprio movimento espalhados por todo Brasil e assim servia como subsídio de leitura para sua base social. Esse Jornal Sem Terra também servia como uma relação do próprio Movimento com os seus parceiros e amigos lutadores de outros campos sociais.
As características da leitura, da prática da escrita e da arte de um modo geral, dentro do Movimento dos Sem Terra se torna basicamente uma tarefa militante, e no sentido bem abrangente dessa palavra. A tarefa é uma prática prazerosa de leitura; de aprendizado em que se pode construir uma forma adequada de se repassar a informação ou a formação.
A militância do MST e de outras organizações busca dentro desta prática da leitura indicar uma determinada literatura, que seja permanente, sobretudo por meio de poesias que são ampliadas pelas místicas. Isso faz o movimento crescer em poesia e prática literária, permanecendo vivo na história, porque cultura é vida.
Isso aproxima também a sua base e seus militantes de literaturas conhecida mundialmente de nomes como Jack London, Maximo Gorki, Pablo Neruda, Gabriel García Márquez, além dos nossos Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis e tantos outros, na poesia de Vinícius de Moraes, Divina Lopes, Charles Trocate. Principalmente aqueles que inspiram todas as juventudes na história da luta pelo socialismo, que levam os seus textos escritos em curtos diários, nos trazem como exemplo essa prática da literatura e da escrita o MST.
Uma prática que se torna “tática”. A leitura e a escrita não como uma obrigação simplesmente: são estímulo à construção de um prazer. É como diz a militante do MST no estado do Maranhão e da direção nacional, Divina Lopes, escritora, poetisa, pedagoga e mestre em Desenvolvimento Territorial pela Unesp.
“Penso que o Movimento Sem Terra nos possibilita a proximidade com a arte, com a literatura que expressa as lutas. As lutas da classe trabalhadora e as produções culturais dessa classe trabalhadora recupera um pouco da nossa história e da nossa memória. Todos nós, militantes, conhecemos muito mais e de uma forma mais sensível as experiências de lutas na América Latina; experiência revolucionária da Nicarágua; experiência revolucionária de Cuba; e as experiências revolucionárias em outras partes do mundo, bem como, da Revolução Russa, a partir de vários romances”.
Divina ressaltao que é importante que nós, militantes do MST e de outras organizações sociais com o ideal de uma sociedade nova, igualitária, justa na construção de novos sujeitos, nos aprimoremos a arte de escrever e ler.
“A literatura é um direito essencial para o ser humano e nos ajuda também a humanizar. Eu acho que essa é uma aposta que o movimento faz também, e tem formado uma geração a partir da nossa gênese para produzir arte e cultura, com literatura e todas as expressões artísticas.”, finaliza.
Dentro dos acampamentos e assentamentos, ou nos encontros espalhados pelo Brasil, é comum encontrar militantes com um livro na mão. E não é apenas enfeite: é o hábito da leitura. E esse hábito somente se tornou possível por conta da prática do próprio MST, de construir a prática de escrever poesias.
É isso que diz o militante Chales Trocate, que hoje está no MAM, (Movimento Pela Soberania Popular na Mineração). Ele também é poeta, escritor e vive na Cidade de Marabá, no estado do Pará.
“Nenhum movimento societário, seja ele de caráter sindical, popular ou mesmo de qualquer outra densidade, pode menosprezar aquilo que é peculiar na libertação da humanidade. O que é um raciocínio pela arte nas suas diversas representações. Um movimento social e libertário pode licenciar em grande medida o papel da leitura e da literatura de que maneira?”
Charles reforça seu argumento. “Primeiro os movimentos que nasceram em nosso país não lutam apenas por uma demanda específica; eles lutam pela demanda de elevar e sempre e pela emergente da condição e da construção da nova condição humana.”
Ele finaliza afirmando que é impossível se libertar só pela materialidade; é preciso se libertar também pela espiritualidade. “Em grande medida essa espiritualidade é a forma dos movimentos e dos seres humanos verem o mundo, pela filosofia, pela arte, pela música e pelo teatro”, conclui.
*Editado por Fernanda Alcântara