No Ceará, Feira Cultural da Reforma Agrária completa 4 anos

São 4 anos proporcionando à população de Fortaleza a possibilidade de consumir produtos agroecológicos saindo direto dos assentamentos e acampamentos

4 anos da Feira da Reforma Agrária. Foto: Aline Oliveira

Por Aline Oliveira
Da Página do MST

No próximo sábado (12), a partir das 13h, acontecerá um programa especial em comemoração aos 4 anos da Feira da Reforma Agrária. A ação será transmitida através da rede de rádios comunitárias populares e das redes sociais estaduais do MST. Nessa atividade virtual contaremos com a presença de vários amigos, amigos/as, apoiadores/as da Reforma Agrária, artistas populares e militantes do MST. Bela Gil, João Pedro Stedile, Zé Pinto, o grupo iniciantes do Batuque, já estão confirmados. 

A Feira Cultural da Reforma Agrária teve sua primeira edição no dia 24 de setembro de 2016, com caráter de comercialização, mas também de formação e cultura no mesmo evento. Desde então a feira tem sido um espaço de socialização de conhecimentos através dos debates sobre a conjuntura, da boa música, do acesso aos mais diversos livros com a participação do Plebeu Gabinete de Leitura e da editora Expressão Popular e dos sabores da terra com os produtos frutos da Reforma Agrária.

Mamão, banana, macaxeira, batata, melancia, abobora, limão, alface, couve, castanha de caju manga, ata, cheiro verde, carnes de porco, carneiro, galinha caipira, ovos, queijo, cajuína, cachaça orgânica, água de coco, cocada, doces, café, arroz, corante, feijão, farinha, geleia, manteiga da terra, mel de abelha, são alguns dos produtos das áreas de reforma agrária que são comercializados na feira, além destes também pode ser encontrado camisetas, artesanatos, canecas, boné, e livros.

Feira no seu aspecto econômico 

“Sempre participo da feira da reforma agrária, mando banana, cheiro verde, já vendi caprinos. Considero a feira muito importante por que a gente consegue vender nossos produtos e complementa a renda. E esse é um dos motivos pelo qual continuamos aqui na resistência, para garantir esse pedaço de chão para continuar produzindo alimentos sem veneno”, afirma Rone Crisostomo, acampado no acampamento Zé Maria do Tomé, Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte-CE.

Assim como Crisostomo, muitas famílias são beneficiadas com a comercialização dos produtos da Reforma Agrária. Antes era comum a venda de produtos nas mãos de atravessadores a baixo custo, como afirma Elissandra Moreira, assentada no assentamento Antônio Conselheiro em Ocara.

“Vendo meus produtos naturais livres de veneno, a feira é muito importante pra mim e toda minha família, antes não existia essa possibilidade de vender direto nas mãos do consumidor, hoje eu sei que tenho minha renda garantida, fico muito satisfeita em participar desse processo de organização do MST, espero em breve estar de volta com a feira presencial”, afirma Elissandra.

Feira Cultural: Solidariedade partilha saberes e sabores da Terra e da Luta

O espaço da feira, além de melhorar a renda das famílias assentadas e acampadas, traz a possibilidade à população urbana de Fortaleza de consumir produtos agroecológicos, vindo direito da produção camponesa para suas mesas. Assim afirma Mateus Alexandre, um dos consumidores da Feira Cultural da Reforma Agrária.

“O MST é esse movimento tão bonito que esta aí plantando as sementes da agroecologia, defendendo o direito a uma alimentação saudável, com todos os cuidados desde o trabalhador e a trabalhadora até nós consumidores, respeitando sempre a saúde do solo, das águas, respeitando a natureza. Comprar produtos do MST não é somente garantir a nossa alimentação saudável, mas é principalmente defender um projeto para o Brasil, um projeto de justiça social e ambiental”, lembra Mateus.

A feira cultural da reforma agrária é considerada por muitos que frequentam um espaço da esquerda cearense se encontrar, celebrar e partilhar momentos como, afirma Ticiana Studart, militante da Marcha Mundial das Mulheres. “Falar da feira é falar de afeto. Eu tenho a compreensão de que nós, militantes da esquerda, precisamos recuperar a construção dos espaços afetivos, espaços de partilha, de encontro, espaços de articulação dos comuns, e a feira da Reforma Agrária é este espaço onde diferentes partidos, movimentos populares, organizações de esquerda nos sentimos assentados/as no afeto, no companheirismo, na solidariedade”. 

Para ela, a feira é um espaço de construção de saberes. “Na medida em que acontecem diversos debates, como a questão da luta das mulheres, dos LGBTs, do povo negro, dos povos de terreiros, da juventude, o debate sobre a democratização das comunicações entre tantos outros, os debates da feira no geral sempre dialogam com questões fundamentais da resistência e da luta política. Nos últimos 4 anos, a resistência ao golpe que tirou a presidenta Dilma, a resistência as reformas neoliberais do governo Temer, o debate sobre a prisão injusta do Lula e a campanha Lula Livre encontrou na feira cultural da Reforma Agrária um espaço de resistência constante” afirma Studart.

Ticiana ainda destaca a música e os sabores da luta. “não dá pra falar da feira sem lembrar do cheiro de carneiro assando, da galinha caipira, do peixe, feijão verde, o baião. Chega a dar saudade! É um espaço de afirmação da cultura alimentar de nosso povo, um local de boa música. Por lá já passaram vários artistas importantes que compreendem a necessidade da articulação entre a cultura e a Reforma Agrária, e acontece sempre intercâmbio entre artistas do campo e artistas da cidade”, concluiu.

Programação da Feira

As feiras da Reforma Agrária acontecem na rua Paulo Firmeza, 445, bairro São João do Tauape, no segundo sábado de cada mês. Ela começa às 9h com exposição e venda de produtos, 10h debate, às 12h almoço com comidas típicas e música ao vivo ate as 15h.

Em tempos de pandemia da Covid-19, a última edição que aconteceu nesse formato foi em março. Desde então, as feiras vem acontecendo de forma virtual, como explica Clarice Rodrigues, da Direção Estadual do Setor de Produção e da Coordenação da Feira.

“Realizar a feira de forma virtual tem sido um desafio. Nós começamos em abril uma experiência nova, nunca tínhamos feito dessa forma e foi muito desafiador, considerando o período de crise sanitária que nós estávamos vivendo e ainda estamos. Mas definimos então tocarmos com todos os cuidados necessários desde os produtores aos que organizam a feira, até os consumidores”, afirma.

Segundo Clarice, um dos maiores desafios foi lidar com todos os protocolos colocados. “Outro desafio foi se adequar a logística pra dar conta dos pedidos, desde entregas e preparação até organização. Por outro, lado tem sido muito gratificante realizar a feira virtual, pois continuamos chegando até as pessoas, levando os nossos produtos e conseguimos chegar até um público que antes não havíamos chegado ainda. Isso a partir da conquista do site e das redes sociais, da divulgação”, concluiu.

Ainda não há uma previsão de quando a feira retornará no formato presencial, mas o planejamento segue com a realização online com os pedidos através do site www.centrofreihumberto.com.br, sempre na primeira semana do mês. 

A feira cultural da Reforma Agrária é uma realização do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rural Sem Terra (MST), Cooperativa Central das Áreas de Assentamentos de Reforma Agrária (CCA) e do Centro de Formação Capacitação e Pesquisa Frei Humberto.

*Editado por Fernanda Alcântara