O legado de Che Guevara para a luta socialista do século XXI

Artigo ressalta a importância de Che na perspectiva histórica do mundo inteiro

Por Selma Santos/Setor de Formação MST
Da Página do MST

Che Guevara é parte orgânica da história política e revolucionária de Cuba, mas também da América Latina e África. Che e a Revolução Cubana se complementam e se tornam precursores de uma nova perspectiva de lutas e horizontes socialistas no continente, como símbolo de uma realidade concreta nos “países de Terceiro Mundo”, na segunda metade do século XX. Como dirigente comunista enfrentou radicalmente as mazelas do mundo capitalista, constituindo-se num dos principais dirigentes da construção de uma sociedade comunista (a partir do legado teórico e prático marxista/leninista).

Não se trata, portanto, de um estereótipo romântico ou mercadológico de um Che irreal, mito, aventureiro ou idealista. Trata-se de um quadro teórico/prático que assumiu para si a responsabilidade de atuar nas demandas do seu tempo, com a coragem, a determinação, a ousadia e a interpretação realista das principais contradições das sociedades latino-americanas. Atuava com as qualidades de um quadro revolucionário, com a sensibilidade de ser humano na pratica novos valores, coerentes, que se forjassem juntamente com a construção da sociedade comunista.

Como comandante guerrilheiro e estrategista militar, logrou diversas vitórias no triunfo da revolução cubana, assim como nas demais experiências de guerrilhas das quais participou em outras partes do mundo, tais como a luta anticolonial no Congo e anti-imperialista na Bolívia, as quais se colocavam na perspectiva da luta socialista a partir da década de 1960.

Che, nas suas diferentes facetas

Revolucionário, guerrilheiro, comandante militar, chefe de Estado, Ministro da Industria em Cuba, médico, escritor, fotografo, dentre tantas outras funções que ocupava, foi a síntese de um homem de pensamento e ação que transcendia e influía a história latino-americana. Uma dessas grandes virtudes foi o de colocar como necessidade histórica as mudanças revolucionárias em prol do socialismo.

Cuba, na década de 1960, também enfrentava a ofensiva externa através de um tipo de capitalismo mais competitivo, mais predatório, centralizado e poderoso: a era do capital monopolista. E por isso mesmo, um dos desafios da Revolução, seria planejar a economia nacional com métodos de condução econômica no mesmo patamar da evolução da economia mundial, porém, no âmbito inverso, trazendo resultados concretos para a vida da população cubana mesmo com todas as imposições do bloqueio econômico e político norte-americano.

Che buscou estudar e compreender os fundamentos e o funcionamento das determinações do avanço do capitalismo mundial, criando, entretanto, uma proposta radicalmente oposta com base numa concepção humanista da economia, tendo o ser humano como centro. Assim, valores como a solidariedade, a justiça social, a cooperação entre os trabalhadores, a consciência do papel histórico de cada cubano e cubana para com o destino da sociedade socialista eram centrais para a vitória do socialismo em Cuba.

Herança do pensamento econômico de Che, transformado em legado, e dos demais revolucionários membros do governo cubano, ainda hoje é possível evidenciar que no país não existe nenhuma criança cubana dormindo nas ruas e nenhuma família passando fome. Para além dos direitos básicos de acesso comum, todo cubano/cubana tem acesso ao melhor da arte, de forma gratuita: balé, concerto, musicais, teatros, cines, shows, entre tantos outros.

Criou-se um tipo de desenvolvimento econômico voltado para atender as necessidades básicas materiais coletivas, mas também às necessidades do espírito, da mente criadora e transformadora, da realização plena enquanto ser que transcende a produção e reprodução da vida (na forma da sobrevivência). Cuba é uma sociedade criadora e consumidora de uma arte/estética que se pauta pela essência cultural da existência de seres humanos potencialmente evoluídos espiritualmente no sentido mais profundo e belo do gênero Humano.

O Humanismo em Che é, portanto, o Humanismo revolucionário, marxista (no âmbito da filosofia da práxis na teoria e ação revolucionária), que se verifica e se expressa na concepção do papel de novos seres humanos na construção da revolução e na sua ética comunista.

O núcleo central do pensamento do Che se formula no contexto da madurez da transição socialista em Cuba. Portanto, alguns germens de seu pensamento perpassam suas obras, concebem a luta pelo socialismo desde a questão estratégica do poder em íntima relação com as diversas realidades do mundo, seja o sistema capitalista mundial e suas contradições internas, a luta dos povos por sua libertação, o campo socialista no mundo e todas as inter-relações que sustentam esse contexto.

Crê na possibilidade de eliminação da exploração do trabalho do homem pelo homem, na eliminação da exploração de um país sobre outro (jugo imperialista), na eliminação da opressão de gênero e de classe. Concebe complexa relação entre economia, política, arte, ética, estética, educação, ideologia, justiça. Concebe inter-relação permanente entre teoria e pratica e prática e teoria. É um filósofo da práxis. Aposta na não separação entre política e economia para a construção do socialismo. Também não separa produção manual e intelectual do trabalho para a reprodução da vida. Assim mesmo o próprio Che era Ministro de Economia, onde assumia tarefa intelectual e fazia trabalho voluntário no corte de cana-de-açúcar com os camponeses.

Exemplo raro de humanismo, internacionalismo. Foi também teórico sobre o papel do quadro revolucionário, sobre um quadro de novo tipo, que fosse a coluna vertebral da revolução, com capacidades impares sobre o papel do quadro dirigente político; da juventude comunista, de como deveria ser a juventude comunista; do homem e da mulher emancipada, do método de direção, de médico e comandante do povo cubano entre tantos outros exemplos.

Por fim, nesta data de 09 de outubro de 2020, se completam 53 anos da sua execução por soldados bolivianos (sob as ordens da CIA), no município de Vallegrande, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde Che comandava um destacamento guerrilheiro e foi emboscado. Importante memorizar para as futuras gerações o quanto seus exemplos eram os de um ser que exercia na totalidade a práxis revolucionária em todas as dimensões.

Mas, há que se evitar colocá-lo no pedestal da história como um ser endeusado e transcendente do humano. Seria contraditório aos seus princípios, pois ele mesmo estaria em permanente oposição a essa postura. Inclusive porque, como homem de seu tempo histórico, foi capaz de enormes avanços, mas também de erros e equívocos.

Privilegiado, o próprio meio proporcionou as reais condições para o desenvolvimento de um quadro revolucionário da grandeza de Che: atuou ao lado, ombro a ombro de mulheres e homens de grandeza revolucionária extraordinária, como Fidel, Camilo Cienfuegos, Haydée Santamaria, Célia Sanchéz, Raul Castro, Vilma Espín, e tantos outros que formavam a vanguarda de combatentes, (junto com a imbatível aliança operária e camponesa em Cuba), e também lutou ao lado de tantos outros valorosos combatentes na causa socialista em outros países e continentes.

Estes lutadores e lutadoras construíram as circunstâncias históricas necessárias, foram capazes de brindar a história humana com belos exemplos de luta por sua libertação. Che foi um destes construtores das mais belas conquistas da revolução socialistas! Teus exemplos ecoam sobre novas gerações e convocam-nas à luta anti-imperialista, anticapitalista, antifascista, rumo ao socialismo.

Viva Che Guevara! Viva a Revolução Cubana! Viva a luta socialista!

*Editado por Fernanda Alcântara