Em Rondônia, acampamento Che Guevara abastece cidade com alimentos da reforma agrária

Alvo de ações de despejo, acampamento resiste há mais de 20 anos com nome em homenagem a Che Guevara

Campo de Futebol. Foto: Arquivo do acampamento Che Guevara/ MST

Por Redação da Região Centro-Oeste/ MST
Da Página do MST

Não é novidade que Che Guevara é uma inspiração de luta e resistência. No Brasil, muitos espaços como escolas, centros de educação, assentamentos e acampamentos levam seu nome como legado. Em Rondônia, não é diferente. No município de Alto Alegre dos Parecis, a 530 km da capital, há mais de 20 anos o acampamento Che Guevara é símbolo de luta e resistência.

A ocupação que teve início em 7 de setembro de 1997, com pouco mais de 70 famílias. É, atualmente, um dos maiores locais de produção de alimento da reforma agrária no estado, que abastece inclusive grande parte do município, que tem pouco mais de 13 mil habitantes.

“A gente morava em Alta Floresta (MT) quando ficou sabendo que ia ter ocupação. Meu marido veio primeiro e depois eu vim com meus três filhos, porque queria muito ir pra luta, ganhar nossa terra. Foi muito difícil, era sofrido, a gente sofria discriminação, mas a gente nunca desistiu. Tem 22 dois anos que a gente tá aqui, estamos em cima de um pedaço de terra, que não é nosso de papel passado, mas a gente considera”, conta Lúcia Alves Ferreira Guerra, acampada do Che Guevara.

Início da ocupação. Fotos: Arquivo do acampamento Che Guevara/ MST

A ocupação da então Fazenda Morimoto mobilizou, a exemplo da família de Lúcia, pessoas de diversas regiões que queriam um pedaço de terra para plantar. No início, apenas 78 família ocuparam a área, mas depois foram chegando mais e mais famílias, até chegar a 380. “A gente era jovem e entusiasmado, quando começamos a mobilização a gente queria que esse fosse o maior assentamento do estado de Rondônia pela grandeza do nome Che Guevara”, conta Adilson Cansado, militante do MST.

Plantação de café no acampamento. Foto: Arquivo do acampamento Che Guevara/ MST

Depois da ocupação, as famílias fizeram uma pequena divisão da área para iniciar a primeira produção do acampamento e plantaram feijão, milho, mandioca, hortaliças, entre outros produtos.

Atualmente, as famílias produzem 1,5 milhão de pés de café, roças de milho e feijão. “No último levantamento feito pelas próprias famílias assentadas, foram comercializadas cerca de 4,5 mil sacas de feijão, 10 mil sacas de milho, alta proporção da colheita do café, entre outros. Além disso, na área tem se desenvolvido um processo de beneficiamento da produção de café”, destaca trecho de uma matéria publicada em fevereiro deste ano.

A produção do acampamento abastece o município com a variedade de produtos. “Nós abastecemos a área urbana aqui de 20 mil habitantes, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Movimentamos a economia do município”, conta Adilson Cansado.

Despejos

Embora as famílias estejam na área há mais de 20 anos, ainda não houve processo de regularização, o que faz com que as famílias que vivem e produzem no território estejam sob constante ameaça. Em 2005, o acampamento sofreu a primeira ação de despejo. Um marco na história da luta por reforma agrária popular e que também marcou a história do acampamento.

“Foi um momento da nossa história que ficou marcado não só para o assentamento, mas para toda a cidade. Virou um símbolo de luta por termos resistido por oito dias dentro da ocupação”, conta Adilson. Nesta época, as famílias saíram da área, mas retornaram depois de alguns dias e permanecem até o momento.

Despejo em 2005. Foto: Arquivo do acampamento Che Guevara/ MST

Rondônia é um estado bastante cobiçado por madeireiros, fazendeiros, são inúmero os conflitos agrários. Nos anos de 2016 e 2017 acampamentos do MST em Rondônia sofreram ações de despejos violentas impulsionadas por grupos de pistoleiros. “A milícia veio, ameaçou, queimou acampamento. Depois não teve como continuar com a luta porque as pessoas ficaram com medo”, aponta Camilo Augusto, da Direção Estadual do MST/RO.

Além dos despejos do acampamento Che Guevara, existem mais 12 acampamentos ameaçados por ações de despejo em Rondônia em 2020, de acordo com um levantamento realizado pela Agência Pública.

Che, inspiração

Produção no acampamento hoje. Foto: Arquivo do acampamento Che Guevara/ MST

O dia 9 de outubro é marcado pelo assassinato de Che Guevara na Bolívia. O revolucionário se tornou símbolo de luta e resistência, principalmente da luta anti-imperialista. “O nome do acampamento foi escolhido pela grandeza de Che. Queríamos que as pessoas, principalmente os jovens, se identificassem com essa luta. Uma luta que é feita no dia a dia. Nós estamos fazendo nossa revolução, a cada dia, com cada família que veio lutar por essa terra. Quando olhamos pra história de Che, a gente sabe que o capitalismo tentou apagar essa memória, mas a história resiste e, assim, nós também resistiremos e continuaremos em luta”, ressalta Adilson Cansado.

Na região Centro-Oeste, Che Guevara ainda da nome e inspira assentamentos nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás.

Semana de Luta Anti-Imperialista

A Semana Internacional de Luta Anti-imperialista, realizada entre os dias 5 a 10 de outubro, em confluência por movimentos de todo o mundo – entre eles, o MST -, é um momento de debates, exposições culturais e outras ações voltadas à exposição das agressões imperialistas no mundo, e tem como objetivo chamar os povos para que, juntos, possam encontrar soluções para acabar com a opressão imperialista disseminada por todo o planeta. Saiba mais: Jornadaantiimperialista.org.

*Editado por Fernanda Alcântara