Sem Terrinha em movimento cultivando a educação

Já no início da pandemia o setor de educação do MST em conjunto com setores organizados debatem sobre a problemática do retorno às aulas na pandemia

“Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança: estar sempre alegre, nunca ficar inativo e chorar com força por tudo o que se quer”
Paulo Leminsk

Por Sônia Maria Roseno e Maxuel Martins da Silva (Org.)*
Da Página do MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em seus 36 anos de história e de luta está organizado em 24 estados da Federação Brasileira.

Atualmente, possui cerca de 350 mil famílias assentadas, mais de 70 mil famílias acampadas lutando pela terra.

E, em média, duas mil escolas públicas nos assentamentos e acampamentos, onde estudam cerca de 160 mil crianças e adolescentes. Em potencial, esses dados ainda são baixos, a saber, pela luta constante por escola pública no interior do Movimento, a luta permanente do MST, no que se refere ao direito à educação, especialmente a educação básica, no decorrer destes últimos anos.

Poderíamos evidenciar também, as vitórias alcançadas na educação de jovens e adultos e no ensino superior, realizadas através de parcerias entre o Movimento Sem Terra e instituições de ensino na incansável busca da produção do conhecimento para formação do intelectual orgânico (GRAMSCI, 1995), mas, o foco aqui, é o protagonismo da infância Sem Terra.

Sem Terrinha é a identidade das crianças organizadas no MST, é uma identidade que revela e reforça a consciência de ter direitos, a beleza e a auto estima de ser criança do campo em Movimento.

Historicamente, no MST, pelo menos duas necessidades básicas deram origem e provocaram o Movimento a olhar para a infância. Uma se deu ainda nos acampamentos, e, posteriormente, nos assentamentos à medida que as mulheres/mães começaram a participar, através dos grupos coletivos, das cooperativas e associações.

A outra com a participação das mulheres na militância, quando se inserem na organização política, desde o local, ao nacional, participando de cursos formais, encontros de formação de formadores e formadoras, das lutas, reuniões, das marchas.

Dessa necessidade e da prática de atuar com a infância nasce então o setor de educação que busca no dia a dia aprender com as crianças para elaborar uma concepção e uma prática que afirme a criança como um sujeito de direitos.

Como aprendemos com Paulo Freire quando nos diz: “Eu acho que uma das coisas melhores que eu tenho feito na minha vida, melhor do que os livros que eu escrevi, foi não deixar morrer o menino que eu não pude ser e o menino que eu fui, em mim” (FREIRE, 2001, p. 101).

As crianças organizadas no MST realizam todos os anos, no mês de outubro, a Jornada Nacional das Crianças Sem Terrinha, onde realizam encontros, audiências, plantios, passeatas e etc. Neste ano a jornada teve como lema Sem Terrinha em Movimento Cultivando a Vida.

As crianças Sem Terrinha fizeram encontros e reuniões on-line, plantaram árvores em espaços comunitários e em seus lotes, escreveram cartas, poemas, desenharam e realizaram uma bonita assembleia nacional.

Os pequenos se colocam em Movimento e colocam na pauta, temas como a precariedade da educação no campo causada pela falta de estrutura nas escolas, transporte escolar, atendimento apropriado para crianças com necessidades especiais, combate às desigualdades de gênero, racismo e o fim do fechamento das escolas no campo. Nos últimos 15 anos foram fechadas mais de 37 mil escolas do campo em todo o Brasil (MST, 2014, p. 1).

As crianças também denunciaram a situação de violência no campo, exigindo segurança nas áreas de conflitos, reivindicando os assentamentos das famílias acampadas pelo país e a desapropriação das terras concentradas nas mãos de poucos.

Na Jornada de luta dos Sem Terrinha deste ano as crianças também afirmaram que voltar às aulas na pandemia é crime!

Porque o Brasil já ultrapassou a marca de 150 mil mortos pelo novo coronavírus. Mortes essas que poderiam poderiam ter sido evitadas caso o presidente da república, Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de Minas Gerais (Romeu Zema) não fosse tão negligentes no combate à pandemia.

Neste sentido, fica evidente a necessidade de discutir o tema sobre o retorno às aulas na pandemia. Um dos agravantes é convencer o Estado Brasileiro de que não há possibilidade de retorno às aulas presencias, de forma segura. Pois as escolas não têm estruturas necessárias para garantir a seguridade dos estudantes e dos trabalhadores da educação.

O risco é muito grande já que avós, pais, e mães dos estudantes também estariam expostos ao vírus. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) faz a luta pelo direito à escola pública, gratuita e de qualidade. Entende que o acesso à educação é algo inegável.

Por isso, diante do grave momento que enfrentamos, nos cabe continuar fazendo é lutar pela defesa da vida.

Já no início da pandemia o setor de educação do MST em conjunto com setores organizados debatem sobre a problemática do retorno às aulas na pandemia.

A compreensão destes movimentos e setores populares é que, cabe à população brasileira, continuar seguindo as determinações da OMS (Organização Mundial de Saúde) e demais responsáveis, de continuar também mantendo o isolamento social e retornar às escolas, quando a pandemia estiver eliminada ou controlada, ao ponto de não colocar em risco nosso maior património: à vida. Ano letivo se recupera, vidas não!

Em síntese, os Sem Terrinha também se manifestam através dos seus ‘gritos ou palavras de ordem’ que são reveladoras do sentido das Jornadas:

Quem são Vocês? Sem Terrinha outra vez. O que que traz? A vitória e nada
mais. Esta onda pega? Esta onda já pegou, pra anunciar, que os Sem Terrinha já chegou, já chegou, já chegou!

Brilha no céu a estrela do Chê, somos Sem Terrinha do MST! Sem Terrinha em Movimento, Por escola Terra e dignidade!

Sem terrinha em Movimento: Brincar, Sorrir, lutar por Reforma agrária
popular!

* Sônia Maria Roseno é graduada em Pedagogia da Terra (UNIJUÍ); mestre e doutora em Educação (FaE/UFMG), educadora popular e integrante do setor de educação do MST