Lute como Sem Terrinha: Em Movimento, Cultivando a vida!

A Jornada Nacional Sem Terrinha deste ano foi diferente, mas a pandemia não desanimou as crianças
Os Sem Terrinha do acampamento Pátria Livre, em São Joaquim de Bicas (MG), realizaram ação de plantio de mudas frutíferas no município de Sarzedo. Fotos: CCJLGBT

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Elas cantaram, escreveram, desenharam e plantaram seus compromissos de luta. Assim foi a Jornada Nacional das Crianças Sem Terrinha, realizada com atividades simbólicas nos assentamentos e acampamentos espalhados pelo Brasil e virtualmente em caráter especial devido à pandemia da Covid-19. Nas diversas áreas de Reforma Agrária, crianças participaram da construção de uma Jornada diferente, mas com a mesma garra de sempre.

E nada mais justo que terminar esta jornada com um ato que conseguisse unir, mesmo que virtualmente, estas crianças que constroem todos os dias o futuro do Movimento. Na Assembleia Nacional das Crianças Sem Terrinha, realizada nesta segunda-feira (12), vimos o resultado de um processo acumulativo dos encontros de crianças em todos os estados onde o MST está organizado.

Desde o dia 01 de outubro, diversos espaços promoveram trocas e aprendizados sobre a importância da conservação da natureza, a produção de alimentos saudáveis e a luta pela Reforma Agrária Popular. Confira algumas destas ações.

Ocupando a comunicação popular

As crianças assumiram o protagonismo e colocaram a mão na massa em diversos programas de rádio e na internet. Um dos destaques foi a ocupação no Programa Café com MST da última terça-feira (6), debatendo o tema desta jornada “Sem Terrinha em Movimento: Cultivando a Vida!”. O programa teve a participação de Flavinha Tereza, do Coletivo Nacional de Educação do MST, Fernanda Silva Carvalho, Sem Terrinha do estado Pará, e Marta Rodrigues de Oliveira, Sem Terrinha do estado do Rio Grande do Sul.

Crianças Sem Terrinha no assentamento Normandia, localizado em Caruaru (PE). Foto: Divulgação MST

Em Santa Catarina comandaram o programa Vozes em Movimento, onde estavam presentes crianças das várias brigadas do estado e prepararam músicas, poemas, contação de história, brincadeiras, plantio de árvores e lembranças do Encontro Nacional. No Paraná, houve a participação especial da Sem Terrinha Andressa Cristina Nestor e do Sem Terrinha Pedro Gonçalves, que contaram um pouco sobre a Jornada Nacional dos Sem Terrinha.

Durante a tarde desta última sexta (09), crianças Sem Terrinha de todos os cantos de Pernambuco estiveram juntas virtualmente, reinventando brincadeiras para se conhecerem. Também na sexta, dia em que rememoramos o legado de Che Guevara, os Sem Terrinha do assentamento Dênis Gonçalves, em Goianá (MG), plantaram mudas de angico para proteger uma mina d’água da comunidade.

À noite, diversos acampamentos de todo o país se juntaram para assistir a Mostra Cinema na Terra, que lançou o ficção “Um Fantasma Ronda o Acampamento”. O filme, gravado com as crianças da Ciranda Saci Pererê, da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), é baseado no livro homônimo da escritora Maria José Silveira, que participou do lançamento e de um bate-papo antes da estreia.

Cena de Um Fantasma Ronda o Acampamento, ficção produzida pelo MST. Foto: Divulgação MST

Plantio de árvores

Um dos objetivos da Jornada foi dá destaque e priorizar as ações do plantio de árvores e da produção de alimentos saudáveis, lançando a Campanha pelas crianças Sem Terrinha e envolvendo todos os estados. Será um espaço também de entender a dimensão política da luta.

“Compreender o Movimento, o porquê a gente se organiza, porquê a gente luta pela terra, compreender o período que a gente está vivendo, a conjuntura. É ser Sem Terrinha na luta, junto com os pais, com as mães, junto com a família. É com essa perspectiva que a gente segue aí organizando essa Jornada de 2020”, defende Flavinha Tereza, do setor de educação do MST no estado de Pernambuco.

No primeiro dia de outubro, as crianças do acampamento Pátria Livre, em São Joaquim de Bicas (MG), participaram de um cine-pipoca e um bate-papo sobre a importância de conhecer a natureza e o local onde vivemos. Famílias Sem Terra dos acampamentos Terra Livre e Mãe dos Pobres, em Clevelândia (PR) receberam e plantaram 2000 mudas de árvores nativas no mesmo dia.

Crianças Sem Terrinha de todos os cantos de Pernambuco se juntaram, virtualmente, reinventando nossas brincadeiras para se conhecerem. Foto: MST em Pernambuco

Aos poucos, as ações foram se materializando por todo o país. Momentos como na Escola Municipal do Campo José Clarimundo, no assentamento Oito de Abril, em Jardim Alegre (PR), que distribuiu aos educandos e educandas 200 mudas de árvores para serem plantadas ao entorno de suas casas.

Estas ações se transformam em história que atravessam gerações levando a mensagem de amor à natureza e à vida. Um exemplo é a história da Sem Terrinha Maria Sophia, neta de assentados do assentamento Agrovila 3, em Itaberá (SP).

“Hoje eu vou contar a história do meu falecido vô bastião. Há 30 anos, quando ele veio trabalhar para cá, ele plantou essas árvores. Ele sempre gostou do plantio, adorava plantio, e nunca gostou que machucassem a natureza. Por isso, depois que ele morreu, minha vó não deixa ninguém chegar perto destas árvores para cortar. Agora virou um ponto de encontro para todo mundo, pessoas vem conversar aqui no banco, nas sombras que as árvores fazem.

Por isso, quando eu olho para ela, é uma lembrança viva do meu Vô Bastião, porque eu tenho muito poucas lembranças dele, e essa é uma lembrança minha. Por isso, não machuque a natureza.

Essa é uma história de Sem Terrinha, para os Sem Terrinha”

Sem Terrinha em Movimento, cantar, sorrir, brincar – por Reforma Agrária Popular!

A assembleia das crianças Sem Terrinha finalizou com ternura e alegria esta jornada diferente. A transmissão, que poderia ser acompanhada pelo YouTube ou pela plataforma Zoom, incluiu vídeos e fotos das atividades de plantio e cultivo de mudas realizados nos estados, além de mostrar desenhos, cartas e poesias sobre o plantio de árvores e a destruição da natureza nas regiões. Tudo isso de forma democrática, com muita música e animação e, principalmente, participação das crianças.

Durante a assembleia, as crianças puderam brincar e viver esse período da pandemia de uma maneira mais lúdica, sem deixar de lado a necessidade de pensar um modelo de produção sustentável que dê qualidade de vida todos. As crianças agora irão construir a infância nos estados e refletir sobre todos estes temas do encontro, levando para seus espaços a mensagem de solidariedade e união baseada na agroecologia.

*Editado por Wesley Lima