Denise Leal e sua trajetória militante, feminista e socialista

Sua principal atuação no Maranhão foi no Centru e nas organizações políticas e o seu legado na luta das mulheres!

Denise (a segunda da direita para esquerda), ao lado de Manoel e do neto Vitor Hugo e Maria Manuela, na comemoração de seus 80 anos. Foto: Arquivo pessoal

Por Zé Luís Costa
Da Página do MST

No último sábado (24) foi realizada grande comemoração online entre os militantes do Estado do Maranhão e alguns militantes que vivem em outros estados do país, para comemorar o aniversário de 80 anos da militante e feminista, Denise Leal. Ela se tornou socialista, sobretudo, depois de ter conhecido e conviver com Manoel da Conceição, uma das maiores lideranças camponesas, ainda viva na atualidade no Maranhão.

Denise é um exemplo de luta e feminista, socialista para as mulheres atuantes nos dias de hoje, afirma a militante feminista e professora universitária, Conceição Amorim, de Imperatriz, no Maranhão. Para Conceição, que foi uma das coordenadoras do evento, o momento foi emocionante e teve também a participação de familiares e amigos que há muito tempo, não tinham contatos.

A militante iniciou seu trabalho como religiosa, passou um ano no Colégio Imaculada Conceição. Depois, com mais três religiosas foi morar na Favela Cidade Aflita, na Praia do Futuro, onde passou cinco anos. Quando morava na favela trabalhou no Movimento de Educação de Base – MEB, após isso, por intermédio do Bispo Dom Aluísio Lochaider, passou a trabalhar no Presídio Paulo Sarasat, como assistente social, em uma dessas atividades conheceu Manoel da Conceição e segue lutando a seu lado. Viajou com Manoel para o exterior, quando foi exilado e passou um tempo dando palestras na Europa, sobre o que ocorria no Brasil. Sendo suporte de luta, que agora também passou a ser sua luta.

Mas, a principal atuação de Denise no Maranhão foi como membro do Centro de Educação do Trabalhador Rural – Centru e das organizações políticas do estado e seu legado na luta pelas mulheres. Ela desenvolveu um trabalho de assessoria jurídica nessas entidades em defesa dos trabalhadores, pois havia se formado advogada. Trabalhando para que as mulheres tivessem participação ativa e igualdade com os homens nas entidades sindicais e organizações populares. “Nesse tempo as mulheres não tinham direitos de se associarem ao sindicato. Para isso nós começamos uma luta muito grande, para as mulheres se associarem. Então, essa luta das mulheres de se associarem e não ficassem mais dependentes dos maridos, começou em São Pedro Água Branca [São Pedro da Água Branca é um município brasileiro no extremo oeste do estado do Maranhão] e se alastrou por todo o Maranhão”, explica Denise em um de seus pronunciamentos.

Denise Leal discursando em evento. Foto: Arquivo de Mariana Nóbrega

Quando Manuel da Conceição e Denise retornaram ao Brasil, do exílio, eles resolveram morar no estado do Pernambuco, pois no Maranhão ele ainda sofria perseguição pelos coronéis, da época. O ano era 1980 e, em uma articulação entre o estado do Maranhão e Pernambuco eles criaram o Centru. Manoel da Conceição também ajudou na fundação do Partido dos Trabalhadores – PT, sendo um dos primeiros a assinar a lista de presença na plenária de fundação do partido.

O tempo se passou e Denise continuou com seus trabalhos de solidariedade, atuando nos presídios da cidade de Fortaleza-CE, ajudando os presos, principalmente presos políticos, a manterem contato com suas famílias.

A agrônoma, filha de Denise, Mariana Nóbrega, conta que sempre viu sua mãe na luta, atuando, principalmente na área do Direito Agrário. “Ela trabalhou na defesa e pelo acesso à terra de seus companheiros aqui dessa região [referindo se à Região Tocantina a qual morava] e também na questão da formação das associações e cooperativas. Sempre teve presente nessa questão. E também assessorou por muitos anos o movimento sindical. Inclusive da Fetaema [Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Maranhão]”, explica Mariana.

Origem de luta

Denise se envolveu na luta, pois carrega desde jovem o sentimento de solidariedade com as pessoas mais necessitadas, como conta ela: “Na minha juventude, quando eu tinha uns 16, 17 anos (naquela época não entendia ainda nada de marxismo, nem de socialismo), mas tinha um senso de justiça dentro de mim. Esse sentimento, fez-me quando comecei a trabalhar muito cedo e a ganhar dinheiro, dando aulas particulares no município de Campina Grande. Em vez de comprar minhas coisas, um vestido, por exemplo, eu comprava comida para os velhinhos da minha comunidade e roupas para quem precisava”, relata.

Ela nasceu em 24 de outubro de 1940, na cidade de Casinha, interior do estado do Pernambuco. A cidade tem uma história ligada a solidariedade, segundo a história local, havia uma senhora com deficiência, em uma casinha que dava abrigo aos viajantes que passavam rumo ao distrito de  Bom Jardim, município próximo. A casinha, em seguida, foi comprada por José Barbosa Farias e construído no local uma capela à Nossa Senhora das Dores, formando na localidade um núcleo de devotos que posteriormente se tornou o município Casinha, se emancipando no ano de 1997.

*Editado por Solange Engelmann