MST RS inicia pesquisa para melhorar produção de arroz agroecológico

O projeto conta com cinco experiências diferentes para trabalhar o manejo do alimento e melhorar a renda das famílias assentadas

Assentados investem em pesquisa para melhoria no manejo do arroz agroecológico. (Foto: Maiara Rauber)

Por Maiara Rauber
Da Página do MST

“Nosso trabalho é baseado nos princípios da agroecologia, que respeita as pessoas, a relação com a comunidade, e também a natureza. Buscamos técnicas de manejo que melhoram o sistema de produção, não poluem e preservam os recursos naturais” relata Celso Alves da Silva, da coordenação do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico. De acordo com os assentados do MST na região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a demanda por melhorias no manejo da produção do arroz orgânico é constante. 

As famílias assentadas produtoras de arroz, juntamente ao Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), com auxílio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Instituto Federal Farroupilha (IFF) de Viamão, como entidades convidadas, iniciaram em 2020 a primeira etapa de uma experiência de três anos para aperfeiçoar e corrigir o atual manejo. 

O objetivo dos agricultores assentados é pensar em um manejo que siga preservando o meio ambiente, melhore a produtividade e possibilite às famílias a melhoria de renda na atividade. “Estamos focando em qualificar a produção e isso nos levou a buscar conhecimento em torno da tecnologia de produção. A ideia é que possamos acrescentar o conhecimento dos nossos agricultores ao longo desses 20 anos de cultivo do arroz agroecológico e o conhecimento técnico do IRGA para nivelar e padronizar o nosso trabalho” destaca Silva. 

Edivane Portela, do IRGA, apresenta os cinco sistemas de manejo que serão trabalhados durante os três anos de pesquisa. (Foto: Maiara Rauber)

De acordo com o assentado, o grande desafio é pensar o manejo das lavouras para que seja possível aumentar a fertilidade e a atividade biológica no sistema de produção do Grupo Gestor de Arroz Agroecológico. Atualmente o projeto leva o título de Programa de Formação e Pesquisa de Produção de Arroz em Sistemas de Base Ecológica (PEPABE). O experimento será desenvolvido em três unidades: Nova Santa Rita, Eldorado do Sul e Viamão.

A elaboração do Programa foi estimulada pelas organizações ligadas a produção de arroz orgânico dos assentamentos de Reforma Agrária do Rio Grande do Sul, como a Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (COOTAP) e a Associação dos Moradores do Assentamento Filhos de Sepé (AAFISE). 

No estado gaúcho, existe um total de 5 mil hectares de área com cultivo de arroz em sistemas de base ecológica. Destas, em torno de 4 mil hectares encontram-se em áreas de assentamentos da Reforma Agrária. 

“O arroz orgânico vem passando por algumas dificuldades e as instituições de pesquisa e assistência técnica não tem respostas. A ideia é que esse trabalho nos ajude a responder algumas das questões levantadas na criação do programa”, relata Edivane Portela, do IRGA.

Segundo ele, a primeira fase do experimento foi iniciada em abril deste ano. O objetivo do projeto é conhecer e qualificar os sistemas do arroz orgânico, e suas técnicas de manejo, atualmente utilizadas na produção, a fim de obter melhores resultados de viabilidade produtiva a curto prazo, além de validar e difundir as tecnologias utilizadas.

O experimento inclui a formação dos produtores, com atividades teóricas e práticas sobre a produção de sementes de arroz e o manejo das variedades. Também é ofertado formação para facilitadores, ou seja, técnicos, coordenadores de grupos de produção, as direções de cooperativas e os coordenadores de projetos. As atividades consistem em rodas de conversa sobre temas estratégicos, que buscam sistematizar orientações de manejo para os sistemas de produção de arroz de base ecológica, ancoradas principalmente na redução de perdas e ganho de fertilidade.

Sistemas de manejo

O PEPABE é dividido em cinco sistemas de manejos diferentes, todos participarão do experimento durante os três anos de pesquisa. O primeiro sistema não possui a interferência de nenhum tipo de insumo agroecológico, determinado pousio. No caso do segundo, a base é de pó de rocha em pousio, com o objetivo de observar a resposta ao manejo de base ecológica. Já o terceiro modelo conta com a adubação orgânica e, como o sistema anterior, observa o manejo de base ecológica e a aplicação de adubação orgânica.

E no quarto é utilizado o trevo persa, que também trabalha na base ecológica como cobertura de inverno. Por fim, o quinto modelo utiliza tanto adubação orgânica, quanto o trevo persa, nesse caso a ideia é observar a resposta ao manejo de base ecológica com a contribuição do trevo persa de cobertura de inverno e a correção de adubo orgânico para a produtividade desejada. 

“Esse trabalho vai ser repetido por três anos para acompanhar a resposta de diferentes manejos da produção de arroz de base ecológica e também nos oferecer parâmetros para futuras recomendações de manejo”, simplifica Portela. 

Assentados e colaboradores participam de dia de campo sobre o projeto PEPABE. (Foto: Maiara Rauber)

De acordo com Celso Alves da Silva, foi necessário realizar essa revisão do manejo para aperfeiçoar e implantar unidades de observação e demonstração. “A partir dessa pesquisa faremos as correções necessárias para ter um manejo adequado para a realidade de cada região e o tipo de solo que temos no nosso estado” enfatiza. Com isso, será possível chegar a melhores resultados na produção do arroz orgânico, na preservação do meio ambiente, na economia e renda do produtor, e na qualidade do alimento. 

“Estamos muito contente com o trabalho que vem sendo feito, com o empenho de todos os nossos agricultores, da organização, da instituição e dos técnicos para que a gente possa colher os resultados desejados”, afirma Silva. 

A partir dessa experiência, o Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, reforça a política de fomento ao desenvolvimento e a consolidação da produção. Isso garante aos assentados a semente, o adubo orgânico, manejo da drenagem, o que leva a ter uma lavoura bem implantada e conduzida. Além disso, segundo Silva, é realizado um seguro das lavouras. “Aprendemos a importância dessa precaução pelas perdas que as questões climáticas já nos proporcionaram. São coisas que não dependem dos produtores”, conclui.

Esse tipo de política, contribuiu para que os assentados realizem uma atividade prazerosa, e incentiva a busca de melhorias em todos os etapas do processo de produção. 

*Editado por Solange Engelmann