O povo cuidando do povo: Agentes Populares de Saúde iniciam ações, na Paraíba

Primeiras turmas de voluntários terão como foco o combate ao novo coronavírus em comunidades rurais no litoral do estado

Mais de 50 voluntários estão dispostos a construir uma rede de solidariedade nas comunidades do MST no estado. Foto: Setor de Comunicação do MST/PB

Por Setor de Comunicação do MST/PB
Da Página do MST

Entre o mês de março e abril deste ano, Maria Aline, moradora do acampamento Arcanjo Belarmino, em Pedras de Fogo, na Paraíba, sentiu alguns sintomas de Covid-19 e se isolou em casa. Por falta de assistência adequada, além de febre e perda do olfato, ela começou a apresentar também um quadro de depressão. Embora não tenha manifestado os mesmos sintomas, Lúcio, um dos poucos moradores com carro no local, suspeita ter contraído a doença enquanto transportava vizinhos até o posto de saúde. Ambos lembram que, por falta de informação, um dos vizinhos entrou em pânico e quase cometeu suicídio.

Já no assentamento Tiradentes, no município de Mari, Silvânia dos Santos, mãe de três filhos, ficou mais de quinze dias de cama, com febre, dores no corpo e sem saber exatamente o porquê. Chegou a ser diagnosticada com inflamação nas articulações da coluna, gastou com remédios e só depois soube que havia contraído o novo coronavírus. 

Estes foram apenas alguns dos casos verificados e compartilhados ao longo da formação dos Agentes Populares de Saúde na Paraíba. Para prevenir tais situações, mais de 50 voluntários dispostos a construir uma rede de solidariedade nas comunidades em que vivem, ao longo das próximas semanas devem iniciar ações em diferentes regiões do estado.

No último sábado (7), foi realizada a formação das primeiras turmas com representantes de cinco áreas de Reforma Agrária do MST: Acampamento Arcanjo Belarmino e Pré-Assentamento Wanderley Caixe, ambos em Pedras de Fogo; Acampamento Dom José Maria Pires, em Alhandra; Acampamento Nova Esperança, em Caaporã e no Assentamento Tiradentes, em Mari.

A formação dos agentes populares de saúde faz parte da Campanha Mãos Fraternas e tem como lema: “O povo cuidando do povo!”. A proposta é que os agentes prestem as primeiras assistências a vizinhos e vizinhas, que vivem em áreas carentes de serviços de atenção à saúde. Na prática, além de trabalhar no enfrentamento ao Covid-19, as equipes farão também um levantamento dos principais problemas relacionados à saúde nas comunidades e irão auxiliar no encaminhamento das pessoas até as unidades de atendimento.

Solidariedade e autonomia

Agentes Populares de Saúde compartilham noções básicas de cuidados com as comunidades Sem Terra. Fotos: Setor de Comunicação do MST/PB

Ao longo da formação, os agentes aprenderam sobre como surgiu o novo coronavírus, suas características, modos de transmissão, sinais e sintomas, como identificar fatores e grupos de risco e práticas de prevenção. Durante os encontros foram trabalhados também noções básicas de cuidados com as famílias e comunidade e, de como acessar a rede de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS).

Damiana Barbosa participou da formação e também contribuiu com o processo de organização do curso na região. Ela conta que as experiências de solidariedade começaram antes mesmo da primeira aula: “A gente já começou a entender o que era o curso a partir do momento que nos reunimos para organizar os encontros. Como é o povo cuidando do povo, a gente já começou a se ajudar na partilha dos alimentos para fazer os almoços”. 

Sobre a missão como Agente Popular de Saúde, a moradora do Pré-Assentamento Wanderley Caixe mostrou-se empolgada: “Todos que aceitaram a causa, abraçaram com carinho. Tem dificuldades? Tem! Mas também tem o lado bom. E o lado bom é que a gente aprendeu bastante e agora temos como ajudar as pessoas. Saber realmente da situação de vida, do que come, do que não come, do que planta, quais os problemas de saúde… Agora a gente têm a autonomia de chegar na casa das pessoas e saber orientar as famílias. Aprender tudo isso foi muito importante!”

A agricultora e moradora do assentamento Tiradentes, Francisca Nunes também participou da formação e está otimista quanto ao início das atividades como agente: “Está todo mundo numa empolgação só! Já estão se perguntando ‘E aí, depois de seis meses a gente vai continuar com o trabalho?’. Nossa ideia é que, quando passar essa pandemia, a gente possa ajudar também os agentes comunitários de saúde a passar essas informações para o município e continuar buscando  melhorias nessa área de saúde”.

Plantando a vida

Na formatura do último sábado (7), além dos certificados e uniformes, os agentes também receberam mudas de plantas medicinais que foram apresentadas durante a formação. O objetivo é incentivar o plantio e a criação de viveiros e bancos de sementes em cada uma das áreas de assentamento e também promover o resgate do conhecimento tradicional sobre o uso de fitoterápicos. A iniciativa faz parte do Plano Nacional do MST  “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, que visa plantar 100 milhões de árvores nos próximos dez anos. 

A próxima formatura dos agentes populares de saúde na Paraíba será na sexta-feira (13), em Campina Grande. Devido às recentes ameaças à saúde pública por parte do Governo Federal, a atividade contará também com um ato público e solidário em defesa do SUS. O ato terá início, às 9 horas na Praça da Bandeira, no Centro da cidade.

*Editado por Solange Engelmann