Chocolate fino e aromático de assentamentos da Reforma Agrária é referência

A definição que categoriza derivados do cacau como “finos e aromáticos” leva em consideração a origem (“terroir”), características genéticas e a qualidade de fermentação das amêndoas

Imagens do filme Cacau para Sempre, de 2012 exibe a produção da Fábrica-Escola de Chocolate do assentamento Terra Vista. (Foto: Divulgação)

Por Lays Furtado
Da Página do MST

No caso da produção de chocolate do assentamento Terra Vista, localizado em Arataca, no Sul da Bahia, se destaca sua produção “tree to bar”. O termo é usado pelo mercado internacional para caracterizar o domínio sobre toda a cadeia produtiva que envolve o chocolate.

“O assentamento Terra Vista hoje é referência na produção de chocolate, sendo um dos poucos produtores de cacau da região sul da Bahia que desenvolve toda a cadeia produtiva desde a muda à barra, com uma fábrica dentro do assentamento.” conta Sálvio Oliveira, assentado da Reforma Agrária, cacauicultor e especialista na produção agroflorestal do cacau cabruca.

O processo de desenvolvimento e aprimoramento na produção de cacau só foi possível por meio da educação, com as escolas que hoje existem no assentamento Terra Vista. Como o Centro Estadual de Educação Profissional do Campo Milton Santos, e a Escola-Fábrica de Chocolate do Litoral Sul, lançada em 2018. Nesses espaços os estudantes colaboram no desenvolvimento das técnicas de produção, alternando sua formação complementar entre o “tempo escola” e o “tempo comunidade”.

“O  cuidado  com  o  cultivo  do  cacau  na  escolha  das  variedades  e  o  manejo  através do  cacau  cabruca  possui  influência  em  aspectos  importantes  como:  sabor  e  pureza das amêndoas de cacau, e, nas características físicas como: salubridade, consistência,  produção  de  material  comestível  e  características  da  manteiga  de  cacau.  Para  alcançar tais características são necessários dedicação e uso correto das técnicas de manejo empregadas na roça, como também dos processos de colheita, quebra, transporte, fermentação, secagem e armazenamento.” destacam pesquisadoras e pesquisadores sobre o “Chocolate Terra Vista, do cacau ao chocolate”, em um artigo apresentado em evento científico sobre Agroecologia.

Imagens do filme Cacau para Sempre, lançado em 2012. (Foto: Divulgação)

Apesar desse tipo de produto mais “refinado” do cacau representar menos de 5% do total comercializado entre os países, os mesmos podem custar até três vezes mais do que o cacau comum ou a granel, conhecido como “bulk”.

“O chocolate Terra Vista já é reconhecido nacionalmente e está conquistando espaço internacional, participando de importantes eventos na França, Portugal e Itália. Isso faz com que a juventude do assentamento se dedique e queira permanecer no assentamento”, salientam os pesquisadores e pesquisadoras.

Para a cacaiucultora Rafaela Oliveira, de 22 anos, esses processos formativos e de inovações produtivas foram importantes que ela criasse uma nova perspectiva de vida a partir do trabalho com o cacau, que antes via como “atrasado”, popularmente depreciado como “trabalho de jeca”.

“Sendo que no campo você pode ter inovação, não mais da forma que era do tempo do meu pai, por exemplo. Que hoje tem muitas outras inovações. Tanto na forma de secar o cacau, na forma de transporte ou na forma de roçar, com roçadeiras que existem sem ser o biscó –  como a gente fala, que é um facão imenso que serve para roçar de forma manual”, comemora Rafaela, mostrando que no campo além de nascer raízes e frutos, também podem surgir ciência e inovação.

*  Essa é mais uma reportagem sobre a cadeia produtiva do cacau, que integra a série de reportagens sobre as principais cadeias produtivas do Nordeste. Acompanhe!

**Editado por Solange Engelmann