Assentados do RS denunciam pulverizações ilegais em suas lavouras agroecológicas

Avião fumigador da granja vizinha vem constantemente pulverizando agrotóxico nas casas, plantios agroecológicos e vegetação nativa do assentamento no RS
Produção orgânica das famílias Sem Terra é prejudicada por pulverização de agrotóxicos de terceiros no Rio Grande do Sul (Foto: Divulgação – MST/RS)

Por Maiara Rauber
Da Página do MST

O Assentamento Santa Rita de Cássia II, de Nova Santa Rita, na região Metropolitana de Porto Alegre, vem sofrendo prejuízos constantes em suas produções agroecológicas. O motivo é o agrotóxico usado na produção de arroz na Granja Nenê, que faz divisa com o assentamento e que pulveriza veneno através de um avião fumigador em suas lavouras. Esse avião tem ocasionalmente dispersado veneno sobre o território do assentamento.

Nos dias 11 e 12 deste mês de novembro, 20 das 100 famílias assentadas perderam seus alimentos orgânicos após um avião utilizado para fumigação de insumos químicos passar por cima de suas casas, hortas, aquíferos, pastagens, pomares de árvores frutíferas e vegetação nativa.

Não é a primeira vez que a granja vizinha pulveriza agrotóxico sobre o assentamento; assentados têm realizado denúncias e solicitando ações do poder público (Foto: Divulgação – MST/RS)

Segundo Graciela Almeida, assentada e produtora agroecológica, os próprios camponeses começaram a passar mal em decorrência dessa pulverização. “Estamos indignados com o acontecido, porque seja intencional ou não, o fato é que tivemos prejuízos na saúde, na produção, no ambiente, na vida dessas famílias”, destaca a Sem Terra.

O Assentamento Nova Santa Rita de Cassia II sofre com o agrotóxico de terceiros constantemente (Foto: Divulgação – MST/RS)

As famílias relatam que isso já ocorreu em anos anteriores, mas nenhuma medida foi tomada por parte das autoridades. Logo após a contaminação, foi registrado Boletim de Ocorrência nos órgãos competentes como a Polícia Civil, e a denúncia foi repassada para as secretarias municipais de Meio Ambiente, Agricultura, Saúde, Prefeitura Municipal, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Grupo Gestor das Hortas Micro Nova Santa Rita, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Secretaria de Agricultura do Estado.

“Exigimos investigação, justiça, reparação de danos, e uma legislação ambiental que aborde as necessidades de um município que é conhecido por ser a Capital da Agricultura Orgânica”, enfatiza Graciela.

No dia 26, os assentados se reunirão com Margarete Ferretti, prefeita de Nova Santa Rita, Marli Castro, secretário da Agricultura e Ieda Bilhalva, secretária do Meio Ambiente. Estarão presentes na reunião técnicos da Emater, que devem ajudar a exigir uma ação da administração municipal diante desses fatos graves que ocorreram.

Nesta sexta-feira (27), Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo e membro da Associação Brasileira de Agroecologia (Abrasco), fará uma denúncia na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. E no dia 1º de dezembro, as famílias irão para a tribuna da Câmara de Vereadores do município de Nova Santa Rita. O objetivo é realizar uma denúncia e cobrar atitudes dos vereadores em relação à contaminação feita no assentamento.

Queremos o fim da pulverização aérea no município, Políticas públicas para os produtores orgânicos, punição aos culpados e ressarcimento dos danos causados. Precisamos também politizar esse debate com a sociedade, reforçar a importância da produção e da alimentação saudável, e pedir pelo fim do uso de venenos”, pontua José Carlos Almeida, assentado no Santa Rita de Cássia II.

Esses camponeses vivem dessa produção de alimentos saudáveis e orgânicos. Trabalham para a subsistência e participam de programas sociais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Em concomitância, comercializam seus alimentos nas feiras orgânicas de Porto Alegre e da região metropolitana.

“Apesar da estiagem, da pandemia, e todas as dificuldades econômicas com as crises, continuamos resistindo e produzindo alimentos saudáveis para a mesa dos brasileiros. Nós acreditamos e praticamos agroecologia como modo de vida e não só de produção”, finaliza Graciela.

Além da produção, muitas pessoas passaram mal devido a pulverização ter passado em casas e nas produções dos assentados (Foto: Divulgação – MST/RS)

*Editado por Ludmilla Balduino