Egídio Brunetto: Sua vida é seu legado!

Há 9 anos Egídio Brunetto morreu em um acidente de carro e deixou as trabalhadoras e trabalhadores Sem Terra seu exemplo de luta e resistência!

Por Sandra Procópio
Da Página do MST

Com a certeza de que somos herdeiros e herdeiras das lutas e experiências socialistas ancestrais, que ousaram questionar a estrutura produtora da ordem hegemônica, vigente e se engajar na reinvenção de um outro mundo possível, recuperar a memória rebelde de nossos socialistas, torna-se um ato de resgatar nossa identidade, e o nosso lugar de pertencimento na histórica luta de classes!

O nome Egídio, em grego significa: “aquele que protege”. Egídio Brunetto nasceu em 08/11/1956, e muito jovem indignou-se com as imensas injustiças sociais e econômicas, e engajou-se na Pastoral da Terra, em Xanxerê-SC, e em seguida, na luta dos trabalhadores Sem Terra, se tornando um dos fundadores do MST na década de 1980.

Com um espírito despojado, migrou para o estado de Mato Grosso do Sul , colaborar na construção das lutas camponesas que se acirravam em tempos de pós ditadura militar no Brasil. Casou-se com Atiliana, mulher lutadora e filha da etnia terena, com quem teve Giovani Ernesto e Anahí, além de muitos amigos e amigas!

Brunetto durante entrevista.
(Foto: Reprodução/TV Morena)

Há 9 anos Egídio Brunetto morreu em um acidente de carro deixando as trabalhadoras e trabalhadores Sem Terra seu exemplo de luta e resistência. O militante sofreu o acidente rodoviário em 28/11/2011, na frente do Assentamento Itamaraty, em Ponta Porã (MS), enquanto se deslocava para discutir sobre milho crioulo com a comunidade assentada.

Egídio Brunetto,  com certeza, foi um dos socialistas intelectuais orgânicos da nossa classe!  Mente brilhante, bom humor sempre, coração generoso para compartilhar conhecimentos, solidariedade com as lutas do campo e cidade. Além do zelo pela militância, conhecimento profundo sobre vários assuntos, era capaz de enfrentar e liderar todos os tipos de situações!

Características do legado de Egídio:

Destaco três características pessoais que fazem parte do seu legado, e que seguem apontando os rumos sobre quem somos como Movimento Social do Campo.

  1. Era o ano de 1997, e no I Encontro Estadual de Jovens do MST, no campus da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), ele chamou o Sem Terra Silvinho e disse: “olhem o Silvinho, ele morava embaixo da ponte, não tem dentes na boca, é negro, não sabe ler e nem escrever.  Ele é um excluído, ele não importa para o sistema! Mas para o MST ele é muito importante, ele tem aqui um lugar para ser gente! Aqui ele declama poesia, ele é respeitado! Esse é o verdadeiro papel do MST: acolher os excluídos!”. Isso nos ensinou qual nosso lugar, enquanto MST na luta de classes!
  2. Egídio amava e multiplicava as sementes crioulas. Viajava muito e se encantava com as sementes tradicionais, a alimentação de cada povo, e sempre trazia algumas sementes consigo. Era comum ver seus bolsos com sementes para doar, e sempre orientar que plantasse e doasse. Se preocupava com a fome que em diversos lugares, e de como ela nos mostra a face cruel do sistema. Ele nos ensinou o valor das plantas e dos alimentos!
  3. Egídio foi um internacionalista, uma das pessoas que colaborou para construção da Via Campesina e da Coordenadoria Latinoamericana de Organizações Camponesas (CLOC)! Defendia nossa América Latina, a união mundial do campesinato e denunciava o imperialismo sobre nossos territórios! Sempre que podia lá estava nas rodas de conversa ou nas noites culturais, nos explicando sobre os modos como as pessoas viviam em diferentes partes do mundo! África, Ásia, Europa, América Latina… todos os lugares com camponeses e todos com conhecimentos para compartilhar! Egídio usava muito a sua frase favorita, “Globalizemos a luta, globalizemos a esperança”! Ele nos ensinou o valor do internacionalismo!

Egídio nos deixou importantes lições, seu verdadeiro legado acumula conteúdo à nossa luta humanista e socialista! Gratidão Egídio!!!

“Egídio, presente, sempre, sempre, sempre”!

*Editado por Solange Engelmann