Vitória do campo popular em Belém aponta alternativas à esquerda

Unidade popular no campo da esquerda, trabalho de base permanente e renovação da política são caminhos apontados por lideranças dos partidos e movimentos populares na superação da barbárie fascista-bolsonarista no Brasil

Por Carol Azevedo, Comunicadora Popular do MST/Regional Amazônica
Da Página do MST

Com a eleição de Edmilson Rodrigues (PSOL) e Edilson Moura (PT) e a derrota do Delegado Federal Eguchi, do Patriota, na disputa do segundo turno em Belém/PA, com 51,76% dos votos válidos, a Capital do Pará nos deu uma lição importante para 2022: em uma sociedade ideologicamente e politicamente polarizada e com uma expressiva tendência conservadora por boa parte dessa população, a construção política que tenha compromisso com os interesses e demandas do povo, associada a uma crítica contundente da barbárie fascista-bolsonarista em nosso país, é um lugar político que pode ser ocupado com vantagem pelo campo progressista e popular. E pode se tornar uma alternativa para derrotar o conservadorismo nas urnas, seja nas eleições de 2020 ou 2022.

Nessa campanha construída, sobretudo, a partir da militância nas ruas, com protagonismo dos movimentos populares, o MST Pará foi central na construção deste campo vitorioso em Belém. Jane Cabral, da Direção Nacional do MST, faz um balanço dos acúmulos dessas eleições para esquerda na região e nacionalmente. “As eleições de 2020 marcam a primeira eleição após 2018, na qual Bolsonaro se elegeu presidente. Essas eleições municipais seriam o momento de Bolsonaro nacionalizar e consolidar seu projeto para o Brasil, criando bases nos municípios com representantes do bolsonarismo nas gestões municipais, e o que vemos em todo o país foi uma grande derrota de Bolsonaro, com o fracasso de praticamente todos os candidatos apoiados por ele”.

Jane Cabral, Direção Nacional do MST. Foto: Comunicação MST/Regional Amazônica

Jane continua, apontando outros elementos que foram centrais para vitória do campo popular na Capital. “Belém seria uma possível Capital para eleger um candidato apoiado diretamente por Bolsonaro. Desde o primeiro, mas principalmente no segundo turno, a militância de esquerda foi pra rua nessa coligação de ‘Belém de Novas Ideias’, que conseguiu acumular não apenas o PSOL e o PT, mas também o PCdoB, o PV, entre outros partidos e movimentos populares, como MST, MAB, a Consulta Popular, uma junção dos movimentos populares e partidos para construírem essa campanha. E nossa construção significou voltar para os bairros, sobretudo, os mais periféricos, para fazer o trabalho de base, de porta em porta, trazendo a memória do povo que viveu as gestões do Edmilson no executivo de Belém durante oito anos pelo PT, mas também aproximando a juventude do nosso projeto”.

A união da esquerda, a politização como centro do debate, a explicitação do projeto, a construção de compromissos com o povo e suas demandas reais em meio a maior crise sanitária dos últimos cem anos, junto à denúncia do fascismo bolsonarista, aliada a uma ampla construção do campo democrático e popular, construído a partir da militância, envolvendo até personalidades da cultura e política locais e nacionais, trouxe a política para o seu lugar e a esquerda para o seu lugar na política, nesta ultima eleição municipal em Belém.

Vivi Reis (PSOL), vereadora eleita mais votada de Belém em 2020 e agora Deputada Federal, assumindo a vaga na bancada do PSOL na Câmara Federal pelo Pará, indica os caminhos para 2022. “Nossa vitória foi muito apertada, uma diferença de aproximadamente 30 mil votos, mas que pra nós representou uma mudança na conjuntura política local e, acredito que nós seguimos a tendência nacional, em que grande parte dos municípios e capitais do país o bolsonarismo foi derrotado. Em 13 capitais mulheres negras, jovens e LGBTs, foram as mais votadas nessas eleições. Isso já reflete o quanto a primavera feminista e os levantes antirracistas internacionais repercutiram e tiveram reflexo nessas eleições de 2020.”

 Vivi Reis (PSOL), Vereadora eleita mais votada em Belém em 2020. Foto: Reprodução

A agora deputada federal, pontua que a campanha em Belém garantiu maior conexão com a realidade, as demandes da juventude e da classe trabalhadora. “Precisamos seguir construindo essa alternativa política com o perfil direcionado pro fortalecimento das lutas feministas, antirracistas, LGBTs, as lutas em defesa da Amazônia e dos seus povos. Acredito que pra 2022, ao longo desses próximos dois anos, temos que apostar na renovação da política. Porque a renovação da política não vai se dar apenas por novas caras, mas sim por um perfil que derrube tudo que tá posto em relação a essa velha política que vem sendo construída”.

Vivi relembra ainda que organizar uma identidade da classe trabalhadora, tanto regional quanto nacional é essencial para o reconhecimento e pertencimento do povo ao projeto político para 2022. “Pra gente, é necessário demarcar uma identidade enquanto classe trabalhadora, para combater os políticos que vão contra os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras. Nossa expectativa é construir mandatos conectados com os movimentos, com o ativismo, com uma politica que não seja dos ricos, dos empresários e dos banqueiros, mas sim, uma política que seja das feministas, do povo negro, da periferia, das LGBTs e dos e das trabalhadoras”.

Bia Caminha (PT), Vereadora eleita em 2020 mais jovem na história de Belém

Bia Caminha (PT), a vereadora mais jovem eleita da história de Belém, em 2020 também defende que para combater a necropolítica é preciso enfrentar as mazelas geradas por ela. “Nossa cidade tem um histórico conservador muito forte, com heranças da escravidão e do período colonial muito latentes. Estávamos há 16 anos com gestões de direita na prefeitura e Belém elegeu Bolsonaro em 2018, apesar do Haddad ter vencido no Pará. É um fato que estamos em um país dividido, mas também é fato que a fome, a miséria, o desemprego e a necropolítica estão no dia a dia de todas as pessoas. É essa a agenda que tem que ser a principal pauta. E foi um pouco disso que elegeu Edmilson em Belém, a capacidade de dialogar sobre o concreto da vida. Por outro lado, se viu também a eleição de muitas mulheres negras de esquerda no parlamento municipal. Se do lado de lá se radicaliza a agenda bolsonarista, do lado daqui o povo não suporta mais se ver sub representado nos espaços de poder”.

*Editado por Solange Engelmann