Balaiada: retalhos da nossa história

A Balaiada na Província do Maranhão foi uma das mais sangrentas, envolvendo aproximadamente 3 mil rebeldes

Representação da Balaiada no Maranhão. Imagem: Reprodução

Por Zé Luís Costa
Da Página do MST

O período regencial da história do Brasil foi o período em que Dom Pedro I resolveu abdicar do seu trono de Imperador do Brasil e Dom Pedro II, ainda menor de idade não podia assumir o cargo. A solução prevista pela Constituição de 1824, era formar uma Regência até que D. Pedro II atingisse a maioridade, que eram homens ligados à nobreza.

Nesse período da história do Brasil, que durou mais ou menos 10 anos, houve grandes revoltas e rebeliões das categorias subalternas, na maior parte dos conchavos com as burguesias, que pertenciam a grupos de ideologias divergentes da monarquia. Eram grupos que, geralmente, pensavam de forma republicana, outros de forma mais liberal e alguns assumido, inclusive a posição de abolicionistas.

As estruturas hierárquicas do Poder monárquico no Brasil estavam abaladas causando revoltas na maior parte das regiões e províncias do país. Revoltas como a Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha na Província de Pedro do Rio Grande do Sul, entre 1835 a 1840. Bem como a Revolta dos Malês, na Província da Bahia em 1835; a Sabinada, na Província da Bahia, entre 1837 e 1838; a Cabanagem, na Província do Grão-Pará (1835 – 1840) e a Balaiada na Província do Maranhão, entre 1838 e 1841.

Cada uma das revoltas possuía suas reivindicações e objetivos, alguns em comuns, outros regionalizados, mas, a Balaiada na Província do Maranhão foi umas das mais sangrentas, envolvendo aproximadamente 3 mil rebeldes. Segundo alguns historiadores, a Balaiada também se espalhou pelas províncias (hoje estados) do Piauí e Ceará. No Maranhão, iniciou-se, historicamente, na cidade de Caxias, com a data histórica de 13 de dezembro, como o dia que marcou a revolta.

A revolta foi chamada de “Balaiada” por ser formada por homens, camponeses, escravos alforriados e escravos fugitivos, moradores de quilombos. Esses homens eram chamados de “balaios”, porque faziam um utensílio geralmente da palha do coco babaçu. E por confeccionarem esses objetos, apelidados de balaios. Eram homens excluídos dos processos político e histórico da época.

A Balaiada


A história, que muitas vezes foi oficializada, é cruel com vários personagens desse episódio. Sobretudo, no que se refere às suas origens. Um dos principais exemplos, é que até hoje prevaleceram os interesses, as ideias e a história oficial, escrita sobre a Balaiada no Maranhão, cheia de controvérsias, sendo seus redatores os representantes ligados à elite, que sempre esteve à frente das decisões políticas.

Uma das vertentes dessa história é de que as origens das revoltas passam pela lei dos prefeitos. O governador criou uma lei em que ele poderia colocar os prefeitos por nomeação e isso começa a causar insatisfação na população, principalmente porque atrapalhou o comércio do principal produto agrícola daquela época, o algodão. Nessa disputa política ideológica estavam dois grupos políticos de elite, porém, divergentes: os Bem-te-vis, que eram os liberais e os Cabanos, conservadores.

Os Bem-te-vis mesmo tendo representantes na elite da política e aristocracia na Província do Maranhão estavam insatisfeito com a política exercida pelos representantes superiores. Esse grupo era composto, principalmente, por latifundiários, que tinham alguns ideais liberais, dentre eles alguns abolicionistas e republicanos.

Segundo a história, ainda cheia de lacunas, o estopim da revolta foi quando o artesão, que era um dos líderes do movimento, Manoel dos Anjos Ferreira, o Balaio, acusou um oficial de ter abusado sexualmente de suas filhas. Após várias denúncias ele consegue mobilizar a população iniciando assim a revolta na cidade de Caxias. A revolta foi tão grande que os “balaios” controlaram toda a cidade.

Outro momento emblemático dessa revolta foi quando o vaqueiro Raimundo Gomes atacou a cadeia da cidade, juntamente com alguns parceiros e libertaram todos os prisioneiros, carregando, todas as armas e munições para darem continuação ao movimento. Segundo a história o que motivou o fato não foi simplesmente libertar por libertar, mas, porque o irmão de Raimundo estava sofrendo torturas. Foram dois fatos centrais que culminaram no início da rebelião.

Durante a revolta, surge também outra liderança, o negro Cosme Bento de Chagas, liderando aproximadamente 3 mil negros escravos fugitivos e alforriados, moradores de quilombos. Com essa força a Balaiada toma um rumo diferente, ao invés de ser simplesmente uma insatisfação de alguns por conta de injustiças pessoais, se torna um movimento político, contra as decisões de autoridades políticas. Com a liderança do negro Cosme, a Revolta da Balaiada ficou conhecida na história, justamente pelo uso de táticas de guerra e audácia em vários atos do seu grupo.

Várias foram as vitórias da Balaiada na história do Maranhão. Mas, a monarquia da época, gerida pela Regência, nomeou na história da revolta outro personagem, Luís Alves de Lima e Silva, conhecido posteriormente como Duque de Caxias. Com a vasta experiência de Luiz Alves de Lima e Silva, em 1841 a Balaiada foi derrotada, mas, ficando para a história, lembrada inclusive, com um memorial na cidade de Caxias. Uma homenagem ao negro Cosme e a Balaiada, simbolizando a resistência à luta por direitos sociais e principalmente contra a escravidão, que permaneceu até 1888.

MST conquistou assentamentos no território da Balaiada

Mapa centro de Formação e Escola do MST, no Assentamento São Domingos

Hoje o MST possui três assentamentos: o Assentamento São Domingos, Balaiada e Palmares, na cidade de Nina Rodrigues, que fora emancipada da cidade de Vargem Grande, em 1961, um dos palcos dessa história.

Esses assentamentos estão exatamente no setor onde ocorreram os vários confrontos da Balaiada. Segundo relato de alguns moradores, na região do Rio Munim existem ossadas de pessoas que se envolveram nessa história e lutaram na revolta. O Rio Munim separa a cidade de Nina Rodrigues dos assentamentos citados.

*Editado por Solange Engelmann