Agentes Populares de Saúde do Campo fortalecem a luta contra a Covid-19 no PR
Por Maria Izabel Grein*
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a orientação no MST foi cuidar do nosso povo. Cuidar da militância, mas, sobretudo cuidar e orientar as famílias acampadas e assentadas de todas as áreas de Reforma Agrária, sobre a necessidade do cuidado. “Não podemos perder ninguém para a Covid-19” tem sido a nossa meta no Setor de Saúde, desde março.
A orientação era seguir os protocolos estabelecidos pelas autoridades sanitárias: distanciamento social, uso da máscara, lavar as mãos seguidamente, fora de casa usar álcool gel 70º, evitar aglomerações. Foram canceladas todas as reuniões, cursos, encontros presenciais. A militância parou de circular e em muitos assentamentos e acampamentos, onde foi possível, foram restringidas as entradas e circulação de pessoas.
Mas como fazer as informações chegarem de forma segura para todas as famílias? E ao mesmo tempo irmos fazendo o debate de como cuidar melhor de nossa saúde cuidando do planeta, da terra conquistada, produzindo alimentos com relações de produção saudáveis e ao mesmo tempo promovendo a vida saudável em todos os sentidos? Que cuidados com seu próprio corpo e com os outros?
Frente a estas questões e espelhados na experiência da Periferia Viva de Recife, o Setor de Saúde, do MST do Paraná, em diálogo com a Direção Estadual do Movimento constrói a proposta da Formação de Agentes Populares de Saúde do Campo.
O objetivo foi de preparar militantes voluntários/as dos assentamentos acampamentos e setores para fazer trabalho de informação, orientação, e acompanhamento das famílias assentadas e acampadas, e, nas ações dos setores, sobre a Covid-19 (o que é, cuidado e prevenção); disseminar a necessidade do cuidado com o planeta, com a terra, consigo mesmo e com os outros como uma tarefa revolucionária; orientação sobre os cuidados com a saúde, produção e alimentação saudável, garantir a imunidade; organizar com as famílias lutas em defesa do SUS, de políticas públicas para garantir saúde das pessoas que vivem no Campo e de todos/as trabalhadores/as.
Organizamos um programa que vai para além das orientações e cuidados com relação a Covid-19. Iniciamos com as orientações para entender o que é o novo coronavírus, cuidados e como orientar as famílias – ação prática de iniciar seu trabalho como Agente Popular de Saúde do Campo, com método de trabalho de popular, avaliações, esclarecimento de dúvidas e problemas encontrados.
Mas a programação foi além. Fizemos uma introdução aos grandes temas que um agente de saúde popular precisa dominar, como: conhecendo o Sistema Público de Saúde do Paraná; Alimentação saudável; Elementos da fitoterapia; SUS – sem direitos não dá para ficar em casa; conhecendo o Setor de Saúde do MST; Saúde mental; Gênero, patriarcado e violência; A questão das drogas lícitas e ilícitas. No processo do curso fomos fazendo avaliações, trocas de experiências, retomando temáticas, trazendo outros temas de acordo com as dificuldades, problemas e interesses trazidos pelas companheiras do curso.
Se inscreveram para o curso 103 companheiras/os, e chegando no final do curso com 82 participantes, sendo 95% mulheres. Iniciamos as aulas em agosto e a última aula do ao foi no dia 11 de dezembro.
Todo o curso foi feito de forma online. Tivemos que vencer muitos obstáculos, a maioria mulheres e que só usava o celular para as redes sociais: aprender a usar a ferramenta; a internet no campo em geral é muito ruim e em alguns lugares não têm acesso, algumas se deslocam para a cidade participar das aulas; dias de chuva ou não têm internet ou fica caindo o tempo todo; organizar o curso, as aulas, as avaliações, as práticas tudo online foi um grande desafio. Foi preciso se reinventar.
No final de setembro, a direção do Setor e Coordenação Político Pedagógica (CPP) do curso entendeu a necessidade de ir nos locais onde os/as agentes estão atuando. Com todos os cuidados e seguindo os protocolos, uma equipe visitou os locais e se reuniu com agentes e dirigentes das brigadas onde se debateu o que entendemos por saúde, como ir fazendo este trabalho nos locais e como articular e organizar as pessoas que fazem trabalho de saúde nos assentamentos e acampamentos.
Em todos os locais encontramos os/as agentes atuando com muita garra e todos/as de forma voluntária. Também tivemos o entendimento que as diferenças regionais são muito grandes, a cultura, o estágio que está cada local, a forma de organizar a produção agrícola, a forma de organizar a produção da vida é diversa , e então ao organizar o trabalho de orientações e cuidados com a saúde esta realidade local precisa ser levada, em consideração.
Uma pergunta pode ser feita em todos os locais: o que gera saúde e o que gera doença neste acampamento ou assentamento? A resposta certamente será diferente em cada local e é a partir daí que podemos começar a conversar sobre saúde.
Temos a perspectiva de continuar a formação dos/das Agentes Populares de Saúde do Campo e a rearticulação do Setor de Saúde ainda online em 2021 e seguir o trabalho de prevenção, cuidado e luta por políticas públicas que cada vez mais são desmontadas pelo atual governo federal. Entendemos que saúde é a capacidade de lutar contra tudo o que nos oprime, por isso, nossa luta continua diária.
*Integrante da direção estadual do MST-PR