Um ano sem Ana Primavesi, pioneira da agroecologia

O MST, que tanto deve aos ensinamentos de Primavesi, seguirá seu legado em homenagem à mãe da agroecologia!

Ana Maria Primavesi em sessão de autógrafos na II Feira Nacional da Reforma Agrária – Julia Dolce

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Exatamente um ano após a morte da austríaca, lutadora e engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi, seus estudos sobre o manejo ecológico do solo continuam em nossos corações.

Sua relação intima com a terra e a natureza, procurando diagnosticá-la a partir do seu cheiro e da sua textura para observar o equilíbrio dos seus nutrientes, fez de Ana Primavesi uma referência nos avanços de pesquisas sobre o manejo do solo de maneira ecológica.

Vida e obra


Por décadas, Primavesi promoveu ensinamentos de forma definitiva a história da agricultura e da agronomia. A austríaca, que sobreviveu aos horrores do nazismo ao ser presa em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, migrou para o Brasil na década de 1950, iniciando sua carreira acadêmica e de atuação militante.

Primavesi foi uma das responsáveis pelos avanços nos estudos sobre o manejo ecológico do solo e sua difusão, tornando-se a pioneira da agroecologia no Brasil e na América Latina. “Ela cumpriu um papel de aproximar, superar essa fragmentação na relação do ser humano e a natureza, dando ênfase na questão do solo”, afirmou Nívia Regina, da Direção Nacional do MST.

A agrônoma foi a primeira mulher, em um ambiente científico dominado por homens, a defender a Agroecologia como uma ciência e, ao mesmo tempo, a considerá-la um saber popular praticado há séculos pelos camponeses.

“Ela compreendia o papel e a importância da agricultura familiar camponesa, no trabalho com o solo, no manejo com o solo, percebendo, principalmente, que nos solos tropicais há uma presença enorme de organismos vivos na qual a sua intenção, a todo momento, foi que cada um de nós percebêssemos que esses organismos precisavam ser tratados e sempre estão em movimento”, lembra Nívea Regina.

Estas contribuições para organização e sistematização do debate agroecológico junto aos camponeses e camponesas nas comunidades rurais, nos espaços acadêmicos e nos assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária, se consagraram em um marco, pois o dia 3 de outubro, data de seu aniversário, passou a ser considerado o Dia Nacional da Agroecologia no Brasil.

José Maria Tardin, do Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST, lembra que uma das questões centrais da obra de Primavesi é que o solo é um sistema vivo e nas condições ambientais e ecológicas das regiões tropicais a agricultura deve ser feita de forma absolutamente distinta daquela praticada em regiões de clima temperado.

“As contribuições científicas e técnicas de Ana e Artur Primavesi rompem com a dominação científica e abrem uma vastidão de possibilidades de campos de pesquisas para o estabelecimento de agriculturas de base ecológica efetivamente adequadas e necessárias para o Brasil e todos países tropicais. Reiteremos que são nestes países onde está a maioria da população camponesa responsável por 70% da produção mundial de alimentos, e onde está a porção maior da biodiversidade”, afirmou Tardin.

A engenheira agrônoma ensinou que as diversas doenças e pragas que crescem no mundo, têm relação com a agricultura convencional da monocultura, hoje chamada de agronegócio. “A agricultura convencional é a arte de explorar solos mortos. (…) As pessoas que comem agora estas colheitas, comem plantas doentes e também se tornam doentes. Uma planta deficiente somente pode gerar um homem deficiente e deficiência sempre significa doença. Por isso precisa-se a cada ano de mais leitos hospitalares”, explicou Primavesi.  

Centenário


O MST, juntamente com os movimentos populares do campo, agradecem a contribuição de Ana Primavesi para a organização e os avanços das práticas agroecológicas e no debate sobre a agroecologia no país e na América Latina. Todos, de forma geral, devem aos seus ensinamentos e seguiremos seu legado na luta pela Reforma Agrária Popular e pela agroecologia, como foi lembrado em nota oficial após a morte de Primavesi.

Assim, em outubro de 2020, comemoramos o centenário de Ana Primavesi como a pesquisadora da agroecologia no Programa Comida de Verdade, produção do MST que tem como objetivo apresentar a sociedade a cadeia produtiva do Movimento, trazendo pautas de campo e da cidade de todo o país.

A partir de poesias, depoimentos, músicas e imagens, o programa ressaltou a contribuição inestimável de Primavesi, ressaltando sempre a agroecologia como um modo de vida que impacta todos os seres, além de trazer o debate com Carin Primavesi, filha da agrônoma.

Confira o programa na íntegra:

Publicações


Em homenagem a sua trajetória, Primavesi recebeu vários prêmios, entre eles o One World Award, principal título de agricultura orgânica mundial. Ela publicou 11 livros, mais de 90 artigos científicos e colaborou com várias
publicações. Sua obra de maior destaque é o livro: Manejo Ecológico do Solo: a agricultura em regiões tropicais que promoveu uma revolução na agricultura ecológica tropical na América Latina.

Primavesi também publicou: A Convenção dos Ventos – Agroecologia em contos, Manual do Solo Vivo, Manual Ecológico de Pragas e Doenças, como destaca José Maria Tardin. “O maravilhoso é que esta obra não só é espetacularmente científica nos seus conteúdos, mas também poética, emocionante, que nos leva aos risos e lágrimas, que nos eleva ao magnânimo sentimento de pertencimento ao gênero humano e ao cosmos, e nos revigora na altivez campônia, de ser gentes dos campos, florestas e das águas”.

Outro destaque é a biografia da agrônoma, Ana Maria Primavesi – Histórias de Vida e Agroecologia, escrita pela agrônoma Virgínia Mendonça Knabben, que também é vendida pela editora Expressão Popular. Confira todos os livros da Expressão Popular de Ana Primavesi aqui.

*Editado por Solange Engelmann