Se a mulher participar a gente vai massificar!

Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer Participando sem medo de ser mulher!

Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra (2020), em Brasília.

Por Atiliana Brunetto e Lucineia Freitas
Da Página do MST

Estar, participar, construir, as mulheres Sem Terra sabem bem a diferença dessas três ações no processo de luta pela terra, pela reforma agrária e pela transformação social.

No processo histórico de construção do MST as mulheres sempre estiveram presentes, quando nas primeiras ocupações toma-se a decisão de fazer atividades massivas, envolvendo todas as pessoas das famílias e formando territórios de luta e enfrentamento, as mulheres são um número considerável, que estando nos acampamentos enfrentam a violência estatal, a violência privada, as dificuldades de estar em barracos de lonas, as carências e ausências. Mas, ainda sofrem também com a violência de gênero e em muitas situações com a violência doméstica.

Nesse momento, as mulheres estão na luta, são parte importante, mas ainda com desafios grandes para também participar e construir esses processos.

Em 1984, a realização do 1º Congresso Nacional do MST teve 30% de delegadas mulheres, e inicia uma articulação muito importante para garantir a participação na vida orgânica do Movimento. Com a realização da 1ª assembleia, as mulheres tomam a decisão de constituir grupos de mulheres em cada áreas de acampamento e de assentamentos, criando também as comissões municipais e estaduais de mulheres, definição que fazem parte das deliberações gerais do Congresso.

Esses coletivos foram se constituindo a partir das necessidades cotidianas dos acampamentos, principalmente as demandas do cuidado como a educação, a saúde, a alimentação. Essa construção garante a presença das mulheres, passo importante que leva ao estudo sobre a participação das mulheres nas lutas dos trabalhadores do mundo, a elaboração teórica das mulheres lutas e os desafios para pautar a luta de classe com a luta antipatriarcal. Até porque, nesse período, havia um certo consenso na esquerda que o foco era a luta econômica e que o patriarcado e o racismo seriam resolvidos após a revolução.

Foto: Sebastião Salgado/Arquivo

Os estudos, a articulação com outras organizações especificas de mulheres da classe trabalhadora, a construção de encontros nacionais e acampamentos de formação e luta, a significação do 08 de março para as mulheres trabalhadoras, tudo isso levou à necessidade de repensar as relações sociais e humana a partir dos valores de uma prática social revolucionária.

E foi estudando a questão de gênero que as mulheres Sem Terra se deram conta que precisavam envolver o conjunto da organização no debate e na construção de condições objetivas para garantir a participação das mulheres. Aprendemos que é participando que se eleva o nível de consciência e as mulheres na luta pela terra, avança na consciência política e na consciência de gênero. A partir dessa necessidade e de todo um processo de discussão interna, foi criado o Setor de Gênero no Encontro Nacional do MST de 2.000 em Goiânia – GO, fruto de uma longa trajetória de luta das mulheres Sem Terra por maior participação no MST.

A partir da efetivação do setor, dá-se um processo coletivo de construção das linhas políticas, sendo que no ano de 2002, no Encontro Nacional em Belo Horizonte foi a aprovação das linhas políticas do setor que inclui a paridade de gênero nos espaços efetivos de construção do Movimento:

– Em todas as atividades de formação e capacitação, de todos os setores do MST, assegurar que haja 50% de participação de homens e 50% de mulheres;

– Garantir que em todos os núcleos de base dos acampamentos e assentamentos tenha um coordenador e uma coordenadora que, de fato, coordene as discussões, estudos e encaminhamentos do núcleo, e que participe de todas as atividades como representante da instância.

Iniciando assim um processo de debate e afirmação da necessidade da paridade em todos os espaços, de nossa organização

Porém, o passo definitivo para garantir a paridade foi em 2005, com a aprovação da participação paritária das mulheres na Direção Nacional e demais instâncias. Assim, a direção nacional do MST, a partir de 2006, passa a ser composta por uma mulher e um homem de cada estado. Construção assumida também por alguns estados na composição das direções estaduais.

A conquista da paridade demonstra um acúmulo político e organizativo das mulheres no MST, e nos coloca novos desafios, dentre eles a formação permanente das companheiras, a afirmação da permanência necessária dos coletivos de mulheres, de forma a garantir as condições materiais e política da participação.

A participação das mulheres acumulou no conjunto do MST e de outras organizações do campo, para avançarmos na construção do Feminismo Camponês e Popular, como base de construção de um projeto emancipador para a sociedade.

Completando este ano 15 anos de implementação da primeira Direção Nacional paritária, alguns desafios permanecem, como a necessidade de potencializar a participação e o protagonismo das mulheres nas instâncias, em nossos espaços de formação, e em todos os nossos territórios.

E, novos desafios surgiram, vinculados com a crise estrutural do capital que estamos vivenciando, e com os impactos dessa crise sobre os sujeitos. Mas também vinculados ao projeto estratégico da Reforma Agrária Popular, na construção da agroecologia, de território livres de violência (de gênero, de etnia, geracional, ambiental), pautado pela construção do Projeto Popular com vida digna no campo e na cidade, concretizando uma realidade onde a solidariedade seja um pilar importante para a sociedades socialista

Com feminismo construímos o socialismo!

Mulheres em Luta, semeando resistência!

Mulheres Sem Terra Contra os Vírus e as Violências!