De Grão em Grão

Guardiãs de sementes: ancestralidade camponesa preserva vida sustentável

Além do equilíbrio ambiental, a riqueza da sementes crioulas garante diversidade alimentar
As mulheres são maioria entre os coletores de sementes crioulas. Foto: Reprodução Brasil de Fato

Por Nayá Tawane
Do Brasil de Fato

Garantir a sobrevivência dos cultivos, resgatar espécies de alimentos perdidos com a indústria alimentar, reconhecer a autonomia das mulheres do campo. Estamos falando sobre as sementes crioulas que são semeadas por verdadeiras guardiãs da biodiversidade.

Para contrapor a um sistema de destruição ambiental, mulheres camponesas preservam a terra e seus frutos, multiplicando essas sementes que são aqueles grãos que nunca passaram por processos de transgenia ou modificações em laboratórios. Todo o manejo respeita o tempo de regeneração da mata, garantindo a conservação da terra.

A agricultora e cientista agrária do norte da Bahia, Naara Carvalho, explica a história e ancestralidade feminina presente no cultivo de sementes crioulas.

“As mulheres têm um papel fundamental na história da manutenção das sementes crioulas. Desde o início da agricultura foram as mulheres responsáveis por essa revolução agrícola. Pois os homens saíam de casa e as mulheres ficavam para coletar os frutos e selecionar as melhores espécies”, explica.

Essa prática antiga entre as comunidades camponesas segue viva entre grupos de mulheres.

Eliane Righi é agricultora da Rede de Sementes do Xingu do Mato Grosso. Ela nos conta como essa prática promove uma emancipação financeira, ao mesmo tempo de um cenário de muitas dificuldades.

“O nosso trabalho, a agricultura familiar, os nossos produtos não são muito valorizados, porque as pessoas preferem ir ao mercado para comprar um pacotinho de suco, ao invés de comprar de nós, mulheres, que vendemos produtos naturais. De qualquer forma, dá sim uma renda, porém, ainda falta valorização”, alega.

Para fortalecer o trabalho dessas mulheres em meio à pandemia, a Rede de Sementes da Agroecologia iniciou um projeto no Paraná para comprar as sementes das produtoras, contribuindo com a renda dessas chefes de família.

Luiza Damigo faz parte da Rede e explica a importância da ação. “A gente está comprando sementes crioulas de famílias guardiãs e entregando essas sementes para outras famílias, camponesas, indígenas, quilombolas. assentadas da reforma agrária. Já foram 12 toneladas de cereais entre arroz, milho e feijão”, afirma.

Andrea Jantara é uma guardiã de sementes e participa do projeto da Rede de Sementes da Agroecologia. Ela expõe o papel essencial das mulheres nessa atividade.

“É a mulher que cuida a casa, seja cidade ou campo, ela que cuida das hortas, das plantas medicinais são as mulheres que coletam as sementes e guardam. É fundamental o nosso papel nesse sentido”, defende.

*Editado por Daniel Lamir, do Brasil de Fato