Kima Vive!
Mudas de árvores são plantadas em homenagem a Joaquin Piñero por todo país
Por Wesley Lima
Da Página do MST
Ipê, pitanga, umbuzeiro, araucária, cerejeira, baru, cajueiro, figueira, jatobá, mogno e copaíba são algumas das mudas de árvores plantadas desde a última sexta-feira (12/3) em homenagem a Valquimar dos Reis Fernandes, o Joaquin Piñero ou “Kima” para os amigos e militantes Sem Terra, após a notícia de seu falecimento na noite do dia 11.
O plantio de árvores foi acompanhado por músicas, poesias, mensagens de apoio aos familiares e pela simbologia da luta pela terra, a partir da bandeira vermelha, foice, enxada e facão em punho pelos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra.
As ações de plantio se intensificaram neste último sábado (13/3), a partir das 8h30, durante o velório e cerimônia de despedida do Joaquin. As mobilizações aconteceram nas cinco grandes regiões do país e em 24 estados e Distrito Federal (DF). Além do plantio ter mobilizado o MST em todo Brasil, houve o plantio de mudas também em Cuba. Fotos e vídeos com a hashtag #JoaquinPresente e frases como “Kima Vive!” foram utilizadas durante todo dia pela militância nas redes sociais.
Luiz Zarref, do setor de produção do MST e da coordenação do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, participou do plantio de mudas no DF. Para ele, Joaquin sempre foi conhecido pela persistência e alegria. “Conhecido por todos os estados por onde passou, Kima sempre teve na ponta da língua o debate do internacionalismo, da construção da transformação social na nossa América Latina e da relação com os povos do mundo que estão em luta. E quando nós pensamos em nos unir quanto a organização, enquanto MST, para fazer o plantio em homenagem a ele, esses elementos fundamentais se destacaram”, complementa.
Sobre a ação de plantar árvores, Zarref diz que mesmo em tempos de pandemia, o MST estaria fazendo uma “lembrança” ao Joaquin, tendo como base a mesma dedicação que ele teria em vida na luta popular. E continua: “O plantio de árvores tem essa característica de assumir a transformação no seu local, nos assentamentos e acampamentos, mas tendo a clareza também que estamos contribuindo para o mundo, para o Brasil, ao cuidar do ar, da água, do solo. Então é esse o sentimento que esteve presente nessa ação lindíssima de nossa organização para Joaquin”.
Vale destacar que o plantio de árvores está inserido na contramão de um contexto histórico de degradação ambiental. A destruição de florestas brasileiras tem se intensificado em 2020, por exemplo. Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o fogo no Pantanal já destruiu 15% da região, com 2,3 milhões de hectares da maior área úmida do mundo. Segundo o instituto, as queimadas registradas em 2020 são as maiores desde o início dos registros, em 1998. Foram quase 16 mil focos de incêndio, o pior ano da série histórica.
Pensando nisso, Zarref afirma que o plantar árvores como uma simbologia de resgate da trajetória do Joaquin é fundamental. “O MST, em diversos cantos do país, internalizou com muita beleza e orgulho essa ação, porque plantar árvores é uma ação que existe desde o início do Movimento Sem Terra junto do nosso povo. É assim que se conquista um pedaço de terra. Uma das primeiras coisas que nossas famílias fazem, além de fazer o barraco, de conseguir construir uma casa, além de ir colocando os seus primeiro bichinhos, as galinhas, os porcos, é plantar árvore; porque isso é a marca de que nós ficaremos naquela terra e será implementado ali um modelo de produção que respeita os seres vivos em sua totalidade”.
“Só que agora nós temos isso não só como uma ação cultural da nossa base, mas como um símbolo político da nossa luta. Plantar árvores tem se tornado uma ação, assim como romper as cercas do latifúndio, como produzir o nosso alimento saudável, assim como organizar uma cooperativa ou organizar a marcha. Plantar árvores tem se tornado essa ação bela, singela, mas potente, que dá característica política para o nosso Movimento nessa etapa da história da Reforma Agrária”, finaliza.
Luz Marin, do Coletivo Nacional de Juventude do MST, participou do plantio no estado do Ceará. Para ela, a simbologia de plantar árvores em homenagem ao legado de trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra é grande. “Num momento como este, em que temos tantas mortes e que temos uma devastação ambiental muito forte em nosso país, o plantio de árvores é uma simbologia tanto da perspectiva da planta ser esse renascimento e ser o símbolo dessa semente que vai renascer e vai brotar novos frutos, mas também dessa simbologia política que é hoje lutar pela meio ambiente”, explica.
Ela pontua também que a juventude Sem Terra tem um papel importante no Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” porque cabe a ela continuar o legado de lutas do MST e inovar sempre nessas formas de luta em cada conjuntura. “Essa conjuntura nos impõe a necessidade do isolamento, mas numa quarentena produtiva, essa [plantio de árvores] tem sido uma das ações que o MST tem potencializado nesse período”, conclui.
Confira algumas imagens do plantio de árvores pelo Brasil:
*Editado por Fernanda Alcântara