Comunicação Popular

A Rede de Comunicação Popular Sem Terra do Ceará e os desafios em tempos de pandemia

A comunicação teve uma tarefa gigante de diálogo interno e externo, a base assentada e acampada teve a necessidade de compreender a conjuntura adversa que passou e ainda passa o Brasil e o mundo
Foto: Antônio Conselheiro

Por Aline Oliveira
Da Revista Sem Terra Ceará

Desde de Março de 2020, o Brasil tem enfrentado a pandemia que já fez mais de 300 mil vítimas fatais. Durante todo esse período o MST tem se reinventado em seus diversos setores, com doação de alimentos saudáveis, doação de sangue, plantio de arvores, campanhas de combate a violência contra a mulher, os agentes populares de saúde, dentre tantas outras, todas estas ações estiveram presentes nos diversos espaços virtuais e nas ondas do ar, do MST, a nível regional, estadual, nacional e internacional.  

As áreas de Reforma Agrária, assentamentos e acampamentos foram palco da resistência do povo Sem Terra, com a quarentena produtiva, que possibilitou a doação de alimentos a quem tem fome nas periferias dos grandes centros urbanos desse país.

A comunicação teve uma tarefa gigante de diálogo interno e externo, a base assentada e acampada teve a necessidade de compreender a conjuntura adversa que passou e ainda passa o Brasil e o mundo, o maior desafio foi mantê-los informados de como se cuidar, como fazer os cuidados coletivos e como garantir a quarentena produtiva.

Para Andréia Caetano, militante do MST e Comunicadora Popular na Rádio 25 de Maio, “as nossas rádios desde sempre cumprem um papel importante nos nossos Assentamentos, sempre foi uma forma de  comunicar pelo ponto de vista da classe trabalhadora, de fazer debates políticos levar a informação até nossos assentados e assentadas, mas agora na pandemia ela foi imprescindível pra manter nosso contato direto com toda nossa base, levar até eles nossas atividades e ações que estão sendo realizadas, também teve a tarefa de desfazer muitas falsas notícias, e temos feito o trabalho de conscientizar sobre o isolamento social e os cuidados com relação a pandemia”.

No Ceará, onde está concentrada 50% das rádios comunitárias populares do MST, desde o início da pandemia, diversas ações foram realizadas: boletins de saúde com participação de profissionais da área, diversas lives, e uma das estratégias mais exitosas as transmissão de programas especiais sobre diversos temas em rede — todas as rádios transmitindo simultaneamente, nas ondas do ar, na web (app.RadiosNet), e nas redes Facebook e Youtube.

“As rádios comunitárias populares do MST Ceará nesse período tiveram um papel muito importante, principalmente devido o processo de distanciamento social, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa, então a programação das nossas rádios passaram a ser essa companhia diária das nossas famílias acampadas e assentadas, levando a diversidade cultural, músicas da luta, temas de extrema importância como saúde e prevenção, privatização dos assentamentos, conjuntura política e agrária, e foi fundamental manter esse contato direto com nossa base, já que as atividades presenciais foram suspensas, o rádio de fato passou a ser um instrumento indispensável no diz respeito a tarefa do Sistema de Comunicação Popular Sem Terra, garantindo a formação, a informação e organização”, afirma Nacélio Santos, militante do MST, educador e comunicador Popular na Rádio Som da Terra FM, do assentamento Bonfim Conceição, em Santana do Acaraú.

Educação do Campo nas Ondas do Ar

Assim como o MST teve necessidade de reinventar as suas atividades, é importante destacar que as rádios tiveram um papel fundamental, a educação do campo também se apropriou da ferramenta para chegar até os educandos e educandas que tiveram limites com o uso da internet. Desde outubro de 2020 a Escola João dos Santos de Oliveira, localizada no Assentamento 25 de Maio no município de Madalena, passou a realizar debates acerca dos temas das aulas através da Rádio 25 de Maio FM.

Sandra Vitor, é militante do MST e diretora da Escola e relata “essa experiência foi algo enriquecedor para nós da gestão, para nossos educadores e principalmente para os educandos, iniciamos esse processo com a intenção de chegar onde nossos estudantes estavam, e tivemos uma recepção muito boa, nossos educadores e educadoras fizeram uma força tarefa para garantir bons conteúdos, é importante destacar que o rádio teve essa tarefa de inovar as atividades, obviamente os conteúdos chegaram também de forma impressa mais o rádio teve esse papel de subsidiar. Essa é uma experiência que mesmo pós pandemia, vamos continuar realizando debates e ocupando esse espaço, o papel da escola não é somente a sala de aula, mas precisamos cada vez mais extrapolar os muros da escola e levar conhecimento a todas as famílias assentadas e acampadas sobre diversos temas que nossa luta tem construído ao longo dos anos”.

Das sete rádios comunitárias do MST no Ceará, seis delas estão inseridas em assentamentos que tem escola de ensino médio do campo, e algumas experiências exitosas já têm ocorrido, a programação das rádios sempre envolve um programa específico da educação, conduzido por sujeitos que estão diretamente ligados a gestão e ao núcleo de educadores e educadoras destas. Lutar, Comunicar, Construir o Poder Popular!

*Conteúdo publicado originalmente na Revista Sem Terra Ceará e disponibilizado abaixo para baixar

**Editado por Fernanda Alcântara