Nota de Pesar

Alfredo Bosi, um dos nossos

Morre aos 84 anos, o escritor e um dos maiores críticos literários do país. Mais uma vida que se perde entre os 337 mil mortos pela Covid-19
Alfredo Bosi nos deixou um tesouro de valor imensurável. Foto: Divulgação

Da Página do MST

Perdemos nesta quarta-feira (07), um dos nossos para a Covid-19. Morre aos 84 anos, o escritor e um dos maiores críticos literários do país, Alfredo Bosi. É um mais que não conseguimos reter entre nós. Um entre os 337 mil mortos pelo vírus. Ele nos deixou um tesouro de valor imensurável. 

Bosi foi professor emérito da Universidade de São Paulo e membro da Academia Brasileira de Letras. De ascendência italiana, seu foco era vesgo: um olho precoce para a literatura italiana, o outro, mais maduro e reflexivo, apontando para a literatura e a sociedade brasileira. Para se adentrar na cultura dos seus antepassados, foi estudar em Florença. Tinha como referência a obra do mestre Antonio Gramsci. No Brasil combinou os estudos acadêmicos com um mergulho nos grupos operários de Osasco que acabavam de rasgar o silêncio imposto pela ditadura, junto com sua companheira Ecléa Bosi, que nos deixou faz quatro anos.  

A cabeça pensa onde os pés pisam. As lutas dos trabalhadores, nos bairros e nas fábricas, abriam possibilidades para o pensamento. As associações de mães, a solidariedade das famílias trabalhadoras, o pau na roda da acumulação eram indícios para entender a sociedade brasileira, não só pelo que ela é, mas pelo que pode ser. A sociedade também se sonha a si mesma. Tanto Ecléa, psicóloga social, como Alfredo, pesquisador crítico da estética, acharam, no tempo comum, também uma instância de reflexão. 

A ampliação do horizonte de percepção permitiu a Alfredo Bosi nos deixar uma volumosa obra para entender o Brasil. Destacamos duas, imprescindíveis: História concisa da literatura brasileira e o conjunto de ensaios Dialética da colonização. Sem elas, seria mais difícil nos localizar na linha do tempo e encarar aquele que nos foi dado, com seus desafios e possibilidades. 

Nos despedimos de ti, te agradecendo, companheiro, para te reencontrar na leitura de tuas obras. E prometemos: o povo desta terra não vai acabar, de puro teimoso.  

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

*Editado por Solange Engelmann