Juventude Sem Terra
Semeando arte e luta! Diário da Juventude Sem Terra: 6º dia de Acampamento
Por Diógenes Rabello*
Do Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra
Eita que só tem mais dois dias de Acampamento… está acabando, já dá para ver a galera se ajeitando nas barracas para aproveitar o máximo desses dois dias que encerram nosso encontro da juventude.
Hoje o dia foi lindo! No nosso alvorecer tinha gente de todos os cantos do Brasil. Tinha cantador (a), tinha fotógrafo (a), tinha poeta, cordelista, tinha cozinheiro (a), tinha educador (a). Tinha Juventude. Tinha gente.
Foi muita animação na barraca que eu estava. Chegou gente de todos os sotaques para cantar e dar “bom dia”. Aliás, por falar em bom dia, a gente começou embalados (as) por um “Bom Dia Companheirada!” mais que especial com a memória do Oziel Alves Pereira, nosso companheiro jovem que foi morto naquele episódio triste e revoltante na Curva do “S”, em 1996. Quem contou sobre essa lembrança foi a companheirada do estado do Pará: Beatriz Luz, Ricardo Luz, Waldomiro Machado e Ana Emília. Ainda teve a declamação da poesia do Zé Pinto “Oziel está presente”, nas vozes da juventude do acampamento Terra Cabana.
Aí a gente teve o tempo de estudo, esse foi um momento importante, onde a galera focou na leitura do texto “Terra”, de José Saramago. Esse texto nos provocou para olhar os problemas da nossa sociedade a partir dos nossos conflitos, entendendo que esses conflitos são inerentes ao modo de produção que domina a nossa sociedade. A gente não busca por misericórdia, a gente luta por “UM DIREITO QUE RESPEITE, UMA JUSTIÇA QUE CUMPRA”. E teve ainda a participação do companheiro João Pedro Stédile, da Coordenação Nacional do MST, que compartilhou com a gente a história do livro Terra, do fotógrafo Sebastião Salgado.
Em seguida entramos no “Tempo Formatura”. Quem trouxe uma contribuição linda para gente foi a companheira Maria Gorete, do estado do Maranhão. Ela apresentou uma reflexão sobre os valores de uma prática militante. Precisamos construir uma narrativa contra-hegemônica, partindo da compreensão histórica de três processos: colonialismo, escravidão e o patriarcado. Dominar o que foram e o que são esses processos históricos é fundamental para entender quais mudanças na sociedade nós precisamos encarar. Inclusive, a formação da nossa organização social, que surge a partir dessas próprias contradições no campo brasileiro e assim pautar o seu projeto na luta pela terra e por território, Reforma Agrária Popular e pelo Socialismo.
A nossa tarde foi bem movimentada. Foi momento da gente fazer as atividades nos nossos territórios em memória dos mártires de Eldorado do Carajás, pelo Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, contra a fome e por vacina. A gente plantou árvores, a gente desenhou faixas e embelezamos nossos espaços coletivos nos territórios.
E não tem forma melhor de fechar a noite do que uma atividade cultural e artística. Nossa juventude adora isso. Nos fortalece demais. Quem deu o tom pra gente foi a galera do Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira (Cinefront).
A gente participou abertura desse festival maravilhoso organizado pelos (as) companheiros (as) da região Amazônica, da Unifesspa. Foram três atos nesta abertura. Primeiro uma apresentação e acolhimento da organização do festival. Estava lá a companheirada da organização do evento e teve até a participação da nossa companheira Ayala Ferreira, militante do MST. Depois teve uma homenagem para Pureza Lopes Loyola, uma mãe maranhense que passou três anos de angústias e lutas para encontrar seu filho desaparecido.
Looyola, por onde passava, ao se deparar com casos de trabalho escravo no Maranhão e no Pará, fazia denúncias e tornava público os episódios de escravidão nessa região. Assim, se tornou uma das protagonistas na luta por direitos no Brasil. Sua história foi contada em um filme dirigido por Renato Barbieri. O filme, inclusive, fez parte da programação do festival.
Acompanhe as atividades lá pelo canal do Youtube do FIA Cinefront.
E veja o catálogo da programação AQUI.
Olha, já dá para notar o sentimento de despedida rolando. São só mais dois dias, tem muita coisa ainda para acontecer, mas já olhamos um(a) para o(a) outro(a) com lágrimas no cantinho dos olhos, guardando as memórias lindas que estamos recolhendo. Mas, o mais perceptível é o sentimento geral de indignação com esse governo, de vontade de ir para rua ocupar, marchar, gritar, cantar, lutar. Queremos e precisamos derrubar esse governo para salvar vidas. E essa juventude está comprometida em lutar contra o genocida.
Veja mais imagens do Plantio de árvores em todo o país:
*Integrante do Coletivo de Comunicação, Cultura e Juventude (CCJ) do MST Pontal do Paranapanema em São Paulo
**Editado por Wesley Lima