Desmatamento

Coca-cola adota Unidade de Conservação no Amazonas

Empresa atende ao chamado do governo Bolsonaro com a promessa de triplicar o orçamento anual da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Javari-Buriti, no Amazonas
Desmatamento na Amazônia brasileira em 2016: prenúncio de um retrocesso?
Desmatamento na Amazônia brasileira . Foto: Custodio Coimbra/Agência O Globo

Do Carta de Belém

No dia 28 de abril de 2021, mais uma empresa entrou para a lista das corporações do Programa Adote um Parque, do Governo Federal. Com a promessa de triplicar o orçamento anual da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Javari-Buriti, no Amazonas, o Grupo Coca-Cola resolveu “adotar” a Área, a primeira dessa modalidade no programa. Essa Unidade de Conservação (UC) fica no município de Santo Antônio do Içá, na bacia do Rio Solimões, e é rica em Buriti, espécie frutífera de áreas abundantes em água.

Com a justificativa de que a Adoção representará a melhoria da infraestrutura de apoio a UC, a Coca-cola, na verdade, está interessada em desenvolver uma marca “verde” e sustentável para o mercado, podendo abrir possibilidades de exploração do território. Isso porque o protocolo de intenções para Adoção, assinado junto ao Ministério do Meio Ambiente, pode permitir futuramente que a empresa possa receber contrapartidas na área, inclusive com o uso direto de parte das terras destinadas para proteção, de acordo com o Decreto nº 10.623/2021 que cria o Programa Adote um Parque. 

A modalidade de “Área de Relevante Interesse Ecológico”, segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, é uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza. Isso quer dizer que ao invés do Estado criar políticas de proteção de uma área tão importante para a manutenção e equilíbrio ecológico da floresta, está transferindo suas responsabilidades para a Coca-Cola. Pior ainda, o governo Bolsonaro que só desmonta as políticas, as remonta com o setor privado sendo o artífice da “proteção” e da exploração do benefício direto da mesma. 

Ainda que supostamente nenhum não tenha ocupação humana na ARIE em questão, isso gera mais questionamentos sobre a transparência da gestão e da exploração por parte da empresa. Após 02 meses de criação do Programa Adote um Parque, já são 08 Unidades de Conservação adotadas por grandes corporações na Amazônia legal, como o grupo Carrefour e a Heineken.