LGBT Sem Terra

Lançamento do livro: LGBT Sem Terra rompendo cercas e tecendo a liberdade

A obra conta a história do Coletivo LGBT Sem Terra iniciada há 6 anos pelo MST
Sereia da Cruz (MST/MA), mulher trans, Assentamento Conquista da Lagoa, Açailância, Maranhão. Foto: Rafael Stédile, 2017. Acervo MST.

Por Lays Furtado
Da Página do MST

A partir deste mês de maio – que marca no próximo dia 17, o Dia Internacional da Luta Contra a LGBTfobia – chega ao público o livro “LGBT Sem Terra rompendo cercas e tecendo à liberdade”, publicado pelo MST, abrindo a Coleção de Cadernos de Diversidade Sexual e de Gênero no Movimento.

O livro é a mais nova obra construída pelo Coletivo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans) Sem Terra, disponível nas livrarias das lojas dos Armazéns do Campo pelo Brasil. Como parte de vários eventos programados para seu lançamento, nesta sexta-feira (14) acontece no Instagram do MST o sorteio de um dos seus exemplares, e em junho haverá um ato virtual com convidados(as) e apresentação geral da obra.

A publicação enche os olhos com a diversidade das expressões levantadas pelas bandeiras do arco-íris. Com o ensaio de fotos exclusivas feitas em vários estados brasileiros com militantes LGBTs Sem Terra, registradas pelo fotógrafo Rafael Stédile, contando também com projeto gráfico do designer Guto Palermo e ilustrações dos artistas Carlos Maciel, Elias Pinheiro e Jackson da Silva. Toda sua elaboração foi feita de forma colaborativa, desde a organização e produção, que passaram pelas mãos de toda a vanguarda do Coletivo LGBT Sem Terra – contando suas histórias em primeira pessoa.

O prefácio assinado por Symmy Larrat, Presidenta da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) –  sinaliza que não é possível revolucionar o mundo escondendo nossas diferenças no armário, afirma a liderança LGBTI:

“A revolução vai ser colorida, com certeza, travestilizada, transgenerificada, sapatônica, enviadecida, mas, sem sombra de dúvidas, será camponesa, trabalhadora, negra, feminista, antirracista, ambiental, indígena e tantos outros marcadores que demonstram e provam que somos plurais, somos diversas e que sem essa diversidade não somos potentes o suficiente para derrubar o capitalismo, muito menos o patriarcado.” 

Uma Revolução Colorida!

Em 2021, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) comemora 6 anos do debate, organizado a nível nacional, sobre a diversidade sexual e de gênero no interior do movimento. Foi em 2014, durante seu VI Congresso, que emergiu o Coletivo LGBT Sem Terra. A partir da tomada de consciência coletiva da diversidade sexual e de gênero, da qual, sujeitos Sem Terra se reconheciam. Na ocasião, o MST reuniu mais de 16 mil militantes, sendo pertencentes de várias partes do Brasil e atuantes em diversas frentes do movimento.

Keno, gay Sem Terra (MST/PB), Assentamento Popular Vanderlei Caixe, município de Pedras do Fogo, Paraíba. Foto: Rafael Stédile, 2017. Acervo MST.

Este marco de criação do Coletivo LGBT Sem Terra é o que hoje possibilita a existência da obra lançada. Sendo mais que um registro histórico da construção do Coletivo LGBT Sem Terra do MST: um convite para a luta. Trazendo testemunhos em palavras, imagens e depoimentos de pessoas que ousaram existir e amar em tempos de ódio. E relatos de camaradas que, dentro de um movimento social camponês, enfrentam contradições para serem reconhecidas como sujeitos políticos, mas que, neste mesmo movimento, encontraram acolhimento e um lugar para o debate sobre a diversidade sexual e de gênero.

Partindo dessa perspectiva, Kelvin Nicolas, integrante do Coletivo LGBT do MST/SP, expressa que a luta pela terra passa intrinsecamente pela revolução da sexualidade e dos afetos:

“A construção de um projeto de Reforma Agrária Popular só é possível se compreendermos a sexualidade humana como parte fundamental da luta pela terra. A existência e resistência ativa desses sujeitos LGBT Sem Terra, que constroem o MST, é um alicerce importante no enfrentamento direto contra esse sistema patriarcal, racista e capitalista. Por isso, nós não voltaremos para o armário.”

Thais Paz do MST em RJ e uma das organizadoras do livro, conta que a obra é carregada de simbolismos e expressões da memória coletiva da luta, assim como de seus desafios: “Ele [o livro] foi escrito em memória também à Aline Silva, uma travesti Sem Terra militante do MST de Pernambuco, que foi assassinada em 2019. E é muito simbólico que ele seja lançado agora, logo após o assassinato do Lindolfo, outro militante nosso lá do Paraná. Então, é simbólico porque o Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo, mata mais do que países onde a homossexualidade ainda é proibida. É simbólico, forte e doloroso também, mas nos dá esperança de saber que a gente está construindo um caminho de libertação, um caminho que aponte um futuro revolucionário, que de fato supere todas essas violências que ainda nos cercam.”

Sobretudo, o livro narra o MST como a expressão da existência dinâmica da classe trabalhadora que, ao caminhar, entre derrotas e vitórias, se reinventa. E que a bandeira colorida foi sendo alçada e passou a se unir à bandeira vermelha do MST, anunciando que as cores do arco-íris também são socialistas – pois revolucionar é amar todas as cores. E o  amor que constrói revoluções é também uma arma para enfrentar a barbárie e o projeto de morte que impera nas relações capitalistas.

*Editado por Fernanda Alcântara