Nota de Pesar

Aline Maria, presente!

Em nota, MST em São Paulo se despede de Aline Maria, militante Sem Terra, vítima da COVID-19 e do governo genocida

Com profunda tristeza, consternação e um sentimento de indignação, o MST de São Paulo recebe a notícia do falecimento da companheira Aline Maria dos Santos Silva, aos 41 anos, vítima da Covid-19. Nascida numa família de luta, Aline iniciou sua trajetória de militância no Acampamento Laudenor de Souza, em 1997, na Regional Sudoeste, onde teve sua primeira filha (a segunda criança nascida no acampamento). Mais tarde, em 1999, com a mudança do acampamento para a região de Promissão, contribuiu na organização dos núcleos de base e na consolidação do assentamento, um território com muita produção de alimentos saudáveis, fruto da luta da classe trabalhadora, onde vivia atualmente.

Com os filhos crescidos, Aline realizou o sonho de voltar a estudar e, em 2015, ingressou no curso de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). Passou cinco anos distante da família, se dedicando aos estudos e foi aprovada no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) antes mesmo de concluir o curso. Com a mesma garra e persistência que iniciava sua carreira na advocacia, Aline tinha acabado de ingressar no mestrado em Direito também na UFPR.

Camponesa, mãe, advogada, Aline Maria foi uma ferrenha defensora da luta das mulheres e no combate à violência de gênero, contribuindo especialmente na Rede de combate à violência doméstica do MST em SP. Atualmente compunha a Direção Regional do MST de Promissão e contribuía no Setor de Direitos Humanos do MST no estado, numa importante e necessária tarefa de defender os direitos de quem luta por terra, trabalho e pão.

A partida precoce de Aline, assim como de tantas outras pessoas que perderam a vida na pandemia, nos indigna profundamente, pois interrompe um projeto de vida que estava apenas iniciando e que tinha tudo para ser de muitas conquistas. Perder uma companheira de luta para uma doença que já tem vacina nos dá a certeza de que é preciso lutar todos os dias contra esse projeto genocida do desgoverno Bolsonaro.

A nós fica seu legado da luta, do companheirismo, do seu espírito de pessoa justa, alegre e cativante, mas, sobretudo, da sua indignação a todo tipo de injustiça que acomete nosso povo. Toda nossa solidariedade a sua mãe Dona Lurdes, ao pai João Pintinho, aos filhos Karen, Renata e João Gabriel, ao companheiro de vida João Peixinho e aos irmãos Selma, Judite, Marcio, Eliete, Rafael e Samuel.

Cortaram meu galho. Meu galho alto e altivo, meu galho que via o mundo.
Meu galho que queria ser pássaro que quis voar, e voou…
Meu galho que quis ser sonho e mudar o mundo, e sonhou o sonho dos justos.
Meu galho que ousou ser gente, e como gente humana, mudou o mundo.
Sendo gente humana nos fez humanos, sendo galho deu frutos, e frutos que quer ser gente e nos fez fruto de sua luta para nos tornar humanos.
(Homenagem de Antônio Gringo de Assunção para a companheira Aline)

Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta!
Aline Presente, presente, presente!!!

Direção Estadual do MST em São Paulo
22 de maio de 2021