Fora Bolsonaro

29M e os próximos desafios pelo Fora Bolsonaro

A partir da perspectiva dos movimentos populares, confira alguns dados e reflexões sobre as manifestações do último sábado (29/05)
Fora Bolsonaro em Alagoas neste 29M. Foto: Ícaro Matos

Por Lays Furtado e Fernanda Alcântara
Da Página do MST

As manifestações do último sábado (29/5) pela vacina para todas e todos e pelo Fora Bolsonaro mobilizaram pessoas em 14 países. No Brasil, cerca de 420 mil pessoas em 213 cidades de todas as grandes regiões foram às ruas pelo impeachment do presidente Bolsonaro, marcando protestos massivos em todas as capitais do país e no Distrito Federal.

“Foi o movimento popular, o movimento sindical, os partidos, mas também uma parcela significativa da sociedade que não tem vinculação orgânica com movimentos ou entidades, essas pessoas foram também, voluntariamente, atendendo ao chamado”, afirma Débora Nunes, da coordenação Nacional do MST.

No maior protesto contra o governo durante a pandemia, manifestantes reafirmam nas ruas as tendências da opinião pública que vem sendo apontadas em pesquisa. “É uma demonstração de insatisfação com o governo Bolsonaro e com toda a sua política genocida, de retirada de direitos, de cortes sociais, enfim. A importância [do ato] se deu não só pela quantidade de municípios envolvidos, mas também pela representatividade e diversidade das pessoas que foram às ruas”, diz Débora.

Atualmente, a maior parte da população desaprova as competências da atual gestão do governo no Brasil, que chega a 45% de rejeição e apenas 24% de aprovação, pior índice de seu mandato, segundo dados do DataFolha, divulgados no último dia 12 de maio. “Há uma insatisfação generalizada com a política no Brasil, sobretudo no que se refere à Covid. Estamos nos aproximando de 500 mil mortos e apesar desse número ser crescente cotidianamente, nós não temos de fato nenhuma sinalização por parte do Governo que há uma mudança na política pra minimizar e enfrentar esse problema”, aponta Nunes.

Contudo, é necessário entender o balanço do ato para além dos números. Assim, além da saída do presidente, foi reivindicado a volta do Auxílio Emergencial de R$ 600 reais, com o lema Vacina no braço e comida no prato, como lembrou João Paulo Rodrigues, da Direção Nacional do MST, durante o ato. “É um clima de preocupação com o vírus, mas de preocupação maior ainda com o governo Bolsonaro, com a fome e com a falta de vacina. Mas vamos para a luta”.

Atualmente, a insegurança alimentar e a fome severa estão presentes em 6 a cada 10 lares brasileiros, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), em pesquisa feita ainda no final de 2020. Com o povo na rua pelo Fora Bolsonaro, fica evidente a insustentabilidade de seu mandato, que deve se fragilizar ainda mais ao longo dos próximos meses. Diante disso, a perspectiva é que o governo seja forçado a abrir os cofres para atender as demandas emergenciais, das quais, estão sendo reivindicadas nos protestos deste final de semana.

Pressão política

Os gastos com o Congresso Nacional também tendem a aumentar e custar mais do que os 3 bilhões de reais levados por emendas parlamentares, no escândalo orçamentário chamado de “Tratoraço ou Bolsolão”, que favoreceu à eleição de Arthur Lira (Progressistas) – apoiado por Bolsonaro – na presidência da Câmara dos Deputados(as). O caso está sendo investigado pelo subprocurador-geral do Ministério Público, Lucas Furtado junto ao Tribunal de Contas da União (TCU).

“A fatura do centrão para o governo deve ficar mais cara. Serão cobradas medidas que possam recompor o apoio nas eleições, com o aumento de gastos públicos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, de acordo com nota de jornal, estaria convencido da necessidade de abrir o cofre. Valdemar da Costa Neto, presidente do PL e conselheiro de Bolsonaro, propôs retomar o auxílio emergencial de 600 reais”, afirmou Igor Felippe na análise 10 Pontos sobre o #29M pelo “Fora Bolsonaro”.

“Isso vai também alterando a correlação de forças, porque o governo não esperava uma mobilização com essa envergadura”, lembra Débora Nunes. Com o apoio da presidência da Câmara, Bolsonaro tenta garantir atualmente o engavetamento dos centenas de pedidos de impeachment contra ele. Segundo o levantamento feito pela agência de jornalismo investigativo A Pública. “Ao todo, 1.492 pessoas e mais de 500 organizações assinaram pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Até agora, apenas 6 pedidos foram arquivados ou desconsiderados. Os outros 112 aguardam análise”, consta no dossiê.

Analistas políticos concordam que a junção do aumento crescente e expressa nas manifestações é uma receita que retroalimentará à caída do presidente, que também míngua suas chances de suceder o poder nas novas eleições. A descoberta de irregularidades de corrupção que estão sendo apuradas pelo TCU também devem dar peso para que se aumente a pressão popular pelo impeachment.

Resta agora às frentes populares que mobilizam os protestos em encontrar os caminhos possíveis para manter o calor das manifestações, considerando estratégias eficazes para combater o contágio do novo Coronavírus e à ameaça que mais mata à população, que figura hoje no desgoverno do atual presidente.

“Foi essencial a cobertura por parte da mídia social, da mídia de esquerda, e os diversos meios de comunicação, sobretudo a parte das redes, porque isso deu uma abrangência ainda maior aos atos. E porque, quem não pôde estar nas ruas, esteve através das redes sociais apoiando, se manifestando, também e participando desse processo”, lembra Nunes.

Truculência policial e discurso de ódio

Em algumas cidades também foram registrados protestos contra à violência policial. Em Juazeiro do Norte, Ceará, a Polícia Militar interrompeu a manifestação, e intimidou manifestantes com ataques verbais e engatilhamento das armas, enquanto rasgavam as intervenções de protesto em lambe-lambes, onde se lia: “Fora Genocida”. Em Recife, Pernambuco, durante ato pacífico duas pessoas perderam parcialmente à visão, após serem atingidas com balas de borracha. Entre eles, Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, adesivador de táxis, e o arrumador Jonas Correia de França, de 29 anos.

Outras agressões por parte da polícia foram registradas, entre elas, a queixa da vereadora Liana Cirne (PT), que foi atingida com spray de pimenta no rosto, enquanto tentava dialogar com policiais pedindo o fim das agressões aos manifestantes. Roberto Rocha Leandro, presidente da Comissão de Direito Parlamentar da Ordem dos Advogados do Brasil de Pernambuco, foi atingido com 4 tiros de balas de borracha. Ednaldo Pereira de Lima, de 58 anos, também foi atingido por bala de borracha na perna esquerda e socorrido ao Hospital da Restauração. E outros 4 manifestantes negros foram detidos pela polícia.

Ainda no sábado (29), a vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) afirmou, pelas redes sociais, que a ação da força policial não foi autorizada pelo Governo do Estado. Após a repercussão das violações, o Governador Paulo Câmara (PSB) realizou pronunciamento público informando lamentar o ocorrido e que o comandante da PM e outros 4 policiais envolvidos nas agressões foram afastados enquanto durar a investigação da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social.

Os casos estão sendo apurados pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) que também publicou a portaria nº 009/2021-7ºPJ-DH que instaura inquérito civil para investigar violações de direitos humanos. Enquanto o governo promete que os trabalhadores atingidos com tiro nos olhos – que nem sequer estavam na manifestação – estão sendo assistidos e serão indenizados.

Débora Nunes ressaltou que o negacionismo, o acirramento da violência e o discurso de ódio promovidos pelo governo afeta efetivamente os mais pobres e o povo preto da periferia, mas lembra que as perspectivas são boas. “Há uma tendência também das organizações de pensar processo mais permanentes de diálogo com a população, principalmente nas periferias. Podemos ter uma crescente no sentido de resolver os problemas do povo brasileiro, mas que passa necessariamente pela derrubada do governo Bolsonaro”.

Nunes destaca que a Política do Governo Bolsonaro para a Reforma Agrária é de paralisia, e estímulo de discurso do ódio, negação de direitos, além da tentativa de simplesmente titular os assentamentos. “Nosso movimento também está ansioso para que todo o povo possa vacinar e reocupar as ruas. Por ora, vamos aos poucos, remarcando posição, e construindo com o conjunto da classe trabalhadora para que a gente possa derrotar o vírus, mas também derrotar esse governo genocida”, concluiu.

Confira a galeria completa das manifestações:

*Editado por Solange Engelmann