Saúde
Em encontro, bruxas e bruxos do MST reafirmam o propósito de cura pelo bendizer
Por Maura Silva
Da Página do MST
O milagreiro não tem profissão,
É curandeiro por dedicação,
Vai milagreiro;
Curar minha gente…
(Banda de pau e corda)
Arruda, guiné, boldo e goiabeira. O poder da cura brota do chão e está ao alcance de nossas mãos. Trabalha o corpo, a alma e o coração, trata espinhela caída, mal olhado e esporão. A acupuntura devolve o equilíbrio, o chá aquece o coração. Escalda os pés e faz unguento, escora na fé, fecha os olhos e consagra o momento.
Foi reverenciando o poder da natureza e das ervas medicinais, que, na tarde do último sábado (19/6), cerca de 160 pessoas de todo o país se reuniram no Encontro de Bruxas e Bruxos do MST.
Durante a atividade que – aconteceu de maneira on-line em respeito aos protocolos de segurança -, foi debatida a importância do resgate popular que usa o que está na biodiversidade em prol da saúde.
No dia em que o Brasil bateu a triste marca de 500 mil mortes pela pandemia de coronavírus, o encontro que discutiu saúde, cura pela natureza e fé foi um bálsamo em meio ao genocídio protagonizado pelo governo Bolsonaro.
Bruxas e bruxos do passado e do presente
As bruxas e bruxos são aquelas e aqueles que dentro do setor de saúde do MST se dedicam ao saber popular e o utilizam para cuidar da saúde nos acampamentos e assentamentos de Reforma Agrária do Movimento.
Os tratamentos não substituem a medicina tradicional nos casos em que essa se faz necessária, mas, complementam sua atuação, fortalecendo a interligação entre corpo e mente.
E foi nesse sentido que Vavá, integrante do setor de saúde no estado da Bahia fez a sua fala. Ele frisou a importância de manter o equilíbrio do corpo e lembrou que a manutenção da saúde dentro do Movimento Sem Terra começa pelo cultivo dos alimentos.
“O cuidado com saúde começa no consumo de alimentos plantados em uma terra sem veneno, por mãos que respeitam a mãe natureza e tudo o que ela nos oferece. Esse é o papel que o Movimento Sem Terra cumpre”, disse.
Sua intervenção vai de encontro a um dado alarmante, o consumo exacerbado de agrotóxicos é uma das principais causas de doenças entre os brasileiros. Um exemplo disso, é o glifosato, veneno mais usado no país, que foi classificado em 2015 pela Organização Mundial de Saúde(OMS) como grau “A2”, o que o coloca na categoria de “comprovadamente cancerígeno para animais e seres humanos”.
Durante a atividade a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) também esteve presente, as bruxas e bruxos reafirmaram a importância de seguir firmes na luta pela saúde pública e de qualidade, atrelada à medicina integrativa.
O Movimento Sem Terra através do setor de saúde tem o papel de resgatar, ampliar e compartilhar o conhecimento de modo que as pessoas se apropriem da sabedoria milenar que herdamos. Através da solidariedade é que nós iremos salvar a vida das pessoas, concluiu Rosangela Santos, militante histórica do setor de saúde do MST.
*Editado por Solange Engelmann