Marmita Solidária

MST, Rede Rua e Armazém do Campo distribuem 100 marmitas, agasalhos e cobertores em noite fria de São Paulo

Na última madrugada, em que o termômetro marcou 7 graus nas ruas de São Paulo, foram distribuídas marmitas, roupas e cobertores para população de rua no Centro da cidade.
Marmita Solidária da Reforma Agrária Popular para alimentar a população em situação de rua. Foto: Manuela Hernández

Por Alessandra Monterastelli
Da Página do MST

Eram 17:30 de quinta-feira quando a kombi do Armazém do Campo foi equipada com marmitas, sacos de roupas e cobertores para partir em direção ao Brás – bairro historicamente operário da cidade. “O Armazém, junto ao MST, tem se dedicado muito as ações de solidariedade” disse antes da partida Ademar Ludwig, coordenador do Armazém do Campo de São Paulo, que completa 5 anos.

“Esse trabalho ao longo de 5 anos contou com muita ajuda de toda nossa militância e de nossos companheiros e companheiras do mundo urbano, que aqui na nossa loja tem acesso ao alimento saudável produzido nos acampamentos e assentamentos Brasil afora”, agradece Ademar. “Esperamos que as quentinhas ajudem a salvar vidas que esse governo genocida vem tentando tirar”, declarou.

Preparação das marmitas solidárias no Armazém do Campo, em São Paulo. Foto: Manuela Hernández

A kombi foi até a Chapelaria Social, espaço de convivência para a população em situação de rua desenvolvido pela ONG Rede Rua. A casa cedida pela Cúria conta com cozinha, refeitório, banheiros, lavanderia, sala com computadores para que os visitantes possam acessar a internet e chapelaria com armários para o armazenamento de pertences pessoais. Andreza do Carmo, Coordenadora da Rede Rua, diz que em breve haverá também um pequeno cinema: “Vamos instalar um projetor, assim conseguiremos fazer sessões de filmes”, conta. É também na Chapelaria que ocorrem reuniões de planejamento da Ocas, revista cultural que tem como objetivo gerar renda para pessoas em situação de rua. “Essas pessoas, que muitas vezes não conseguem entrar no mercado de trabalho, vendem a revista e recebem pela sua venda. A ideia é iniciar um processo de geração de renda”, explica Shirley Cupertino, assistente social da entidade.

“A gente percebe que a população em situação de rua chega bem fragmentada aqui, com seus direitos violados. Nós fazemos um trabalho de escuta, acolhida de orientação”, explica Shirley. A Chapelaria tem como principal objetivo, segundo a assistente social, o de garantir direitos básicos. No espaço, o público – em sua maioria masculino – pode lavar suas roupas, tomar banho, guardar seus pertences e “se sentir em um lugar seguro, sob um teto”. O projeto tem funcionado. “A maioria deles ajuda a preparar as refeições e se junta para limpar os espaços. Querem cuidar como se cuida de uma casa mesmo”, conta Shirley.  

Após as 19h, o comboio passa pelas ruas do Brás, Belenzinho e Largo da Concórdia, regiões onde está a população em situação de rua que opta por ficar mais afastada e que acaba por não receber doações ou acessar abrigos.  Além da kombi do Armazém, a Rede Rua operou com outro carro, rapidamente lotado com mais sacos de roupas e calçados para doação. “O primeiro carro é o mais importante. Quem está dentro identifica as pessoas em situação de rua que serão abordadas e, em seguida, os outros carros param atrás”, explica Joaquim Pereira, voluntário da Rede Rua, ao orientar os outros companheiros sobre a ação. “Precisamos abordar primeiro quem está sem barraca. Se nós estamos com frio dentro do carro, imagina quem está só com um cobertor”, conclui. Se após uma primeira conversa os mantimentos são aceitos ou requisitados, os outros voluntários são autorizados a descer dos veículos para a entrega de marmitas e roupas.

Kombi do Armazém do Campo em ação de solidariedade com a população de situação de rua na noite fria de São Paulo. Foto: Manuela Hernández

“Estamos falando de gente que corre risco de morte por hipotermia. Muitas vezes, essa pessoa pode estar muito alcoolizada. Nesse caso, precisamos ser intrometidos: chacoalhar, acordar ou até mesmo enrolar a pessoa em um cobertor sem que ela perceba”, explica Joaquim; “o grande objetivo de nossas ações é salvar vidas”, conclui.

Em uma praça perto de uma das entradas da estação Brás de metrô foi identificada uma concentração. Com a parada dos veículos e após uma primeira abordagem, iniciou-se a distribuição. Entre os atendidos estava Claudio, já conhecido pelos agentes da Rede Rua. “Muito boa noite”, ele cumprimentou; recebeu um casaco e uma quentinha. Em seguida, outros se aproximaram rapidamente.

Serão 8.000 marmitas distribuídas pela Rede Rua em parceria com o MST até o dia 3 de agosto, quando a meteorologia prevê a amenização da frente fria polar. As jantas estão sendo produzidas pelo Armazém do Campo em parceria com mais de 28 cozinhas espalhadas pela cidade. 

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*Editado por: Nieves Rodrigues